Manual Prático da Mulher Moderna
Foto: divulgação
Pra não perder tempo
Não sou mulher, nem me acho moderno. E, geralmente, tenho problemas com coisas práticas, preferindo, por exemplo, a crítica teatral ao palco mesmo. Ficar horas lendo sobre o assunto, pensando, escrevendo, apagando, escrevendo de novo é coisa que me agrada. Às vezes, até esqueço de ligar o ventilador e aproveito o suor para deixar claro que estou “malhando o cerebelo”. Mas, como um ser humano que não quer nada além de ser normal, como se eu já não fosse, me diverti, gargalhei e aplaudo o “Manual Prático da Mulher Moderna”, espetáculo da Cômica – Produtora Cultural.
Foi na faculdade que aprendi que não há nada mais tolo em termos de arte que ficar gastando tempo falando mal de blockbusters, da Sandy Júnior e do irmão dela (cujo nome eu desconheço), do Zorra Total, de Avatar e de tantos outros produtos artísticos que fazem sucesso embora não agrade os intelectualóides de Wikipédia por aí. Como os filmes dOs Trapalhões, o Chaves, a Hebe Camargo e as velhas novelas da TV Tupi, que foram desconsideradas pela elite pensante em seu tempo, chegará o dia em que serão produtos de colecionador. Então, pra quê esperar a peça sair de cartaz para falar bem dela?
Sim, Manual Prático da Mulher Moderna é um espetáculo comercial, vende puro entretenimento e, como já disse em outros momentos, “não é necessário ser nenhum doutor em filosofia para fruí-lo”. E, como todos os projetos teatrais, há dois jeitos de concretizá-lo: o bom e o ruim. Patsy Cecato escolheu o bom. Três atrizes e um ator compõem o elenco. Uma delas (Patrícia Soso) formada pela Scuola Internazionale Teatro Arsenale de Milão/Itália, outra (Márcia Ohlson) licenciada em Artes Cênicas pela UFRGS e o ator (Leornardo Barison) é formado pelo TEPA – Teatro Escola de Porto Alegre. O elenco, assim, não é de pessoas apenas bem intencionadas, mas profissionais que dedicaram e dedicam o seu tempo à formação. Vale dizer ainda sobre os atores que o trabalho de Soso pode ser visto atualmente em diversos outros espetáculos: Bailei na Curva, O Urso e Fora do Ar. O de Barison em Tá e aí?! e em Fora do Ar. O de Patsy em Se meu ponto G falasse e Stand up drama. O que deixa claro que experiência não falta a ninguém.
Construído a partir de teses sobre o assunto “Mulher”, tanto a casada (ato 1) como a solteira (ato 2), o texto não engana: é uma conferência em que três doutoras falam sobre o assunto. Quem gosta como eu de uma boa história contada do início ao fim fica um pouco prejudicado, mas não o suficiente para não receber bem o espetáculo que já está em cartaz há sete anos. Cada tese é “ilustrada” com uma cena dramática, como as próprias doutoras informam a respeito de sua metodologia. E ilustração é um ótimo nome, uma vez que diz respeito a um desenho que serve para re-dizer imageticamente algo que já foi dito com palavras. “Manual Prático da Mulher Moderna” é uma peça composta de ilustrações. E não há absolutamente nada de menor nisso.
Entre os dois atos, há uma passagem em que as doutoras Aglaé, Liége e Tânia Regina usufruem das suas condições de personagens e ganham vida. É quando o espetáculo atinge o seu melhor momento, patamar que será o ocupado até o final. O ritmo fica um pouco mais acelerado, as atrizes e o ator já conquistaram o público e se beneficiam do carisma que têm, a platéia está convencida de que não há nenhum problema em gargalhar alto tanto dos acontecimentos do palco, quanto dos seus próprios colegas assistentes (a platéia rindo da platéia).
Muito provavelmente porque as três personagens femininas formam um grupo, o destaque maior é o de Leornado Barison. Cada vez que o “elemento diferente” entra em cena, sente-se que o espetáculo fica ainda mais atrativo: “algo muito engraçado virá!” E vem! Sozinho, ele representa o universo não feminino – e que não é necessariamente masculino, mas também é. E representa de uma forma que, coerente com toda a proposta, só traz ganhos.
O que acima foi dito sobre ilustração pode voltar ao texto quando tratamos do cenário, figurino e luz. Tudo é funcional, tanto no que se refere ao uso, como no que diz respeito à estética. Embora se possa dizer que os objetos cênicos não precisavam estar com a ferrugem à mostra, o fato de não haver nada que perturbe nossa atenção ajuda a explicar o porquê dessa comédia fazer tanto sucesso há tanto tempo.
O fato real é que ficar tentando explicar o motivo do sucesso desse espetáculo, em forma de aplauso, é um jeito de pôr em prática o que aprendo em teoria. Mas deusolivre uma comédia sobre isso.
Se bem que...
Ficha Técnica
Texto: PATSY CECATO
(com a colaboração de MÁRCIA OHLSON, PATRÍCIA SOSO e XICA CAMPAGNA)
Elenco: MÁRCIA OHLSON, PATRÍCIA SOSO, XICA CAMPAGNA e LEONARDO BARISON
Cenário: NELSON MAGALHÃES
Criação de Luz: JÚLIO CONTE
Figurinos e Coreografias: PATSY CECATO
Trilha Sonora: FLU e DEFF RECLAME
Pra não perder tempo
Não sou mulher, nem me acho moderno. E, geralmente, tenho problemas com coisas práticas, preferindo, por exemplo, a crítica teatral ao palco mesmo. Ficar horas lendo sobre o assunto, pensando, escrevendo, apagando, escrevendo de novo é coisa que me agrada. Às vezes, até esqueço de ligar o ventilador e aproveito o suor para deixar claro que estou “malhando o cerebelo”. Mas, como um ser humano que não quer nada além de ser normal, como se eu já não fosse, me diverti, gargalhei e aplaudo o “Manual Prático da Mulher Moderna”, espetáculo da Cômica – Produtora Cultural.
Foi na faculdade que aprendi que não há nada mais tolo em termos de arte que ficar gastando tempo falando mal de blockbusters, da Sandy Júnior e do irmão dela (cujo nome eu desconheço), do Zorra Total, de Avatar e de tantos outros produtos artísticos que fazem sucesso embora não agrade os intelectualóides de Wikipédia por aí. Como os filmes dOs Trapalhões, o Chaves, a Hebe Camargo e as velhas novelas da TV Tupi, que foram desconsideradas pela elite pensante em seu tempo, chegará o dia em que serão produtos de colecionador. Então, pra quê esperar a peça sair de cartaz para falar bem dela?
Sim, Manual Prático da Mulher Moderna é um espetáculo comercial, vende puro entretenimento e, como já disse em outros momentos, “não é necessário ser nenhum doutor em filosofia para fruí-lo”. E, como todos os projetos teatrais, há dois jeitos de concretizá-lo: o bom e o ruim. Patsy Cecato escolheu o bom. Três atrizes e um ator compõem o elenco. Uma delas (Patrícia Soso) formada pela Scuola Internazionale Teatro Arsenale de Milão/Itália, outra (Márcia Ohlson) licenciada em Artes Cênicas pela UFRGS e o ator (Leornardo Barison) é formado pelo TEPA – Teatro Escola de Porto Alegre. O elenco, assim, não é de pessoas apenas bem intencionadas, mas profissionais que dedicaram e dedicam o seu tempo à formação. Vale dizer ainda sobre os atores que o trabalho de Soso pode ser visto atualmente em diversos outros espetáculos: Bailei na Curva, O Urso e Fora do Ar. O de Barison em Tá e aí?! e em Fora do Ar. O de Patsy em Se meu ponto G falasse e Stand up drama. O que deixa claro que experiência não falta a ninguém.
Construído a partir de teses sobre o assunto “Mulher”, tanto a casada (ato 1) como a solteira (ato 2), o texto não engana: é uma conferência em que três doutoras falam sobre o assunto. Quem gosta como eu de uma boa história contada do início ao fim fica um pouco prejudicado, mas não o suficiente para não receber bem o espetáculo que já está em cartaz há sete anos. Cada tese é “ilustrada” com uma cena dramática, como as próprias doutoras informam a respeito de sua metodologia. E ilustração é um ótimo nome, uma vez que diz respeito a um desenho que serve para re-dizer imageticamente algo que já foi dito com palavras. “Manual Prático da Mulher Moderna” é uma peça composta de ilustrações. E não há absolutamente nada de menor nisso.
Entre os dois atos, há uma passagem em que as doutoras Aglaé, Liége e Tânia Regina usufruem das suas condições de personagens e ganham vida. É quando o espetáculo atinge o seu melhor momento, patamar que será o ocupado até o final. O ritmo fica um pouco mais acelerado, as atrizes e o ator já conquistaram o público e se beneficiam do carisma que têm, a platéia está convencida de que não há nenhum problema em gargalhar alto tanto dos acontecimentos do palco, quanto dos seus próprios colegas assistentes (a platéia rindo da platéia).
Muito provavelmente porque as três personagens femininas formam um grupo, o destaque maior é o de Leornado Barison. Cada vez que o “elemento diferente” entra em cena, sente-se que o espetáculo fica ainda mais atrativo: “algo muito engraçado virá!” E vem! Sozinho, ele representa o universo não feminino – e que não é necessariamente masculino, mas também é. E representa de uma forma que, coerente com toda a proposta, só traz ganhos.
O que acima foi dito sobre ilustração pode voltar ao texto quando tratamos do cenário, figurino e luz. Tudo é funcional, tanto no que se refere ao uso, como no que diz respeito à estética. Embora se possa dizer que os objetos cênicos não precisavam estar com a ferrugem à mostra, o fato de não haver nada que perturbe nossa atenção ajuda a explicar o porquê dessa comédia fazer tanto sucesso há tanto tempo.
O fato real é que ficar tentando explicar o motivo do sucesso desse espetáculo, em forma de aplauso, é um jeito de pôr em prática o que aprendo em teoria. Mas deusolivre uma comédia sobre isso.
Se bem que...
*
Ficha Técnica
Texto: PATSY CECATO
(com a colaboração de MÁRCIA OHLSON, PATRÍCIA SOSO e XICA CAMPAGNA)
Elenco: MÁRCIA OHLSON, PATRÍCIA SOSO, XICA CAMPAGNA e LEONARDO BARISON
Cenário: NELSON MAGALHÃES
Criação de Luz: JÚLIO CONTE
Figurinos e Coreografias: PATSY CECATO
Trilha Sonora: FLU e DEFF RECLAME
1 Comentário:
uma peça fantástica, de fato.
Postar um comentário