31 de ago. de 2009

Marleni


Foto: Betânia Dutra

A la Leni.

Quando duas pessoas se encontram, há que haver crescimento para as duas. Para as duas. Esse negócio de uma plantar sementes na outra para uma terceira colher não me agrada. Não agrada ninguém que tenha somente o altruísmo necessário para não ser uma má pessoa. São dois sistemas que se encontram, que se unem, preservando as individualidades, mas compartilhando uma e outra informação. Nem sempre há objetivo para o encontro, mas, não havendo modificação, é como se ele não tivesse acontecido. Encontro de diferenças é uma redundância. Encontro de iguais é repetição. E encontrar-se é tramar, dramar, acionar. Em todo encontro, há ação.

Paris, 1992. Leni Riefenstahl (1902-2003) invade o quarto de Marlene Dietrich (1901-1992) a fim de fazê-la atriz de seu novo filme. A peça começa e o encontro se estabelece.

Mas a mudança não aparece. O encontro, então, é desfeito, sem que uma vá embora para longe da segunda.

"Marleni", de Thea Dorn (Tradução de Susanne Umnirski-Gattaz), é um incessante discorrer sobre o passado. Há quem chame de teatro museológico o tipo de espetáculo em que, ao sair, você sabe como é que era tal e tal num tempo qual. Nesse caso, você sai conhecendo um pouco considerável sobre a vida de uma grande atriz e de uma grande diretora, ambas cujas vidas foram, de alguma forma, influenciadas pela Segunda Guerra. A importância de Dietrich e de Riefenstahl para a arte do ocidente faz do encontro entre o público de Porto Alegre e da proposta dirigida pela atriz Márcia do Canto e pela cineasta Liliane Sulzbach um encontro aplaudível. O passado, no entanto, não ajuda o teatro a ser teatro. Tampouco a ser encontro.

A Marlene Dietrich de Araci Esteves não justifica no passado o conflito do presente: fazer ou não o filme. Marlene fará ou não fará o papel se estiver com vontade, mudando de opinião algumas vezes, voltando pra cama ou passando baton. Lembrar o passado, no entanto, para a Leni Riefenstahl de Ida Celina, é justamente o que faz com que o aceite de Dietrich seja tão importante. Durante boa parte do espetáculo, sentimos que a cineasta depende da atriz e, vendo, na personagem de Celina, nossa heroína, torcemos por ela. Ocorre, contudo, o afogamento do conflito diante de tantas lembranças. O roteiro do filme é esquecido numa poltrona, a câmera fica ao lado num tripé e o diálogo volta a ser sobre Hitler, nazistas, ex-maridos, filhos e juventude. A duvida se perde e o ritmo se arrasta.

A fraca dramaturgia é, vale dizer, compensada pela boa equipe envolvida no projeto. Araci Esteves e Ida Celina são grandes atrizes e tenho a absoluta certeza de que, em outros corpos, essas duas personagens correriam um risco bastante grande. O cenário de Élcio Rossini é uma das maiores qualidades do trabalho, concorrendo talvez com os figurinos de Rô Cortinhas. O fundo em perpectiva, os quadros, os ambientes são riquíssimos. Concordam em todos os aspectos com a dramaturgia, substituindo os buracos do texto por pausas para reflexão nas zonas escuras. O desenho de luz de Cláudia De Bem acompanha o processo desenhando uma história que preferiu se mostrar interessante mais pelo recuperar do que pelo apresentar. A direção, assim, optando por não fugir dos problemas do texto, mas fazê-los ver como impulso para qualidades, desafia sua reconhecida equipe e nos traz um espetáculo nada menos (nem mais) que importante. Já na casa dos noventa, as duas personagens se movimentam no espaço que lhes é reservado de forma coesa. Marlene morre no ano dramático. Leni vive por mais onze.

Por algum motivo, as duas diretoras entenderam ser necessário a inclusão de projeções. Diferente de todos os elementos apontados e também os que não foram (a trilha sonora, por exemplo), não nos é dado a ver a relação dessa opção com o todo desse encontro Mar-Leni. Na boca das duas personagens, o cinema é passado. O último filme de Dietrich foi em 1978 e, antes desse, havia se passado quatro anos de reclusão. Leni lembra de filmes ainda produzidos antes da Segunda Guerra, citando experiências fotográficas depois disso apenas. E o objeto câmera presente já significa o bastante, sem que sejam necessários signos sombrios como é o caso das projeções. O encontro redunda-se. Falamos em Olympia e vemos cenas de Olympia. Falamos em Triunfo da Vontade e vemos cenas desse filme. E, assim por diante. Fora as exceções do momento em que Marlene fala com um ajudante de ordens e quando ela se vê no espelho ainda no auge de sua beleza, as demais incursões nesse linguagem outra pintam um quadro pastel com um tom também pastel.

Desfeito o encontro, os sistemas voltam para suas casas. Se antes lembravam juntos, agora lembrarão sozinhos. Aqui ninguém está dizendo que não é bom lembrar. Assistir "Marleni" é um prazer pela lembrança. Eu, no entanto, fico com a produção.

E me toco a fazer filmes.

*

FICHA TÉCNICA

Texto: Thea Dorn
Tradução: Susanne Umnirski-Gattaz

Elenco
Araci Esteves - Marlene Dietrich
Ida Celina - Leni Riefenstahl


Direção:Liliana Sulzbach e Márcia do Canto
Produção Executiva: Francine Kath
Cenografia: Élcio Rossini
Desenho de Luz: Clåudia de Bem
Direção Musical: Nico Nicolaiewsky
Desenho de Som: Kiko Ferraz Studios
Figurino: Rô Cortinhas
Maquiagem: Aline Matias
Preparação Corporal: Silvia Wolff
Produção de objetos e adereços: Jéssica Baltezan
Assistentes de Produção: Marcinho Zola, Silvia Penna e Viviane Rasia

26 de ago. de 2009

Tangos e Tragédias


Foto: Camila Camomila


Estação

Há muitos anos, talvez quatorze, eu lembro que Tangos e Tragédias terminava com Trenzinho Caipira do Villa Lobos. E hoje refleti sobre uma frase que ouvi: a vida é como um trem com vários vagões. Há, como em todos, a primeira classe, onde os lustres são de crital, há as cortinas brancas e o estofado lhe faz sentir como se tudo fosse o descansar. Há, também, a segunda classe, em que as pessoas são mais alegres, a música é mais dançada e as bebidas são menos alcoólicas e você pode beber mais. No fim, há o baixo calão, em que a margarina do pão faz a diferença e, sem cortinas, a janela te obriga a olhar para dentro. Você escolhe, nesse trem, onde quer viajar, optando por todas as coisas boas e ruins que puder encontrar em cada vagão. Pode, ainda, trocar de um vagão para o outro, o que talvez não aconteça na vida lá fora. Tem, é preciso que saiba, que esperar o trem parar numa estação para fazer a troca. Você não pode mudar de vagão com o trem em movimento. A parada é necessária para a mudança. O principal, caro viajante, é que seja lá qual for o vagão escolhido e seus motivos naquele momento de sua viagem, o destino desse trem é sempre e inevitavelmente o mesmo, como também as paisagens e o vento. Tape, daí, o sol com a peneira se quiser.

Tangos e Tragédias faz 25 anos e...

... eu pensei em falar na luz de Batista Freire. Destacar o como ela é importante no espetáculo, dando relevo, ritmo, corpo pro espetáculo composto só de dois atores-músicos: Nico Nicolaiewsky e Hique Gomez.

Mas prefiro lembrar que a primeira vez em que assisti ao espetáculo foi na praça central de Gravataí. Eu ainda era um adolescente que mal ia sozinho para Porto Alegre, mas que vi o show ser o primeiro grande espetáculo da vida de muita gente que estava ali (o meu havia sido Bailei na Curva). E lembrar também de ter levado, em momentos separados, a primeira mulher do meu pai e, depois, a segunda, que é minha mãe, pra ver a peça no Teatro São Pedro. Ambas nunca tinham entrado no nosso cream of the top, e cada qual do seu jeitão, reformaram o casaco de pele e passaram horas no salão para desfrutar da tal noitada, ainda hoje, para nós, inesquecível. Faz parte de mim tratar bem de quem eu gosto.

... pensei em deixar claro que Tangos e Tragédias não é , nem sem apresenta, como um espetáculo de teatro (no significado aprisionante), mas como um show, uma aquarela cujas cores, de tão usadas, se misturam. É a olhos vistos o quanto eles usam do que o teatro oferece enquanto linguagem, e o quanto utilizam de outras linguagens as quais não me sinto preparado para destacar. O trabalho de foco, de desfile no espaço cênico, de condução dramatúrgica, de continuidade e coerência na construção dos personagens... Nico e Hique podem até ser músicos mais que atores nesse trabalho, mas são grandes nas duas tarefas certamente, mostrando isso não agora, hoje ou ontem, mas há vinte e cinco anos.

Mas prefiro lembrar que, como professor, levei, em alguns anos, a música The eleven's train para a sala de aula. Tirei a palavra Jaçanã e pedi, com-uma-cara-bem-fechada-de-professor-mal, que traduzissem , deixando que o alunaredo sozinho descobrisse que a música é, na verdade, Trem das Onze. E, a seguir, pedi que traduzissem para o inglês músicas brasileiras, exigindo que cantassem no ritmo original o resultado, bem aos moldes da gravação de Tangos e Tragédias que eu já tinha em CD. Ou, então, que descobrissem as únicas 5 paroxítonas das palavras finais de cada verso de O Drama de Angélica, brincando com o significado maluco de cada palavra e seus usos. E em como nos divertimos com isso nas manhãs de inglês ou de português.

... achei que era justo destacar o trabalho de ator que há tanto em Nicolaiewsky como em Gomez e em como o espetáculo se faz novo a cada nova temporada ou apresentação de 1984 pra cá. E no quanto isso é teatral, arte que sofre e, ao mesmo tempo, se orgulha de ser perene.

Mas prefiro contar que uma mesma atriz fez a personagem Madame Giry de O Fantasma da Ópera por mais de vinte anos e isso, para alguns incluindo eu, valoriza o espetáculo, ao contrário do que muitos pensam, correndo, na boca pequena, muxoxos de desprazer quando um espetáculo não estreante re-aparece e enche platéias, como é o caso de Tangos e Tragédias.

... eu precisava falar da relação que toda a produção, e não só os atores, estabelece com o público. É o vendedor de livros (Renan Bleasté) que recebe as pessoas anunciando o Free Shop da Sbórnia; a luz na platéia acompanhando o ritmo da participação; a mão dos atores a conduzir nossas vozes e palmas; a saída em que os atores, tocando acordeon e violino, nos conduzem para o foyer e a praça... O desconhecido passa a ser íntimo. O ator conhece o nosso coração e, com muito cuidado, joga com ele.

Mas confesso que sempre invejei alguns amigos mais velhos que se lembram da Noviça Rebelde brasileira, em 1966, levando o elenco, os músicos e toda a assistência para a Praça Tiradentes, no Rio, ou mesmo para a Av. Independência, em Porto Alegre, a cantar Dó - Ré - Mi. A noção de espetáculo teatral como espetáculo da vida, o que não diminui outras noções, embora dessa eu sinta falta, apesar de Tangos e Tragédias e algumas outras em Porto Alegre. (Que saudades de Sonho de uma noite de verão, dir. da Patrícia Fagundes.)

... havia de comentar o aniversário jubilar desse grande e querido espetáculo que tem em seu repertório músicas que nos fazem cantar (Ana Cristina), que nos fazem rir (Romance de uma caveira), que nos fazem emocionar (Epitáfio), que nos fazem dançar (Copérnico) e que nos fazem estar (os inúmeros números sem melodia, mas cheios de musicalidade).

Mas devo expressar a saudade que Adriana Marques causou ao abandonar o palco de sua Rádio Esmeralda, outro espetáculo experiente de Porto Alegre que unia dois artistas através da performance cênica, músical, viva! Sei que o teatro serve para muitas coisas, mas meu teatro preferido é aquele que me lembra a importância de estar vivo e abrir as cortinas para platéias cheias em veludo italiano e também para as vazias sem forração. A sensação das pessoas que, um dia se vão de nossas vidas sem que a tenhamos aplaudido o suficiente pela sua importância na nossa, que sabe lá Deus porquê, fica.

Então, me dei conta de que, apesar de tudo isso que eu pensei, sentado na estação do trem, é hora de voltar e escolher qual vagão seguir viagem.

Agora Tangos e Tragédias termina com White Christmas. E, hoje, reflito que a beleza do natal, mais belo ainda em agosto, é justamente o poder de nos fazer olhar para o lado e nos vermos como uma só platéia, um só ser público, mesmo que que com sotaques diferentes na fileira de trás, celulares diferentes ao lado, idades e cortes de cabelo de todos os jeitos e signos. Porque só não é feliz quem não quer, e, sim, há gente e gentes que não querem.

Olhei para o bom e velho lustre do São Pedro, a iluminar Tangos e Tragédias por 25 anos, me iluminar por 15 e estar lá, ele mesmo, ou seus antepassados, há 150... Mudam os olhos e os sonhos. As músicas e os tons.

O trilho leva sempre para o mesmo destino.

E Copérnico sempre se dança do mesmo jeito. Sem mexer as pernas, nem as mãos.

Segui.

25 de ago. de 2009

Fragile

Foto: Fernanda Souza

O vovô Roberto*

Acabei de ler um post no twitter sobre a importância de “quebrar a cara” para aprender. É horrível isso, não? Mas, por experiência própria, acho que é bom, eficiente e digno. Às vezes, pode até ser divertido... Coragem pode até ser sintoma de juventude. É a sabedoria, no entanto, que caracteriza a maturidade.

(E porque tou batendo na porta dos trinta, não uso mais a palavra velhice...)

Em sabedoria, Roberto Oliveira me fez ver, está o que nos encanta enquanto netos nos nossos avós. Não esse ou aquele neto. Não nesse ou naquele avô, mas, de um modo geral, vale até a senhora alegre que canta todos os dias mais alto que seus fones de ouvido sempre a mesma música nas caminhadas da Redenção. O avô sabe que, se você planta, você há de colher se tudo correr bem. As coisas só pioram se você ficar, em todos os amanheceres, abrindo o buraco na terra pra ver se a semente já deu sinal de vida. Pausa para Esperar.

Pais e mãe nem sempre têm paciência para esperar. Pais e mães, ainda longe de seus pais e de suas mães, querem estar próximos de seus filhos, realizar-se neles, ser importantes existencialmente vivendo. Os avós já sabem que são importantes. E sabem o que fazem.

Roberto Oliveira, que é um vovô na vida real, como também é em "Fragile", é certamente um vovô nas artes cênicas de Porto Alegre. Explico: tão logo você entra na sala da Usina do Gasômetro, sente-se esteticamente seguro, confiante de que nada ali foi posto sem considerações bastante sérias. Sua vovozisse não vem da idade, mas da experiência.

O chão está decorado com algumas gravuras de revistas e muitas, muitas, uma quantidade imensa de fotografias. Fotografias! Acho que só quem tem mais de 25 anos sabe o que é fazer aniversário e esperar mais de uma semana talvez para ver se as fotos ficaram boas ou não. E, depois, mandar fazer cópias para dar para os parentes. Lembro de sair para férias com um rolo de 24 poses bravo porque o de 36 era quase do mesmo valor e ouvir ainda minha mãe alertar: pra revelar é muito caro! Então, eu tinha que ficar economizando as imagens. Essas em que agora pisamos. Fotografia é um signo icônico. Ela está para quem nela é representado. A imagem de uma pessoa pode ocupar, no coração e na mente, o lugar da pessoa. Será que se percebe o clima frágil em que entramos? Troca isso tudo e coloca um piso de cimento ou um tapete preto pra ver... Tapete preto não é desperdício? Roberto Oliveira não desperdiça nada.

Um elenco imenso de pessoas oriundas de sua oficina. Um texto, que além de ter sido tornado peça, funciona como conto, fonte de frases e mais frases sobre as quais vale a pena ficar bastante tempo pensando. Luz, figurino, projeção: nichos tão ricos em significado que, a exemplo do que eu fiz com as fotografias no chão, poderíamos ficar parágrafos e mais parágrafos refletindo, tão interessantes são os usos feitos por quem entende de significantes e de significados.

Mas Roberto Oliveira entende de direção de atores também. Alguns truques (?) nele são reconhecidos.

Se aproveitando de uma dramaturgia onírica, que coteja com a quebra de eixo justamente por não ser linear, o diretor divide o grande elenco em três núcleos deslizantes, acrescentando o fato de organizar o espaço cênico não na forma italiana (todo o público de frente para um só lugar no palco), mas em um corredor que desfila da extrema direita à extrema esquerda, através do qual vemos a platéia do lado de lá. Assim, o espectador também é espetáculo, não bastasse tudo o que está acontecendo em cena. A cena exige, ao se movimentar nesse corredor, fazendo com que o espectador, ávido por acompanhar tudo o que lhe é oferecido, viradas constantes do rosto de um lado para outro. Sentimos os atores passar pelos nossos joelhos, interagindo conosco. E ficamos chateados quando nos sentimos na obrigação de virar a cabeça para baixo e fruir o absolutamente indispensável: um pouco do que está dito, abdicando, assim, de novas sensações visuais, não menos importantes. Niveladas no uso de máscaras, as interpretações oferecem mais e mais dados. E tenho a impressão de que são duas horas de espetáculo, talvez um pouco menos.

De tão bom, Fragile se torna cansativo.

As três protagonistas (Andressa Corrêa, Fernanda Majorczyk e Cristiane Scomazzon), entre as coisas que merecem mais destaque, incluem-se no que há de melhor nesse espetáculo tão rico. Seguras, vivas, eficientes em esconder as marcas, não deixam que suas máscaras corporais sejam um muro que lhe distanciem dos espectadores, esses tão próximos. Protagonizam a cena não pelos personagens, mas por tudo aquilo que emanam de seus talentos e técnicas aprendidas, talvez com outros, mas certamente com esse bom professor. Não menos concentrado ou envolvido, o elenco, de um modo geral, é coerente com todos os elementos que fazem nascer essa produção do Depósito de Teatro, um dos grupos mais importantes de nossa cidade.

Roberto Oliveira, ou Modesto Fortuna, sem esquecer da coragem, é sábio o suficiente para regar a semente, esperar o sol aquecer a terra e, só então regar de novo. Não tem como ela não brotar.

O cansaço de Fragile vem da quantidade enorme de plantas diferentes a cuidar. Até porque plantas nao se cuidam de qualquer jeito.

Sem querer ficar cavocando na terra para ver se a semente nasceu, eu paro e reparo a planta que vejo. Estou longe do meu avó, e longe de ser avô. Mas por que não amar a espera desde já?


* Crítica também publicada no site Artistas Gaúchos.

*

Espetáculo baseado na peça "Frágil" do dramaturgo argentino Cesar Brie e no livro "Fragilidadade" do roteirista Jean-Claude Carriere.

ELENCO:
Alessandro Rivelino
Andressa Corrêa
Catharina Cecato Conte
Cristiane Scomazzon
Daisy de Souza Reis
ernanda Majorczyk
Fernando Braz
Janaína Lima
Pablo Damian
Samuel Reginatto
Sílvia Ferrari

Direção: Roberto Oliveira
Assistente de Direção: Kalisy Cabeda e Elisa Heidrich
Música: Julian Eilert
Cenário e Iluminação: Modesto Fortuna
Figurino: Francisco de Los Santos
Produção Executiva: Janaína Lima
Produção: Depósito de Teatro

21 de ago. de 2009

Às favas com os homens que as mulheres vão a luta


Foto: ?


Olhar desconfiado: dúvida se há mesmo segredos ocultos

Ontem fui comer sushi num restaurante bem legal que abriu na Cidade Baixa. Ao entrar, reparei na decoração das mesas, nos quadros na parede, do que estava exposto no balcão, no buffet. Lembrei também do que me disseram sobre o lugar, afinal, não nasci na hora em que entrei pela porta. Ao sentar à mesa, notei que não me deu vontade de pedir pizza.

***

Fui ver Brüno a convite de um amigo sem ter lido nada sobre o filme. Foi só depois da luz do cinema ter apagado que me contaram que aquele protagonista era o mesmo ator do Borat. E não só ator, mas alguém que é responsável por todo o filme. Como segui sem ter pesquisado, não posso falar muito. Mas reparei que, quanto mais os frames iam passando, menos eu esperava ver algo que não fosse uma tentativa de piada, que não tivesse um contexto irônico, que não fosse um deboxe. Ia acompanhando as cenas e, uma a uma, ia entrando no universo da obra que, embora grande, não abarca todos os universos possíveis: uns sim, muitos outros não.

***

Hoje vou a uma missa de sétimo dia. Se o sermão estiver chato, prometo reparar nas paredes se há cartazes de "Não fume!" ou "Desligue o celular!" ou mesmo "Não entre de roupa de banho" ou, então, "Não é permitido entrar no twitter." Tenho a impressão, porque já fui muito igrejero, que essas ordens todas nunca foram postas na parede. Mas, mesmo assim, é difícil encontrar alguém que não as conheça.

***

O síndico do meu prédio é um homem como os outros. Como o meu pai. Eu dou um beijo no meu pai quando o vejo. E não beijo o síndico. E nunca encontrei esse senhor, a quem sei pouco além do nome, no corredor do edifício com um cartaz: "Não me beije sem me adicionar no orkut primeiro."

**********

Com essa seleção de situações metafóricas, quero chamar a atenção para a forma como o mundo e, como ele, uma obra estética existem em paralelo a nossa existência. Tanto a obra como aquele que a percebe existem independente um do outro, mas há um derterminado momento em que se encontram. Esse momento é o da fruição estética: a obra não deixa de ser obra e nem mesmo se apresenta por inteiro ao intérprete, nem o intérprete deixa de sê-lo e também não se apresenta de todo para a obra. A peça de teatro olha a platéia com olhos desconfiados. A platéia olha a peça teatral com olhos igualmente desconfiados. Ambos guardam segredos que, talvez um dia, serão revelados. Talvez, não.

Assim, estando eu sentado no lado da platéia, me importa ler o que me mostra a peça. Por mais que eu saiba que nem tudo será me dado a ver, é pelo que vejo que eu reconheço a peça. O mesmo faz ela, que me vê, utilizando-se, se não for burra, daquilo que eu lhe apresento: o Rodrigo que não nasceu quando entrou pela porta do teatro e, portanto, traz informações de fora, por mais que tenha querido (no meu caso) desfazer-se delas.

Pedro Delgado, que nunca ganha patrocínio nenhum e está sempre em cartaz e simplesmente por isso merece o respeito da classe teatral, apresenta "As favas com os homens que as mulheres vão a luta" guardando segredos que nem eu, nem ninguém jamais conseguirá saber. E isso é natural uma vez que, anos depois, sempre nos damos conta de coisas sobre obras que vimos ontem ou há anos atrás e, até então, não tinha chegado até nós. O que é isso? Nada mais do que a obra cochichando no nosso ouvido coisas sobre as quais, no ato da fruição, não estávamos preparados para saber...

Temos, no ato da apresentação, uma apresentação. E o que me foi apresentado?

Um cenário interessante (pronto para despertar o interesse), mas que aponta para algo sem que esse algo seja visto. É como se você preparasse uma grande festa, semanas e semanas comentando sobre detalhes e, no dia esperado, servisse café com bolachas. O Grupo Cacimba, assim, faz todo um carnaval para uma festinha... São molduras de arame, pedaços de cinzal que desenham formas humanas de casais. Criados mudos suspensos em diferentes níveis. Banquetas e pequenas escadas de alumínio. Um chuveiro ao fundo de onde sai um tule branco. Mas tudo isso, em branco e prata, com seus sentidos estéticos nada ou bem pouco utilizados.

Pedro Delgado gritando muito é outra parte da obra dada a ver. Desde a sua entrada em cena, o ator fala num tom de voz realmente muito mais elevado do que o necessário, fazendo com que também os demais atores levantem seus tons, o que nos ensurdece sem nenhum motivo aparente. E, desde sempre, repetindo personagens já vistos em outros de seus trabalhos, muito bravo, nervoso, pesado. O conflito da peça, percebe-se, é seu personagem. É esse marido que não poupa esforços em criar problemas com sua esposa. Ela, no início, faz um círculo de rosas artificiais (Rosas Artificiais. É isso mesmo! Por incrível que pareça, como perucas apontadas em outro espetáculo, ainda se usam flores artificiais sem jogo com o sentido da artificialidade.) e treina posições de meditação. Chega o marido e as brigas começam. Ela quer transar, ele não fica excitado. E se é ele quem não fica excitado, pensamos: "que culpa tem essa esposa, linda, sensual, simpática?" E a esposa quer o marido e não outro homem. E não nos é dado a ver a relação com o título, esse que expressa uma independência feminina, mofada em termos de temática desde Malu Mulher...

Preto e vermelho nos figurinos, desde os tennis até as roupas íntimas, me faz pensar nas cores da luxúria. E sexo é o tema do espetáculo. Igreja combina com oração, com silêncio. Restaurante Japonês combina com aquário, com molhos shoyo, com hashis. Meu pai combina com beijos. E, nessa união de sentidos, difícil de fazer em quase todos os aspectos no espetáculo de Delgado, mas que aqui é possível, que vamos lendo o espetáculo, que ele vai se abrindo e que nós vamos existindo nele. A opção pelas cores é um dos poucos momentos em que vemos que há, no organismo obra, uma coerência.

Há uma confraria presidida por Carla (Ita Ramires) que consiste em fazer com que as mulheres dominem os homens e não o contrário. Há uma debandada de associadas e a presidente resolve passar uns dias na casa da irmã para ver se ela também não desistirá. A irmã é Telminha (a ótima Daniela Lima), casada com Edgar, personagem de Delgado. Edgar tem um amigo (Raul - Luis Carlos Pretto) e traz ele para sua casa querendo apresentar ele para a cunhada, recém abandonada pelo marido. Carla obriga sua irmã a fazer um juramento de não fazer sexo com o próprio marido e, na mesma intenção, enlouquece o amigo do cunhado. A dramaturgia evolui até que os dois são expulsos e o casal, Edgar e Telminha, se reaproxima. A reaproximação é estranha. Telminha diz para Edgar que, se o marido fosse mulher, ela seria lésbica: num momento bem próprio para nos enternecer como é o que acontece em comédias românticas, um gênero respeitável. Ele, para a nossa infeliz surpresa, responde que, se fosse mulher, ficaria com Raul, um homem que não se joga fora. E aí nossa cabeça gira. "Como assim?" E o final que não vou contar, mas afirmo ser nada além do esperado, acontece de um jeito desnecessário como várias coisas parecem ser: apontam para nada.

E o cenário de criados mudos suspensos e telas transparentes bóia numa dramaturgia realista, dentro do gênero comédia de costumes. É como "Um lugar chamado Nothing Hill" num cenário do Expressionismo Alemão. Ou, usando um exemplo de teatro, "Esperando Godot", do Becket, num cenário próprio para Tennessee Williams. A trilha sonora recortada aleatoriamente de outros lugares coroa uma hora e tanto de apresentação sem que, nem o espetáculo tenha sido conhecido, nem eu tenha sido conhecido pelo espetáculo. Um desperdício do momento mágico que o teatro, ao unir palco e platéia, tem em relação às outras artes.

A ausência de sentido é significativa. Quando a não combinação de elementos é proposital, isso é dado a ver. Já entrei, afinal, em churrascarias com sushi no buffet perto das saladas, o que mostra que ali é um lugar aberto para todos os gostos. Já vi gente falando ao celular dentro de igreja em apresentações teatrais de Grupo de Jovens. E já não beijei meu pai quando estava realmente furioso com ele e queria deixar isso claro. O mundo dos signos sempre se faz significativo à percepção dos intérpretes. Nem sempre, no entanto, se faz coerente.

É uma pena que, nessa produção de Delgado, a coerência na concepção do espetáculo não tenha sido considerada. Nem eu, platéia.

E, se um dia ela vier coxixar ao meu ouvido, já não irei querer ouví-la.


*

Texto e Direção: Pedro Delgado

Elenco:
Daniela Lima
Ita Ramires
Luis Carlos Pretto
Pedro Delgado



19 de ago. de 2009

Canto de cravo e rosa


Foto: Vilmar Carvalho


Fios mais fracos que asas


Se soubesse cantar, cantaria...

“Como pode um peixe vivo viver fora da água fria?
Como pode um peixe vivo viver fora da água fria?
Como poderei viver, como poderei viver?
Sem a tua, sem a tua, sem a tua companhia?
Sem a tua, sem a tua, sem a tua companhia?”

Como não sei mais que cantarolar, teço talvez uma teia que serve para pegar as moscas voando por aí. E o que é uma peça que não uma mosca, voando em nossas cabeças?

Em minha cabeça, de domingo para cá, voa “Canto de Cravo e Rosa”, direção de Jessé Oliveira e dramaturgia de Viviane Juguero, espetáculo recheado de cantigas de roda.

Falta, eis que reparo, luz em Canto de Cravo e Rosa. Luz para iluminar o palco, colorir a cena e tudo mais.

Tudo mais o que é energia dos atores cujos olhares de fora da cena estão dentro dela, movimentando-se em seu ritmo. Nada nem ninguém está fora do lugar, fora de contexto, alheio ou incoerente ao seu próprio criar. O espetáculo inteiro é um texto só, sem barrigas, sem nouvelles vagues descabidas ou seres humanos em selva de bichos.

Tudo mais são os figurinos e as máscaras, pesquisados, pensados, planejados e postos a fazer com que nada se destaque, nada sobre ou sobressaia, mas tudo, como um “tudo mais” chame a atenção.

Tudo mais são lugares para onde nos levam a linda voz de Viviane Juguero, o lindo violão de Diego Neimar e todas as cantigas de roda interpretadas como parte e nunca como todo ou adendo. A proposta de recuperação dessas canções, muitas já esquecidas, é um bem pelo qual agradecemos, parabenizamos e aplaudimos.

Tudo mais são movimentos que mostram a agilidade de Éd RosaS, além de ator eficiente, um atleta cujo aproveitamento físico só traz ganhos para a platéia de grandes e pequenos que não dão bola para a Gripe Nova e vão ao teatro.

Tudo mais são as participações de Ana Cláudia Bernarecki e, como ela, os demais do elenco a darem suas contribuições, sobretudo, com olhares e deslizares próprios de quem sabem o que estão fazendo e o fazem com prazer.

Tudo mais são os plots criados pela dramaturgia que, partindo de uma música, constrói várias músicas; de uma pequena trama, nos dá um motivo pelo qual vale a pena torcer.

Tudo mais são as qualidades dessa direção de Jessé Oliveira que, com uma equipe formada de nomes bem reconhecidos, pelo terceiro ano volta ao palco com essa bela história.

Tudo o mais são os espaços escuros que, atrás da teia, poderiam ter sido diversamente preenchidos, para não dizer que não falei de flores.

Mosca forte bate asas e quebra minha teia. Não dá bola para mim e continua voando. Como um bobo fico aqui,


Sem a tua, sem a tua, sem a tua companhia.

*

FICHA TÉCNICA

Dramaturgia: Viviane Juguero
Direção: Jessé Oliveira

Elenco:
Ana Cláudia Bernarecki
Diego Neimar
Éd RosaS (Éderson Santos)
Ravena Dutra
Rodrigo Marquez
Viviane Juguero

Direção Musical: Toneco Costa
Preparação Vocal: Marlene Goidanich
Cenário: Élcio Rossini
Figurinos: Raquel Capelletto
Márcaras, bonecos e acessórios: Sayô Martins
Iluminação: Jessé Oliveira
Assessoria de Imprensa: Rodrigo Marquez
Produção: Delta V Produções

15 de ago. de 2009

O Avarento


Foto: Luciana Mena Barreto

Churrasco e Sushi. Roupa Nova e Casamento.



1956. Você conseguiria imaginar Julie Andrews, perfeita como Eliza Doolittle, olhar com ironia para o que vê ou mesmo piscar para o público questionando os sonhos que manifesta ao cantar no mercado “Wouldn’t be loverly? em “My fair lady” ?

1957. Você conseguiria imaginar Anita, Chita Rivera, após a inesquecível cena de “América” de “West Side Story”, ver a protagonista Maria se afastar e, olhando pro público, dizer: “Vamos ver até quando vai durar esse sonho...” ?

1959. Você conseguiria imaginar a noviça Maria, Mary Martin, na segunda cena de “The Sound of Music”, no meio de "The hills are alive” sentar no chão e não ter nenhuma paisagem, nenhum tronco de árvore (como diz o texto), absolutamente nada além dela e o figurino, com os atores todos a vista, fora apenas do espaço cênico?

Não.

O Musical, gênero essencialmente norte-americano, é um misto de teatro de revista e circo que iniciou na metade do século XIX, cresceu nos primeiros anos do século XX na ilha de Manhattan e atinge o seu apogeu, não por nada, na Grande Depressão pós 1929. O musical serve para fazer encher a alma do público, arrebatá-lo da cadeira. Daí uma grande quantidade de bailarinos e coreografias complicadas, cenários que caem do teto e figurinos não menos que explêndidos, lindas vozes que começam a cantar do nada deixando bem acertado que o mais importante é a música e não o texto. A trilha, num musical, protagoniza. E só, num musical, atores cantam. Fora disso, cantarolam, assobiam um tema qualquer, usam a música para ilustrar.

Seria desperdiçar o gênero colocar Eliza Doolittle duvidando de si mesma quando justamente seus olhos não piscantes prendem a nossa atenção. Da mesma forma, ao identificar-se com Anita, vê-la como outra pessoa, falando com a gente, a platéia. E não menos pior: não oferecer à voz forte de Maria ainda não Von Trapp a imagem dos Alpes Austríacos. Se o gênero oferece isso ao encenador, por que não usá-lo?

A farsa é um gênero consolidado por Molière que, junto com Racine e Corneille e outros, no século XVII, retomaram na França, o melhor do clássico grego: as ações externas à cena e, principalmente, o virtuosismo da palavra. Acrescenta-se a isso a crítica travestida de narratividade, com utilização da platéia como cúmplice e não meros ouvintes do belo texto, e com a limpeza da cena. Um texto neoclássico quase não tem rubricas, há poucas indicações de cena e o encenador é, com isso, avisado de que só o bom dizer já é suficiente. Se o gênero oferece isso ao encenador, por que não usá-lo?

Apesar do nome Farsa, o Grupo Farsa trai a Farsa utilizando o Musical como amante. Embora com boas letras, lindas melodias e ótimas interpretações, coreografias e palavras em forma de tons me lembraram, e muito, Rolling Stones em Édipo Rei: uma teimosia do encenador em comer sushi com churrasco, os dois no mesmo prato. Não dá pra comer picanha com pauzinhos, tampouco colocar algas num espeto. A maravilhosa ilusão do musical fica perdida na maravilhosa ironia farsesca. E, pra acrescentar, num par de cenas, há aventuras no melodrama, com lágrimas e olhares enternecidos da dupla romântica de “O Avarento” (Lucas Krug e Daiane Oliveira), novo espetáculo dirigido por Gilberto Fonseca.

Com exceção das calças de lycra de Frosina (Lúcia Bendati), o figurino de Daniel Lion é perfeito. Com exceção das banquetas de metal forjado e o cabideiro do mesmo material, o cenário (o tapete e a proposta das banquetas) é rico em tudo aquilo que o gênero escolhido possibilita como potência. Com exceção no nervosismo e da falta de ritmo da estréia (Bárbara Heliodora uma vez disse que “se a peça não está pronta, então, que não seja apresentada. O público da última semana tem o mesmo direito de ver um bom espetáculo que o do primeiro dia.” Sempre acho que sessões de ensaio aberto e apresentações na periferia deveriam anteceder estréias no eixo Centro – Bom Fim – Cidade Baixa.), pode se ver grandes interpretações, textos muito bem ditos como convém, e momentos ora de leveza e ora de sarcacidade como prevê o clássico francês.

Em suma, se conseguirmos o impossível: esquecer o equívoco da trilha sonora, temos em cena, sob o texto de um dos maiores dramaturgos da história, as excelentes interpretações de Ariane Guerra e João Pedro Madureira, em papéis secundários, mas cheios de riqueza e profundidade, exibindo corpos treinados para o olhar do público e, principalmente, prazer em estar ali; e a não menos, mas talvez um pouco mais, excelente contribuição de Elison Couto: ótima dicção (base para o clássico), experiência mostrada em figura corporal pesquisada, treinada e mantida; e a graça de estar em meio a uma história que, embora os desperdícios da direção, diz muito para os dias de hoje.

Ficam ainda Lúcia Bendati, ainda trêmula com os leques; Marcos Chaves, trêmulo num alto sapato alto; Zé Mário Storino, trêmulo com chapéus, aventais e colher. Objetos externos aos corpos, como também é externa a trilha, como foi dito no início.

Em se tratando de Gilberto Fonseca, mesmo diretor do diferente espetáculo “A Canção de Assis” e outros trabalhos, sempre cuidadoso com aquilo que é plástico, num elenco que, por contar com Couto, Bendati, Madureira e Krug, quatro nomes do que há de melhor no teatro porto-alegrense, podemos dizer que a avareza de economizar na ironia e na crítica, gastando naquilo que não é farsa, será um dia punida.

Por hora, Gilberto Fonseca ganha roupas novas e alguns casamentos.

*

FICHA TÉCNICA

Texto: Molière
Direção: Gilberto Fonseca
Prep. Vocal, Trilha e Direção Musical: Marcos Chaves
Figurinos: Daniel Lion
Cenário: Gilberto Fonseca e Lucas Krug
Iluminação: Gilberto Fonseca
Maquiagem e Cabelos: Elison Couto
Projeto Gráfico: Adriana Sanmartin
Fotografia: Luciana Mena Barreto
Divulgação: Sandra Alencar
Assist. Produção: André Oliveira
Direção de Produção: Inês Hübner

ELENCO:

Elison Couto
Marcos Chaves
Daiane Oliveira
Lucas Krug
Ariane Guerra
Lúcia Bendati
Zé Mário Storino
João Pedro Madureira


14 de ago. de 2009

Parque de diversões

Foto: Pamela Ferrer


(In)Descoberta

O mundo é meu e não há nada nele que não seja meu. Falar do mundo, por isso, é falar de mim. Falar do que vejo é falar de mim. O que vejo, vejo e compreendo porque outrora me foi dado a ver algo semelhante. Analiso a relação entre o que vejo e o que tenho guardado em mim do que vi e apreendo.

A experiência perceptiva, fenomenal, nasce de correlações estabelecidas através de uma memória conceitual sobre um conjunto de categorizações perceptivas que estão em curso. Isso quer dizer que conceituamos a partir de experiências de percepção. (GREINER, Christine. O corpo: pistas para estudos indisciplinares. São Paulo: AnnaBlume, 2005. p. 42)


E há coisas que eu não vejo?Tem uma passagem bíblica, acho que o Renato Russo usou também, que vai nessa direção:

Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança. Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas, então, veremos face a face. Hoje conheço em parte; mas, então, conhecerei totalmente como sou conhecido. (1Cor, 13, 11-12)

Então, quando achávamos que o mundo terminava num abismo logo após o fim da Europa, a América já estava onde está, só que ninguém sabia. E se ninguém sabia, ela não existia. Ou existia apenas enquanto latente. Um universo de coisas existe enquanto latente. Enquanto crianças, não vemos, não fazemos esse universo existir. “Parque de diversões” é um espetáculo que me fala da inércia quanto à existência latente do mundo. Se eu não me mexer, o mundo não se mexe. Ou se mexe de forma latente, o que é o mesmo que ficar parado. Maldito Colombo.

Marcos Contreras praticamente não se mexe atrás do microfone. Usa terno e gravata preta e camisa branca. Sem cores além. Não há nada além dele e o microfone. A rotunda avança sobre a cena, num bloco tridimensional (na encenação a que eu assisti não havia mesinha e abajur ao lado do avanço). Uma cama latente, esperando alguém olhar para ela como cama. Projeções em vídeo, quase um clichê já em vá á á á á rias produções da capital. Essa ausência de criações cria, quase dialeticamente, a estagnação de um grupo de pessoas que se deu conta de que, ao ficar paradinho, under ground, quando vê, deixa-se de existir ou passa a existir em outra esfera, talvez, menos monótona.

O ator disponibiliza um tom de voz, uma pequena movimentação de braços e olhos, um cigarro atrás do outro, suas respectivas fumaças e apresenta-se tomando comprimidos. Um a um, nisso está a gramática desse tipo de de stand up comedy, interessante como tudo aquilo em que Diones Camargo tem metido a mão. (Eu) Ouço a conversa dos remédios bicolores com as luzes coloridas das rodas gigantes a girar e girar up and down como também é a voz de Contreras, às vezes, cheias de empolgação; às vezes, fruto de uma depressão sem fim. Uma roda que não sai do lugar, mas que te leva a lugares.

Narrações da compra do vídeo-game em formato de TV com polegadas sem contagem, o fim de um relacionamento garota e garotão, a Idéia de que pode haver uma reconciliação. Rimos de nós mesmos, vemos contar e, ao mesmo tempo, contamos nossas histórias. Os olhos fixam-se no ator, uma fonte incomensurável de sugestões para a nossa vida, todas elas com a mesma cara (budista?): não faça nada. Deixe de existir.

Ele, o personagem, não liga se o mundo está assim ou assado ou se ele mesmo é assim ou assado. Somente se ligarmos é que é o que é, e é o que está. Então, olhar para a TV desligada, ou deixá-la ligada até que o som se torne comum aos ouvidos é gostar e servir-se da inércia não criativa, não produtora. E conflitos são muito mais fáceis de se produzir, não?

O dado da TV se perde. Não sabemos se houve ou haverá a reconciliação. A mudança rítmica se torna comum aos nossos sentidos e a peça termina. E é aqui que, para mim, se encontra a melhor parte desse trabalho: o respeito ao fim. Contreras sai de cena e a cena se escurece sem alguém que lhes faça ser cena. No ar, ficam os nossos pensamentos, sem aplausos, sem murmúrios, sem intenções, direções. Inertes estamos, apenas fruindo o que já produzimos. E vem uma imagem de roda gigante que nos faz ver o alto e o baixo de tudo, sem que nos tornemos responsáveis pelo giro. Apenas pelo olhar.

O olhar que faz o mundo ser.

*

FICHA TÉCNICA:

Texto e Direção: Diones Camargo e Marcos Contreras

Atuação: Marcos Contreras

Produção: Rafael Ortiz e Poof

Iluminação: Carina Sehn

Trilha: Pablo Sotomayor

Cenário: Idéia dos autores, executado por Gabriela Silva

Vídeos: Daniel Laimer

Participação Especial: Elisa Volpato

Divulgação: Poof, Pati Savaris e Codorninha

Material Gráfico: Eder Gusatto e Poof

Ilustrações: Gabriela Silva

9 de ago. de 2009

Se meu ponto G falasse


Foto: Myra Gonçalves

Timeless to me

Há uma música em Hairspray que sempre me faz enternecer. Os pais de Tracy Turnblad, a protagonista, casados há anos, cantam o segredo do sucesso de seu casamento. Vou tentar traduzir a primeira parte. Esse texto vai ficar longo, mas tenho certeza de que a leitura da letra (pelo menos dela) vale a pena.

WILBUR
Estilos continuam mudando
O mundo se transformando
Mas, Edna, você é eterna pra mim
As saias estão mais curtas
As cervejas mais caras
Mas o tempo não se mete no que vem sozinho

Você é como um queijo velho e fedido, baby
Se deteriorando com o tempo
Você é como uma doença sem cura, baby
Mas, se não há cura
Então, que a febre queime.

Alguns amigos não entendem
Dizem que o tempo é um bandido
Mas eu vejo de outro modo
Porque quando eu preciso de descanso
O tempo me dá um presente:
Um outro dia com você.
Um twist ou uma valsa
Não importa muito
Só muda o cenário.
Você nunca será um chapéu velho.
É isso!
Você é eterna pra mim.

EDNA
Oh, Wilbur

As notícias mudam toda hora
(Fidel) Castro está invadindo
Mas Wilbur, você é eterno pra mim.
Os penteados estão mais altos
Meu cabelo parece um arame farpado
Mas você diz que eu estou chiquíssima

Você é como uma onda da moda
Algo que não deixaremos de usar
Então, dê-me um acorde bem adolescente
E a gente pode comemorar o fato de não estarmos ainda mortos.

Eu não consigo parar de comer
E logo já não haverá nada mesmo
Então, você vai usar uma peruca
Enquanto eu preparo um porco
Hey! Me passa as vitaminas!

Glenn Miller tinha classe
Aquela gatinha era um estouro!
Mas, na verdade, tudo isso passa.
Você nunca passará
Hip Hooray
Você é eterno pra mim!


(Segue o refrão e a última parte.)

Com essa letra, que não fala de prazeres sexuais, performances atrativas, parceiros que mudam, toco no assunto “Se meu ponto G falasse” a partir da relação de amizade entre Bia (Patsy Cecato) e Ana (Heloísa Migliavacca). Para mim, que não tenho vagina, nem clitóris, e com um ponto G reticente, trata-se de um espetáculo que fala muito mais da relação de duas mulheres que optam por desvendar o mundo juntas do que sobre a sexualidade. “Se meu ponto G falasse”, entrando no seu décimo segundo ano desde a sua estréia, é, antes de tudo, um espetáculo amigo de Porto Alegre e revê-lo pela quinta vez foi um prazer.

Júlio Conte, que assina a direção e a dramaturgia, faz com que quatro momentos sejam mostrados: quando solteiras e esperam o namorado que um dia vem e aquele que até agora não apareceu; quando recém-separadas e sofrem pela expulsão do marido ou pela fuga dele; quando na balada e entendem que é melhor serem companheiras de si mesmas; e quando, de novo, apaixonadas, assumem-se com uma pessoa mais velha ou mais nova, mas, antes, assando seu “próprio churrasco”. Em cada etapa, é no diálogo que se encontram com a gente e monólogos masturbativos felizmente não aparecem. Se nosso namoro com essas “gatinhas” durou doze anos, é porque a relação entre nós é timeless to us.

Timeless com porquês e apesares, separados e juntos. Porque o texto é muito bem estruturado, a sonoplastia é ótima, a luz é linda! O cenário entra nesse conjunto, com espaços criativos, elementos que favorecem diferentes níveis de leitura e proporcionam a identificação necessária a uma comédia realista tal como é vendida. A direção luta o tempo inteiro para não deixar o discurso se transformar em panfletário, e vence na medida em que homens e mulheres se encontram, seja de que idade for, em algum lugar da narrativa cênica. O jogo é rápido e traz sempre uma surpresa que encanta, prende e convida para continuarmos.

Apesar da existência de certas datas que o texto não faz esquecer: um tempo em que agendas escritas, celulares e endereços eletrônicos não eram partes de DNA e quando a expressão “básico”, já nem me lembro mais de onde ela vinha, era acompanhada com uma virada de cabeça e uma risada. A própria expressão “ponto G”, hoje, já não tem a mesma graça que dez anos atrás, assim como a discussão sobre mulheres mais velhas com caras mais novos. Reparei que várias piadas já não fazem mais sentido.

Porque e apesar, os dois juntos, das diferentes interpretações de Cecato e Migliavacca. Enquanto a segunda desde sempre usa do seu carisma para nos trazer para a sua história, Patsy demora para nos “pegar”, fria até a metade da apresentação. Praticamente não há expressões faciais e seu corpo se restringe a uma movimentação de braços e pernas sem muita agilidade. Bia se deixa ver apenas pela voz, em várias entonações e num ritmo alternadamente bastante rápido ou bastante lento. É quando nos acostumamos com ela que percebemos que a diferença das construções das duas personagens acrescenta ao trabalho. No final, estamos apaixonados pelas duas, cada uma do seu “jeitão”. E aí Bia olha para Ana e diz “Foi bom ter chegado contigo até aqui” e a peça chega quase no fim.

Então, olhei para meu lado e vi uma pessoa que conheci há seis meses e outra que não via há dez anos. Ao longo da vida, sempre preferi contar com a fiel presença de amigos fiéis, do que contar comigo mesmo. Com eles, foi bom chegar até aqui.

E esse até aqui nem sempre precisa ser o ponto g.

*

Com:
Patsy Cecato
Heloísa Migliavacca

Texto e Direção:
Júlio Conte

4 de ago. de 2009

Meu casamento com mamãe


Foto: Gustavo Razzera


Para minha mãe

Para mim, a peça começa com o nascimento. Não o nascimento da filha, mas o nascimento da mãe. A mãe nasce quando nasce o filho, ou renasce quando nasce o irmão. O parto é de dois. E nisso nasceu também a minha vontade de agradecer a minha mãe.

Nasci na noite de um entardecer quente de janeiro, numa terça-feira em que minha mãe barriguda trabalhou o dia inteiro. Ela servia cafezinho, durante a semana, numa joalheria chique de São Paulo e era camareira de teatro quando tinha folga. Como comigo, a vida a levou para a copa e para o camarim, ao invés do balcão e do palco. E, a cada dia em que eu me torno a realização pessoal da minha mãe, fico com a pulga atrás da orelha sobre “e ela? Ela é a realização pessoal de si mesmo?”. Meu casamento com mamãe se dá nessa esfera de relacionamento entre eu e aquela que me deu a vida, sem abdicar de ter uma vida.

Sem abdicar de ter uma vida: a própria vida.

As situações criadas pelo casal de diretores Fernanda Marques e Eduardo Mendonça nem sempre andam onde eles devem ter querido. Proporcionando uma narrativa contada de forma nada linear, em que as falas são tão plásticas quanto as cadeiras, em que as palavras são tão visuais como também a trilha sonora, a liberdade está na teoria.

Minha mãe nunca me proibiu de nada. Os chocolates sempre estiveram ao meu alcance a qualquer hora do dia. E lembro de poder ficar na rua até a hora que eu quisesse desde que essa hora fosse previamente avisada e posteriormente cumprida. No entanto, não lembro de acordar com um copo de toddy ao lado da cama, nem histórias lidas ao dormir ou conselhos ao filho adolescente. Os atores de “Meu casamento com mamãe”, envoltos e envolventes em situações nada coerentes enquanto parte, mas bastante coesas como um todo, são formais demais. Marques e Mendonça não são pais tão liberais quanto parecem ser. Cada movimento, principalmente em Yheuriet Kalil e Luisa Herter, exibe uma marca que talvez devesse ficar submersa. Dos olhos a ponta do pé, de um modo geral, o espetáculo exibe uma insegurança própria de filhos cujas mães não são experientes ou são rígidas demais. Acrescenta-se a isso a triste situação do Teatro Hebraica, sucateado por sua mantenedora. Um palco com piso de parquet não favorece ninguém que não a tia da limpeza. O mesmo se dá na relação calças e iluminação. As calças de Kalil e de Rafael Régoli refletem a luz, essa já bastante pobre em termos técnicos, embora com visível boa vontade naquilo que diz respeito à estética.

Rafael Régoli mostra-se como um ator bastante interessante nesse primeiro semestre do ano. Com uma masculinidade visível tanto no rosto como nos movimentos corporais, seus exercícios cênicos, a guisa disso, têm sido lançados em outras direções. Em “Meu casamento com mamãe”, o ator diminui aquilo que lhe é natural, com vistas a equiparar-se com aqueles com quem contracena, exibindo uma maior flexibilidade, a sensibilidade que lhe é oposta ao que se vê. Uma vez que, em outra situação, a mesma postura garantiu ao trabalho um bom resultado, aqui infelizmente a fuga do natural encosta no artificial, mesmo não ficando nela.

O melhor de todos os elementos desse espetáculo bastante interessante é Vivian Salva: espontânea como, em teoria, o trabalho visa ser. Tudo o que uma mãe quer para seu filho não é mesmo vê-lo feliz? A atriz, em sua performance, dá balanço e leveza para a produção, tão carregada de combinações.

Para mim, o último suspiro é o da morte. Quando a filha se torna também mãe, deixando de ser filha, para entender a mãe e continuar a vida, mudando somente aquilo que sempre será. Agradece-se os anos de filiação e um novo nascimento se dá. No espectador, a história nasce assim que sai do corpo do palco cheio.

“Meu casamento com mamãe” me lembrou que minha mãe nunca me contou histórias porque eu mesmo sempre as inventei. E a dificuldade das pessoas compreenderem um espetáculo como esse reside unicamente na falta de entendimento de que quem ouve uma história também a escreve.

- Dona Francisca, um café, por favor?
*
FICHA TÉCNICA

Direção:
Eduardo Mendonça e Fernanda Marques

Elenco:
Yheuriet Kalil,
Luisa Herter,
Vivian Salva,
Rafael Régoli,
Eduardo Steinmetz.

Roteiro: o Grupo
Trilha Sonora: Ian Ramil, Eduardo Mendonça e Leo Aprato
Figurinos: João Junior
Cenário: Gabriel Lagoas

Produção: Ambrosia Cultural e Nossa! Produtora

Apoio: Studio Stravaganza

2 de ago. de 2009

Abobrinhas Recheadas

Foto: Cíntia Bracht

Três moedinhas e uma abóbora

Foi minha capricornianisse aguda que me fez estudar Semiótica. O PRAZER DE DESCOBRIR novos significados, novos sentidos, vinhos novos em odres velhos. Odres. Vinagres.

Foi meu amigo Charles Peirce e meu amigo Alexandre Silva quem me ensinaram que, na teoria do primeiro, o mundo real é inapreensível e tudo o que existe nele é mundo. Não há referentes que não interpretantes. Quando eu toco em uma xícara, ou mesmo olho pra ela, já não é xícara, mas a imagem, a sensação do toque que tenho dela. E, heraclitianamente falando, quando eu olhar pra ela novamente, já não será a mesma. O mundo é sempre uma novidade.

Assim, “Abobrinhas Recheadas*” ganha lugar na existência humana quando faz ver a troca de sentidos. O diretor solicita a dois bailarinos – no total, são quatro: cada um sentado no meio do quadrado formado pelo público. Como em tudo, o espaço de dentro é o espaço cênico. – que executem uma ordem dada. A ordem é obedecida e a coreografia (É um espetáculo de dança!) se dá a ver. Entra uma música de filme. “E o vento levou...”, por exemplo. Os movimentos se repetem, os sentidos, no entanto, nunca são os mesmos. O significado é outro.

O diretor fala ao microfone um texto sobre abobrinhas e como recheá-las. Então, a fala continua mesmo após a boca de Diego Mac, o próprio, já estar fechada. Não era ele quem ditava, mas um playback. Quase no final, voltamos pro início. Nesse espetáculo que não deveria sair de cartaz tão cedo, ou o espectador se acostuma com as mudanças de significado, ou abandona a própria vida. A terra era plana quando a percepção dela fazia crer que era assim. Mudou-se a percepção, mudou-se a definição. Nem redonda ela é mais hoje...

Um longuíssimo (pra mim, até demais!) solo a partir de referências sonoro-musicais do pop acontece. A relação com “abobrinhas”, expressão que usamos como sinônimo de bobagem, faz ver que o tema é a valorização daquilo a que valor não deve ser dado. Aí vem “Construção”, de Chico Buarque, reproduzida na íntegra do primeiro ao último som, desconstruindo proparoxítona por proparoxítona cada referência pop do solo anterior.

Tchaikovsky entra dançado com pantufas dizendo, talvez, que os cisnes enfeitiçados do lago somos nós muito mais em momentos do dia a dia que no estofado peludo de um sapato de salto raro. E Macarena, com apenas meia dúzia de passos, acaba sendo potência para mais que dúzias de movimentos tanto de bailarinos clássicos como de faxineiras ajoelhadas no chão dos nossos banheiros frios.

Em época em que o Aquecimento Global foi desligado no Rio Grande do Sul, o Grupo Gaia veio mostrar sua existência. Um ato que se modifica a cada novo olhar, mostrando que o I Ching estava certo quando, há quarenta séculos atrás, dizia que a constância está na mudança.

E que o recheio da abobrinha pode ser, dependendo do teu olhar, a própria e incrível abobrinha.


* Espetáculo de dança contemporânea resultante da pesquisa "Reprocessamentos Coreográficos: traduções estético-culturais entre dança e vídeo."




FICHA TÉCNICA:

Direção: Diego Mac
Projeto Coreográfico: Alessandra Chemello e Diego Mac

Intépretes:
Daniela Aquino
Fabi Vanoni
Nilton Gaffree
Roberta Savian

Design gráfico: TUPAX pindoramogràphïco
Assessoria de Imprensa: Lauro Ramalho

  ©Template Blogger Green by Dicas Blogger.

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