Fora do ar
Foto: Luísa Barros
A tarefa do "da poltrona"
“Fora do Ar” é uma peça de teatro que não tem absolutamente nada que não seja teatralização do próprio corpo do ator. Os atores não têm a sua disposição nada mais para ser teatralizado, a não ser, claro, o corpo do outro ator. E são quatro: Felipe Mônaco, que estréia na tarefa de diretor; Cassiano Fraga, que estréia sua primeira peça adulta no circuito comercial da capital; Leonardo Barison,que repete (ainda bem!) a mesma técnica empregada em Bailei na Curva, Tá e aí?! e Manual Prático da Mulher Moderna; e Patrícia Soso, para quem, temos a impressão, a peça é feita, tamanha são as oportunidades que lhes são concedidas de mostrar o seu grande talento esse expresso no corpo, na voz e na energia. Soso é, sem dúvida, quem tem o melhor desempenho em cena, tanto na cena de “Fora do Ar”, como na cena do teatro de comédia de Porto Alegre.
Ainda e, acho que para sempre, com “Som & Fúria”, na cabeça, a primeira impressão foi a de que “Fora do Ar” seria um espetáculo cheio de piadas internas relacionadas ao fazer teatral em que os atores, com certeza, adorariam, mas o grande público dormiria de desinteresse. Sim, Felipe Mônaco nos proporciona uma hora de risos sobre o ator, mas não sobre o fazer teatral. O ator não é visto do ponto de vista de sua profissão, mas a partir da relação que as pessoas têm com ele. O ator, afinal, é aquele que está, nas artes cênicas, entre nós e os sonhos. Dessa forma, não rimos dos atores, do teatro, das dificuldades, mas de nós mesmos e do jeito como olhamos para quem constrói o sonho. Na cena em que o filho anuncia publicamente que quer ser ator, o riso maior não vem dele, nem tanto dos pais. Vem do apresentador de TV, âncora do programa em que isso é transmitido. E mais: rimos de nós mesmos que assistimos a esse programa na célebre desculpa do zapping. “O que on a heck estamos nós fazendo aqui?”
O mesmo conceito de situação acontece em todas as outras cenas em que aquele que quer ser ator ou atriz é posto em uma realidade sempre assistida por quem, em sua casa na confortável poltrona, ri de si próprio. O prazer da comédia “Fora do Ar” vem do prazer de ver o outro se dar mal, outro esse que nos quer fazer bem. No caso, o outro é um ator, aquele que nos (e)leva a sonhar. Daí a não necessidade de cor, de objetos, de cenários e outros elementos que conferem ao ator um trabalho a mais antes de atingir o sonho. Antes de atuar, o ator teatraliza o palco, ressignifica a luz, dá sentido à música e ao movimento. Nessa comédia que estréia com um ótimo ritmo cênico rara e infelizmente visto, o ator trilha seu caminho sem outros recursos. Vai direto a, quem diria, ele mesmo.
O título “Fora do Ar” diz respeito a como encaramos aqueles que estão “no ar” e nossa relação com esse significado por nós mesmos construído. Ao entrar no quadrado desenhado no chão, que brilho é esse pelo qual se luta? Quem é que lhes confere esse brilho se não aquele que liga o botão on do televisor ou paga o ingresso do teatro?
É uma homenagem ao trabalho do ator em cuja assistência não se vê o tempo passar, diverte-se muito e, sobretudo, faz pensar sobre nossa relação com quem pode até admirar tudo o que foi dito nesse texto sobre aquele que nos leva a sonhar, mas, por fim, vê o teatro como um trabalho que, afinal de contas, não deixa de ter o mesmo número de dificuldades que todas as outras profissões.
E nenhuma a mais.
Direção e Texto Original: Felipe Mônaco
Adaptação e Dramaturgia: Elenco
Criação de Luz: Carol Zimmer
“Fora do Ar” é uma peça de teatro que não tem absolutamente nada que não seja teatralização do próprio corpo do ator. Os atores não têm a sua disposição nada mais para ser teatralizado, a não ser, claro, o corpo do outro ator. E são quatro: Felipe Mônaco, que estréia na tarefa de diretor; Cassiano Fraga, que estréia sua primeira peça adulta no circuito comercial da capital; Leonardo Barison,que repete (ainda bem!) a mesma técnica empregada em Bailei na Curva, Tá e aí?! e Manual Prático da Mulher Moderna; e Patrícia Soso, para quem, temos a impressão, a peça é feita, tamanha são as oportunidades que lhes são concedidas de mostrar o seu grande talento esse expresso no corpo, na voz e na energia. Soso é, sem dúvida, quem tem o melhor desempenho em cena, tanto na cena de “Fora do Ar”, como na cena do teatro de comédia de Porto Alegre.
Ainda e, acho que para sempre, com “Som & Fúria”, na cabeça, a primeira impressão foi a de que “Fora do Ar” seria um espetáculo cheio de piadas internas relacionadas ao fazer teatral em que os atores, com certeza, adorariam, mas o grande público dormiria de desinteresse. Sim, Felipe Mônaco nos proporciona uma hora de risos sobre o ator, mas não sobre o fazer teatral. O ator não é visto do ponto de vista de sua profissão, mas a partir da relação que as pessoas têm com ele. O ator, afinal, é aquele que está, nas artes cênicas, entre nós e os sonhos. Dessa forma, não rimos dos atores, do teatro, das dificuldades, mas de nós mesmos e do jeito como olhamos para quem constrói o sonho. Na cena em que o filho anuncia publicamente que quer ser ator, o riso maior não vem dele, nem tanto dos pais. Vem do apresentador de TV, âncora do programa em que isso é transmitido. E mais: rimos de nós mesmos que assistimos a esse programa na célebre desculpa do zapping. “O que on a heck estamos nós fazendo aqui?”
O mesmo conceito de situação acontece em todas as outras cenas em que aquele que quer ser ator ou atriz é posto em uma realidade sempre assistida por quem, em sua casa na confortável poltrona, ri de si próprio. O prazer da comédia “Fora do Ar” vem do prazer de ver o outro se dar mal, outro esse que nos quer fazer bem. No caso, o outro é um ator, aquele que nos (e)leva a sonhar. Daí a não necessidade de cor, de objetos, de cenários e outros elementos que conferem ao ator um trabalho a mais antes de atingir o sonho. Antes de atuar, o ator teatraliza o palco, ressignifica a luz, dá sentido à música e ao movimento. Nessa comédia que estréia com um ótimo ritmo cênico rara e infelizmente visto, o ator trilha seu caminho sem outros recursos. Vai direto a, quem diria, ele mesmo.
O título “Fora do Ar” diz respeito a como encaramos aqueles que estão “no ar” e nossa relação com esse significado por nós mesmos construído. Ao entrar no quadrado desenhado no chão, que brilho é esse pelo qual se luta? Quem é que lhes confere esse brilho se não aquele que liga o botão on do televisor ou paga o ingresso do teatro?
É uma homenagem ao trabalho do ator em cuja assistência não se vê o tempo passar, diverte-se muito e, sobretudo, faz pensar sobre nossa relação com quem pode até admirar tudo o que foi dito nesse texto sobre aquele que nos leva a sonhar, mas, por fim, vê o teatro como um trabalho que, afinal de contas, não deixa de ter o mesmo número de dificuldades que todas as outras profissões.
E nenhuma a mais.
*
FICHA TÉCNICA
Adaptação e Dramaturgia: Elenco
Criação de Luz: Carol Zimmer
Operação de Luz: Felipe Vieira de Galisteo
Sonoplastia: Elenco
Elenco: Cassiano Fraga, Felipe Mônaco, Leonardo Barison e Patrícia Soso
Produção: Cassiano Fraga e Luísa Barros
Sonoplastia: Elenco
Elenco: Cassiano Fraga, Felipe Mônaco, Leonardo Barison e Patrícia Soso
Produção: Cassiano Fraga e Luísa Barros
2 Comentários:
Queria muito ver essa peça. Lembro do Felipe de outras épocas, da época do Tepa. Assisti Ensaios de Mulheres com ele e os Atores de Laura, aqui no Rio. Divertidíssimo. E ele vive 'locutando' na minha tv. Um barato.
Gosto do teatro experimental, contanto que conduza os nossos sonhos para a realidade. Zé.
Adorei a peça. Leve, divertida, ritmada... E Cassiano e Pati tão muito bem, assim como os outros.
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