Teatro de Rua de Porto Alegre
Algumas reflexões
Em 2009, o espetáculo de teatro de rua O amargo santo da purificação, da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveis ganhou como Melhor Espetáculo de Teatro Adulto do ano. Foi, sem dúvida, um grande momento na história do Teatro de Rua de Porto Alegre, movimento esse que, pelo que eu sei, se põe a discutir assuntos pertinentes ao seu fazer artístico, que é próprio, em uma rede de debates que integra vários grupos do estado e também de outros lugares do país. Meu intuito aqui é, em primeiro lugar, saudar esses artistas tão importantes para a oxigenação das artes cênicas na cidade, sempre levando teatro ao público de forma direta e plena. Em segundo lugar, contribuir com algumas reflexões que tenho feito acerca de sua produção. Em terceiro lugar, relatar alguns momentos desagradáveis que tenho tido com o Teatro de Rua, usando do meu direito de cidadão de reclamar, de cobrar, de fazer a minha parte para que haja um avanço, depois do reconhecimento público do ano anterior.
Sou jurado do Troféu Açorianos de Teatro Adulto de 2010. Sou crítico de teatro e tenho feito análises de espetáculos teatrais diversos, textos esses publicados nesse blog e em outros espaços virtuais e impressos. E meu lugar teórico é o da Semiótica Teatral, aporte conceitual que perdeu, nessa semana que passou, um dos seus maiores nomes, a pesquisadora Anne Übersfeld. Baseado em seus estudos, e nos estudos de outros pesquisadores de mesma linhagem (Ryngaert, Fischer, Pavis,...), para mim, teatro é:
Produção artística em que A interpreta B diante de C.
Nessa máxima, a relação entre A e B (ator e personagem) pode ser bastante distante (teatro clássico) ou bastante próxima (performance), envolvendo aí tudo o que possa ser dito sobre narrativa ou fábula, temática, formato, gênero. A relação entre B e C (público) promove discussões acerca da recepção teatral, da descodificação, da importância social, cultural, ideológica do teatro. A relação entre A e C permite refletir sobre a produção teatral, o aspecto econômico e social, as leis, os incentivos, os apoios, as parcerias, assim como a produção dramatúrgica e o envolvimento de outras artes no teatro. É a partir desse contexto que eu dirijo agora algumas perguntas ao Teatro de Rua de Porto Alegre sobre:
RELAÇÃO COM O PÚBLICO:
a) O Teatro de Rua assim é chamado porque abdica propositalmente de um lugar consagrado e invade um espaço que não é seu, mas que é público, que pode ser uma rua, uma praça, um mercado, um largo, uma orla, uma fábrica... Diferente do Teatro Que Não É De Rua, o público não sai de casa especialmente para vê-lo, mas é surpreendido pelo Grupo que, esse sim, saiu de casa para presenteá-lo. O Teatro de Rua invade um espaço que não é seu e torna transeuntes em público, em plateia. E esse tornar pode durar toda a duração do espetáculo ou apenas alguns minutos. Ou ainda um mero olhar. Diante disso, por que os espetáculos de Teatro de Rua de Porto Alegre são divulgados na mídia?
b) Sendo divulgados, por que não cumprem com a divulgação, ou seja, realmente se apresentam no lugar e na hora marcada?
c) Em caso de instabilidade climática, por que não mobilizam alguém para avisar o público de que a agenda não será cumprida?
d) Em Porto Alegre, acontecem espetáculos de Teatro de Rua em locais como Brique da Redenção e Usina do Gasômetro. Esses dois espaços são imensos. Em que lugar do Brique da Redenção? Em frente à Santa Terezinha? Em frente do Monumento ao Expedicionário? Próximo da João Pessoa? Próximo da Academia? Em que lugar na Usina? Perto do Cisne Branco? Perto da Elis Regina? No estacionamento?
Em suma, se o único público a ser considerado é aquele que foi pego por acaso, por que divulgar chamando aquelas pessoas que se organizam especialmente para ver um espetáculo agendado? E, se planejam privilegiar esse outro tipo de público, por que o desrespeitá-lo, fazendo com que a pessoa fique vagando por lugares públicos em busca de uma peça que ninguém sabe se vai realmente ocorrer em algum lugar?
Hoje (14/11) passei 30 minutos atrás do espetáculo Ao divagar se vai longe... . Semana passada, a mesma coisa atrás de O homem banda. Há alguns meses, o mesmo atrás de A caravana da ilusão. No ano passado, atrás de A noiva quer casar. E sei de gente que passou o mesmo atrás de outros espetáculos além desses. Se o C, ou seja, o público, faz parte do cerne do teatro, por que não valorizá-lo, não respeitá-lo, não facilitar as coisas para que ele possa estar presente?
ENCENAÇÃO:
a) A rua não é, como já se disse, um lugar privilegiado para o teatro. E, quando falo rua, não estou falando espaços teatrais a seu aberto como a Concha Acústica do Complexo Multipalco ou demais lugares sem telhado, mas especificamente preparados para o acontecimento teatral, com a providência de cadeiras e isolamento (Solos Trágicos e IntenCidade são dois espetáculos que aconteceram a céu aberto sem serem considerados, por isso, espetáculos de Teatro de Rua.). Ou seja, o espectador tem, a sua disposição, o espetáculo artístico, mas, também, o espetáculo natural: o pôr do sol, os carros, o movimento, os seus próprios compromissos, a imensa quantidade de coisas que acontecem durante a peça e em volta dela. Assim, por que alguns grupos se esforçam tanto em produzir um espetáculo cuja dramaturgia é tão complicada? Algumas peças a que tenho assistido já seriam difíceis dentro de uma sala fechada onde a concentração tem um lugar privlegiado. Muito mais difícil é ainda na rua. Linguagem rebuscada, grande uso de metáforas, requisição de repertório cultural raro, enfim, vários exercícios de expulsão da atenção ao invés de convergência. Por que não ser coerente com a sua própria proposta, enquanto gênero, e não levar para a rua a beleza da simplicidade, de uma boa história bem contada, de uma reflexão que democratize ao acesso ao debate? Cito os espetáculos do Grupo Oigalê como excelente exemplo disso. Também O vendedor de palavras, do Grupo Mototóti, A noiva quer casar, do Grupo Sarcáustico, e Sacra Folia, da Cia Stravaganza.
b) Sendo a rua um lugar não próprio para teatro, por que algumas produções são tão longas? Ficar em pé por mais de uma hora é muito cansativo e só aumenta a dispersão. Nem todo mundo gosta de sentar no chão e nem todo mundo anda pela rua munido de uma confortável cadeira de praia ou uma canga. Além da longa duração de alguns espetáculos, há um recurso interessante que é o de ficar mudando o espaço cênico, carregando o público consigo ao longo de um determinado parque ou rua. É rica a utilização de diferentes espaços para diferentes cenas, mas se a peça tem 40min. E não adianta em nada ficar discutindo sobre a quantidade de pessoas que conseguem prender sua atenção por tempos longos diante da era da televisão e da internet banda larga. Essa é a realidade que temos. Convém à produção, trabalhar com ela ao invés de ficar brigando com ela.
c) Para quantas pessoas o seu grupo faz Teatro de Rua? Para pequenos grupos ou para pequenas multidões? Ou grandes? Manter toda uma encenação para um grande número de pessoas no mesmo nível de lugar cênico só prejudica a visibilidade. Quem está atrás não vai enxergar nem ouvir o que está sendo dito. Menos ainda compreender... E o Teatro de Rua de Porto Alegre já é bastante adulto e já usou e abusou de várias técnicas que lhe são próprias para vencer esses desafios. Os novos grupos precisam estar atentos a esses avanços outrora obtidos e, às vezes, infelizmente esquecidos. Vale a pena ler a história da Terreira da Tribo, contada por Sandra Alencar, e o livro recentemente publicado por Jessé Oliveira sobre a história do Teatro de Rua em Porto Alegre.
GÊNERO:
a) Teatro de Rua é um gênero teatral, porque se pauta sobre questões diferentes de outros gêneros. Tem uma estrutura própria, necessidades próprias, linguagem própria. É um gênero disponível para hibridismos tanto quanto todos os outros, mas tem as suas idiossincrasias. Assim, por que não buscar algum reconhecimento que seja seu? Por que não haver um Troféu Açorianos de Teatro de Rua (que não precisa ser anual, mas poderia ser trienal ou bienal), já que, para avaliá-lo, é necessário todo um suporte teórico que é apenas na base puramente teatral?
b) Na rua, acontecem vários espetáculos artísticos. Mas Teatro de Rua é teatro e não é circo, não é espetáculo de música, nem show acrobático. O homem banda está inscrito no Troféu Açorianos 2010. É um equívoco. Não é um espetáculo teatral, embora haja uma certa teatralidade na sua produção. É um espetáculo de música e não deveria ter sido aceito pela Coordenação de Artes Cênicas, mas encaminhado ao Troféu Açorianos de Música. Nele, o teatro tem tanto lugar quanto, nos outros espetáculos, tem a música. O mesmo se pode dizer do circo e das artes acrobáticas. É espetáculo de teatro com acrobacias ou um show acrobático com um quê de teatral?
RELAÇÃO COM A SOCIEDADE
a) O Movimento de Teatro de Rua de Porto Alegre merece ter garantido o seu direito de apresentação e esse com respeito. O que a sociedade, e aqui me dirijo para a Coordenação de Artes Cênicas de Porto Alegre e, por assim dizer, a Secretaria Municipal e Estadual de Cultura, faz por isso? Até quando o público da cidade vai ter que aplaudir os atores desse gênero teatral após passar vários minutos se esforçando para valorizar esses artistas em meio a shows grandiosos no Palco da Redenção (que é qualquer coisa menos um parque aos domingos) ou em meio a Homens do Gato, Índios Cantores, Vendedores Ambulantes com suas caixas de som e microfones? A liberdade de todos se expressarem precisa conviver com o direito de todos se expressarem em igual condições.
b) O que a Coordenação de Artes Cênicas de Porto Alegre fez em relação ao Grupo Levanta Favela, levado à delegacia após ter seu espetáculo interrompido?
Em 2010, quatro espetáculos de Teatro de Rua concorrem ao troféu de Melhor Espetáculo do Ano. Só por isso a discussão já é pertinente. Fica aqui o registro de um movimento que, já orgulhosamente crescido, merece mais respeito da sociedade e de si próprio.
Em 2009, o espetáculo de teatro de rua O amargo santo da purificação, da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveis ganhou como Melhor Espetáculo de Teatro Adulto do ano. Foi, sem dúvida, um grande momento na história do Teatro de Rua de Porto Alegre, movimento esse que, pelo que eu sei, se põe a discutir assuntos pertinentes ao seu fazer artístico, que é próprio, em uma rede de debates que integra vários grupos do estado e também de outros lugares do país. Meu intuito aqui é, em primeiro lugar, saudar esses artistas tão importantes para a oxigenação das artes cênicas na cidade, sempre levando teatro ao público de forma direta e plena. Em segundo lugar, contribuir com algumas reflexões que tenho feito acerca de sua produção. Em terceiro lugar, relatar alguns momentos desagradáveis que tenho tido com o Teatro de Rua, usando do meu direito de cidadão de reclamar, de cobrar, de fazer a minha parte para que haja um avanço, depois do reconhecimento público do ano anterior.
Sou jurado do Troféu Açorianos de Teatro Adulto de 2010. Sou crítico de teatro e tenho feito análises de espetáculos teatrais diversos, textos esses publicados nesse blog e em outros espaços virtuais e impressos. E meu lugar teórico é o da Semiótica Teatral, aporte conceitual que perdeu, nessa semana que passou, um dos seus maiores nomes, a pesquisadora Anne Übersfeld. Baseado em seus estudos, e nos estudos de outros pesquisadores de mesma linhagem (Ryngaert, Fischer, Pavis,...), para mim, teatro é:
Produção artística em que A interpreta B diante de C.
Nessa máxima, a relação entre A e B (ator e personagem) pode ser bastante distante (teatro clássico) ou bastante próxima (performance), envolvendo aí tudo o que possa ser dito sobre narrativa ou fábula, temática, formato, gênero. A relação entre B e C (público) promove discussões acerca da recepção teatral, da descodificação, da importância social, cultural, ideológica do teatro. A relação entre A e C permite refletir sobre a produção teatral, o aspecto econômico e social, as leis, os incentivos, os apoios, as parcerias, assim como a produção dramatúrgica e o envolvimento de outras artes no teatro. É a partir desse contexto que eu dirijo agora algumas perguntas ao Teatro de Rua de Porto Alegre sobre:
RELAÇÃO COM O PÚBLICO:
a) O Teatro de Rua assim é chamado porque abdica propositalmente de um lugar consagrado e invade um espaço que não é seu, mas que é público, que pode ser uma rua, uma praça, um mercado, um largo, uma orla, uma fábrica... Diferente do Teatro Que Não É De Rua, o público não sai de casa especialmente para vê-lo, mas é surpreendido pelo Grupo que, esse sim, saiu de casa para presenteá-lo. O Teatro de Rua invade um espaço que não é seu e torna transeuntes em público, em plateia. E esse tornar pode durar toda a duração do espetáculo ou apenas alguns minutos. Ou ainda um mero olhar. Diante disso, por que os espetáculos de Teatro de Rua de Porto Alegre são divulgados na mídia?
b) Sendo divulgados, por que não cumprem com a divulgação, ou seja, realmente se apresentam no lugar e na hora marcada?
c) Em caso de instabilidade climática, por que não mobilizam alguém para avisar o público de que a agenda não será cumprida?
d) Em Porto Alegre, acontecem espetáculos de Teatro de Rua em locais como Brique da Redenção e Usina do Gasômetro. Esses dois espaços são imensos. Em que lugar do Brique da Redenção? Em frente à Santa Terezinha? Em frente do Monumento ao Expedicionário? Próximo da João Pessoa? Próximo da Academia? Em que lugar na Usina? Perto do Cisne Branco? Perto da Elis Regina? No estacionamento?
Em suma, se o único público a ser considerado é aquele que foi pego por acaso, por que divulgar chamando aquelas pessoas que se organizam especialmente para ver um espetáculo agendado? E, se planejam privilegiar esse outro tipo de público, por que o desrespeitá-lo, fazendo com que a pessoa fique vagando por lugares públicos em busca de uma peça que ninguém sabe se vai realmente ocorrer em algum lugar?
Hoje (14/11) passei 30 minutos atrás do espetáculo Ao divagar se vai longe... . Semana passada, a mesma coisa atrás de O homem banda. Há alguns meses, o mesmo atrás de A caravana da ilusão. No ano passado, atrás de A noiva quer casar. E sei de gente que passou o mesmo atrás de outros espetáculos além desses. Se o C, ou seja, o público, faz parte do cerne do teatro, por que não valorizá-lo, não respeitá-lo, não facilitar as coisas para que ele possa estar presente?
ENCENAÇÃO:
a) A rua não é, como já se disse, um lugar privilegiado para o teatro. E, quando falo rua, não estou falando espaços teatrais a seu aberto como a Concha Acústica do Complexo Multipalco ou demais lugares sem telhado, mas especificamente preparados para o acontecimento teatral, com a providência de cadeiras e isolamento (Solos Trágicos e IntenCidade são dois espetáculos que aconteceram a céu aberto sem serem considerados, por isso, espetáculos de Teatro de Rua.). Ou seja, o espectador tem, a sua disposição, o espetáculo artístico, mas, também, o espetáculo natural: o pôr do sol, os carros, o movimento, os seus próprios compromissos, a imensa quantidade de coisas que acontecem durante a peça e em volta dela. Assim, por que alguns grupos se esforçam tanto em produzir um espetáculo cuja dramaturgia é tão complicada? Algumas peças a que tenho assistido já seriam difíceis dentro de uma sala fechada onde a concentração tem um lugar privlegiado. Muito mais difícil é ainda na rua. Linguagem rebuscada, grande uso de metáforas, requisição de repertório cultural raro, enfim, vários exercícios de expulsão da atenção ao invés de convergência. Por que não ser coerente com a sua própria proposta, enquanto gênero, e não levar para a rua a beleza da simplicidade, de uma boa história bem contada, de uma reflexão que democratize ao acesso ao debate? Cito os espetáculos do Grupo Oigalê como excelente exemplo disso. Também O vendedor de palavras, do Grupo Mototóti, A noiva quer casar, do Grupo Sarcáustico, e Sacra Folia, da Cia Stravaganza.
b) Sendo a rua um lugar não próprio para teatro, por que algumas produções são tão longas? Ficar em pé por mais de uma hora é muito cansativo e só aumenta a dispersão. Nem todo mundo gosta de sentar no chão e nem todo mundo anda pela rua munido de uma confortável cadeira de praia ou uma canga. Além da longa duração de alguns espetáculos, há um recurso interessante que é o de ficar mudando o espaço cênico, carregando o público consigo ao longo de um determinado parque ou rua. É rica a utilização de diferentes espaços para diferentes cenas, mas se a peça tem 40min. E não adianta em nada ficar discutindo sobre a quantidade de pessoas que conseguem prender sua atenção por tempos longos diante da era da televisão e da internet banda larga. Essa é a realidade que temos. Convém à produção, trabalhar com ela ao invés de ficar brigando com ela.
c) Para quantas pessoas o seu grupo faz Teatro de Rua? Para pequenos grupos ou para pequenas multidões? Ou grandes? Manter toda uma encenação para um grande número de pessoas no mesmo nível de lugar cênico só prejudica a visibilidade. Quem está atrás não vai enxergar nem ouvir o que está sendo dito. Menos ainda compreender... E o Teatro de Rua de Porto Alegre já é bastante adulto e já usou e abusou de várias técnicas que lhe são próprias para vencer esses desafios. Os novos grupos precisam estar atentos a esses avanços outrora obtidos e, às vezes, infelizmente esquecidos. Vale a pena ler a história da Terreira da Tribo, contada por Sandra Alencar, e o livro recentemente publicado por Jessé Oliveira sobre a história do Teatro de Rua em Porto Alegre.
GÊNERO:
a) Teatro de Rua é um gênero teatral, porque se pauta sobre questões diferentes de outros gêneros. Tem uma estrutura própria, necessidades próprias, linguagem própria. É um gênero disponível para hibridismos tanto quanto todos os outros, mas tem as suas idiossincrasias. Assim, por que não buscar algum reconhecimento que seja seu? Por que não haver um Troféu Açorianos de Teatro de Rua (que não precisa ser anual, mas poderia ser trienal ou bienal), já que, para avaliá-lo, é necessário todo um suporte teórico que é apenas na base puramente teatral?
b) Na rua, acontecem vários espetáculos artísticos. Mas Teatro de Rua é teatro e não é circo, não é espetáculo de música, nem show acrobático. O homem banda está inscrito no Troféu Açorianos 2010. É um equívoco. Não é um espetáculo teatral, embora haja uma certa teatralidade na sua produção. É um espetáculo de música e não deveria ter sido aceito pela Coordenação de Artes Cênicas, mas encaminhado ao Troféu Açorianos de Música. Nele, o teatro tem tanto lugar quanto, nos outros espetáculos, tem a música. O mesmo se pode dizer do circo e das artes acrobáticas. É espetáculo de teatro com acrobacias ou um show acrobático com um quê de teatral?
RELAÇÃO COM A SOCIEDADE
a) O Movimento de Teatro de Rua de Porto Alegre merece ter garantido o seu direito de apresentação e esse com respeito. O que a sociedade, e aqui me dirijo para a Coordenação de Artes Cênicas de Porto Alegre e, por assim dizer, a Secretaria Municipal e Estadual de Cultura, faz por isso? Até quando o público da cidade vai ter que aplaudir os atores desse gênero teatral após passar vários minutos se esforçando para valorizar esses artistas em meio a shows grandiosos no Palco da Redenção (que é qualquer coisa menos um parque aos domingos) ou em meio a Homens do Gato, Índios Cantores, Vendedores Ambulantes com suas caixas de som e microfones? A liberdade de todos se expressarem precisa conviver com o direito de todos se expressarem em igual condições.
b) O que a Coordenação de Artes Cênicas de Porto Alegre fez em relação ao Grupo Levanta Favela, levado à delegacia após ter seu espetáculo interrompido?
Em 2010, quatro espetáculos de Teatro de Rua concorrem ao troféu de Melhor Espetáculo do Ano. Só por isso a discussão já é pertinente. Fica aqui o registro de um movimento que, já orgulhosamente crescido, merece mais respeito da sociedade e de si próprio.
4 Comentários:
E agora mais essa:
http://www.radioguaiba.com.br/Noticias/?Noticia=221522
O que está acontecendo com Porto Alegre, heim??
Sabes que há tempos venho tecendo reflexões em relação à Dança de Rua que são semelhantes às que fizeste ao Teatro de Rua? Embora sejam duas estéticas que partem de perspectivas distintas, algumas questões são muito pertinentes de serem aplicadas à Dança de Rua. A vontade seria reescrever o teu texto somente trocando as expressões pra ver o resultado heheh :)
Rodrigo, são várias questões que levantas. Me atenho a três que entendo mais objetivas e pertinentes a uma reflexão imediata.
1.A questão da participação do teatro de rua no prêmio Açorianos de teatro.
A Coordenação de Artes Cênicas não faz a distinção do teatro de rua como um gênero teatral diferenciado. Considera o teatro de rua da mesma forma que o teatro de sala. Não entende que o teatro de rua, por ser realizado em locais abertos, públicos e etc, precise tratar de assuntos específicos, usar tambor, fazer a roda, ser mais objetivo, abdicar da metáfora ou contar histórias completas simplificadas com início meio e fim e nesta ordem. Esta é, no nosso entendimento, a base teórica de um preconceito do qual não compartilhamos.
Entendemos que o teatro de rua pode ser inovador, transgressor, ousado, e até muito conservador, mesmo sendo realizado em locais públicos. Entendo, particularmente a distinção entre teatro de rua e teatro na rua que, de vez em quando aparece, absolutamente estéril.
2. Quanto a sua organização, seus horários e suas apresentações. Não vemos como algo incoerente ou desfavorável o fato do teatro de rua divulgar-se na mídia. Entendemos que uma coisa não impede a outra. Concordo que quando um grupo deseja divulgar suas apresentações na mídia ou até participar de um prêmio como o Açorianos suas apresentações precisam ocorrer conforme horários determinados permitindo que se concretize o compromisso firmado. No entanto, trata-se daí de uma questão de organização interna do grupo etc.
Quanto a não apresentação do espetáculo o Homem Banda, peço desculpas em nome da Coordenação de Artes Cênicas. Também procurei o espetáculo duas vezes e não o encontrei. Termos que rever este caso. No entanto, considero este um caso isolado.
3. Sobre o Levanta Favela.
A Coordenação de Artes Cênicas está atenta a questão da qual o referido grupo foi, infelizmente protagonista. Vemos Porto Alegre como uma cidade que valoriza seu teatro de rua e que já possui uma importante tradição desta manifestação. Vemos também que nossos artistas não costumam ser presos por realizarem suas apresentações. É certo que em determinados locais da cidade como a esquina democrática, o Largo Glênio Peres, a Redenção entre outros, é necessária uma licença junto aos órgãos competentes. Mas o fato de não ter licença não gera prisão. Essa licença somente possui o sentido de organizar as apresentações em um cronograma adequado. Evitando congestionamento de manifestações. É importante que se entenda que o espaço público é um espaço de todos, e portanto, um espaço que deve ser compartilhado. Deve haver e há um ordenamento necessário, pois se não, viveríamos no caos. No caso específico do grupo Levanta Favela me parece ter havido uma falta de bom censo de ambas as partes para se evitar que o conflito chegasse àquele ponto. Entendemos também como um fato isolado que não reflete a o que costumeiramente acontece nas ruas de Porto Alegre.
Para finalizar gostaria de colocar que aceitamos os conflitos, entendemos nossa sociedade dentro de um contexto de diversidade cultural e neste contexto os embates culturais são e serão inevitáveis. A política cultural que julgamos necessária tem em sua base a compreensão de que devemos trabalhar no sentido de construirmos uma cultura política. Ou seja, uma cultura que nos permita a convivência na polis. Nessa construção a cultura tem um papel preponderante no sentido de dar a base para os entendimentos necessários. Uma sociedade baseada na ética e na não necessidade da repressão Estatal. Há, sem dúvida, muito o quê fazer. Vamos fazê-lo juntos.
Um abraço.
Breno Ketzer Saul
Coordenador de Artes Cênicas da Secretaria Municipal da Cultura.
Olá Rodrigo, tudo bem??
Dia 17 de Novembro, 4ª feira, à partir do meio-dia NA ESQUINA DEMOCRÁTICA vai acontecer o Ato Diálogo na Esquina organizado pela Rede Brasileira de Tetro de Rua Região Sul.
Ato em repúdio ao desrespeito aos artistas de rua, à autorização para apresentações,à cobrança de taxas para apresentação em espaços públicos.
Já temos relatos de vários companheiros de Teatro de Rua de outros estados (Bahia, São Paulo...) que por lá as prefeituras já estão cobrando dos grupos para a liberação de suas apresentações em espaços públicos e impondo restrições quanto aos horários das apresentações.
Nenhuma Secretaria se pronunciou à respeito do fato ocorrido com o Levanta FavelA... na Esquina "Democrática".
Estamos saindo às ruas buscando amparo na Art.5º da Constituição (Parágrafo IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;)
Por Favor nos ajude a divulgar este ato.A presença das pessoas que de alguma maneira estão ligadas às manifestações culturais de rua é muito importante.
Muito Obrigado. Abraço.
Robson Reinoso p/ Cambada Levanta FavelA...
OBS: desculpe os erros de português.
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