Sexo, mentiras e gargalhadas
Foto: divulgação
Quem gosta vai se divertir!
Sexo, mentiras e gargalhadas é um espetáculo teatral do gênero Stand Up Comedy, ou seja, a cada vez, um ator ocupará o palco e, atrás de um microfone, entreterá o público de alguma forma: contando uma história cômica, conversando, cantando, fazendo alguma mímica, etc... Como o próprio nome já diz, as histórias terão como eixo o tema sexo e mentira, sendo ambos direcionados a fim de obter, do público, o riso, a gargalhada. Na introdução, a Mamma Gioconda Ravioli, avisa: é um espetáculo cheio de palavrões e bandalheiras. Ela, que já assistiu, não recomenda. Enquanto isso, ouvimos, entre outras pérolas, uma música dos Mamonas Assassinas, um grupo que ficou bastante conhecido no lançamento do seu único disco (antes de todos da banda falecerem num desastre aéreo em 1996) em que todas as músicas eram debochadas, preconceituosas, irônicas e, sobretudo, engraçadas. Esse é o panorama estético que a produção apresenta ao público que ainda espera o espetáculo começar. E é baseado nisso e no que começará a vir que o espetáculo deve ser avaliado.
E o resultado só pode ser de muito bom a ótimo.
O espetáculo se apresenta como um Stand Up Comedy e é um Stand Up Comedy. Diz que vai haver palavras de baixo calão e, sim, elas existem no texto. As histórias, sim, têm algum componente sexual ou de mentiras em suas estruturas. As trilhas dos Mamonas Assassinas e da Gretchen combinam com as expressões politicamente incorretas ditas nesse espetáculo que é debochado, irônico e engraçado. Logo, se alguém esperava para ver outra coisa, então, não foi enganado, mas enganou-se sozinho. Felizmente, o palco de Porto Alegre é rico em todas as suas possibilidades de agenda cênica: entre elas, há o espaço assegurado para a comédia rasteira, o humor rápido, o puro entretenimento que esse tipo de produção fornece. Sexo, mentiras e gargalhadas é um espetáculo teatral digno do sucesso que faz e, por, antes de tudo, oferecer o que promete, merece respeito.
Paulo Adriane tem as duas construções das três construções mais carismáticas. Sua sexóloga Shana abre o espetáculo interagindo com o público e alternando momentos de exposição dos tabus e um certo pudor com o qual a plateia mais tradicional se identifica. Sem a agressão temida desse tipo de personagem, o ator explora a feminilidade da personagem e cria um ambiente acolhedor para a peça que começa. Seu segundo personagem, o quarto a aparecer em cena, é Joselito, um artista. Pobre, do interior, feio e mirrado, ele conta suas mazelas e desperta em nós um certo apreço. Quando sua história atinge o sucesso, sua narração deixa claro os motivos dessa conquista. Paulo Adriane exibe seu talento em construir personagens, esses expressos com cores bem marcadas: sua voz, seu corpo, seu movimento é diferente em cada um deles.
Pablo Capalonga é o responsável pela construção de Dona Isolina, outra das personagens mais interessantes de Sexo, mentiras e gargalhadas. Aos 80 anos, ela entra aparentemente presa a uma bolsa de soro. Então, descobrimos que é uma farsa: ela não está doente, nem sua idade é limitadora como pré-concebemos a partir de sua figura. O que ela quer é virar “puta”. O riso vem fácil porque o conflito é notório. A interpretação tem pausas e nuances capazes de nos fazer prender a atenção.
Não há nenhum elemento visual (figurinos, iluminação e cenário) que esteja colocado de forma mal cuidada. Percebe-se que houve pesquisa quando se nota que as roupas se encaixam com os personagens e suas histórias, quando o cenário confere profundidade ao essencial - apenas um microfone -, e quando a luz reforça a situação: é um programa de televisão. E, nesse aspecto, está, talvez, uma das grandes contribuições desse espetáculo ao gênero ao qual ele pertence. Pouco a pouco, as histórias e os personagens vão se misturando. No último quadro, o espectador tem instrumentos necessários para reconhecer que há entre todos os universos anteriormente dispostos uma linha que os prende. Essa decisão da dramaturgia é uma alternativa interessante às demais produções de Stand Up Comedy que optam por manter-se fragmentadas em seus quadros isolados.
Assim, longe do gosto/não gosto, a análise aqui disposta reconhece valores na produção. Entre os elementos não tratados, fica-se a percepção de que algo neles poderia ser ainda mais desenvolvido, assegurando–se o fato de que uma peça teatral sempre tem a crescer. E o crescimento é ainda mais bem vindo quando parte de uma produção já grande em termos de qualidade.
*
Ficha Técnica:
Textos: Claudio Benevenga, Pablo Capalonga e Paulo Adriane
Direção: Claudio Benevenga
Elenco: Paulo Adriane, Pablo Capalonga, Claudio Benevenga
Ator standin: Henri Iunes
Iluminação: Anilton Souza
Trilha Sonora: Jorge Foques
Cenotécnico: Hélio Pequelin
Coreografia: Paulo Adriane
Cenário e Figurinos: Claudio Benevenga
Projeto Gráfico: Dian Paiani
Produção Executiva: Claudio Benevenga e Denizeli Cardoso
Quem gosta vai se divertir!
Sexo, mentiras e gargalhadas é um espetáculo teatral do gênero Stand Up Comedy, ou seja, a cada vez, um ator ocupará o palco e, atrás de um microfone, entreterá o público de alguma forma: contando uma história cômica, conversando, cantando, fazendo alguma mímica, etc... Como o próprio nome já diz, as histórias terão como eixo o tema sexo e mentira, sendo ambos direcionados a fim de obter, do público, o riso, a gargalhada. Na introdução, a Mamma Gioconda Ravioli, avisa: é um espetáculo cheio de palavrões e bandalheiras. Ela, que já assistiu, não recomenda. Enquanto isso, ouvimos, entre outras pérolas, uma música dos Mamonas Assassinas, um grupo que ficou bastante conhecido no lançamento do seu único disco (antes de todos da banda falecerem num desastre aéreo em 1996) em que todas as músicas eram debochadas, preconceituosas, irônicas e, sobretudo, engraçadas. Esse é o panorama estético que a produção apresenta ao público que ainda espera o espetáculo começar. E é baseado nisso e no que começará a vir que o espetáculo deve ser avaliado.
E o resultado só pode ser de muito bom a ótimo.
O espetáculo se apresenta como um Stand Up Comedy e é um Stand Up Comedy. Diz que vai haver palavras de baixo calão e, sim, elas existem no texto. As histórias, sim, têm algum componente sexual ou de mentiras em suas estruturas. As trilhas dos Mamonas Assassinas e da Gretchen combinam com as expressões politicamente incorretas ditas nesse espetáculo que é debochado, irônico e engraçado. Logo, se alguém esperava para ver outra coisa, então, não foi enganado, mas enganou-se sozinho. Felizmente, o palco de Porto Alegre é rico em todas as suas possibilidades de agenda cênica: entre elas, há o espaço assegurado para a comédia rasteira, o humor rápido, o puro entretenimento que esse tipo de produção fornece. Sexo, mentiras e gargalhadas é um espetáculo teatral digno do sucesso que faz e, por, antes de tudo, oferecer o que promete, merece respeito.
Paulo Adriane tem as duas construções das três construções mais carismáticas. Sua sexóloga Shana abre o espetáculo interagindo com o público e alternando momentos de exposição dos tabus e um certo pudor com o qual a plateia mais tradicional se identifica. Sem a agressão temida desse tipo de personagem, o ator explora a feminilidade da personagem e cria um ambiente acolhedor para a peça que começa. Seu segundo personagem, o quarto a aparecer em cena, é Joselito, um artista. Pobre, do interior, feio e mirrado, ele conta suas mazelas e desperta em nós um certo apreço. Quando sua história atinge o sucesso, sua narração deixa claro os motivos dessa conquista. Paulo Adriane exibe seu talento em construir personagens, esses expressos com cores bem marcadas: sua voz, seu corpo, seu movimento é diferente em cada um deles.
Pablo Capalonga é o responsável pela construção de Dona Isolina, outra das personagens mais interessantes de Sexo, mentiras e gargalhadas. Aos 80 anos, ela entra aparentemente presa a uma bolsa de soro. Então, descobrimos que é uma farsa: ela não está doente, nem sua idade é limitadora como pré-concebemos a partir de sua figura. O que ela quer é virar “puta”. O riso vem fácil porque o conflito é notório. A interpretação tem pausas e nuances capazes de nos fazer prender a atenção.
Não há nenhum elemento visual (figurinos, iluminação e cenário) que esteja colocado de forma mal cuidada. Percebe-se que houve pesquisa quando se nota que as roupas se encaixam com os personagens e suas histórias, quando o cenário confere profundidade ao essencial - apenas um microfone -, e quando a luz reforça a situação: é um programa de televisão. E, nesse aspecto, está, talvez, uma das grandes contribuições desse espetáculo ao gênero ao qual ele pertence. Pouco a pouco, as histórias e os personagens vão se misturando. No último quadro, o espectador tem instrumentos necessários para reconhecer que há entre todos os universos anteriormente dispostos uma linha que os prende. Essa decisão da dramaturgia é uma alternativa interessante às demais produções de Stand Up Comedy que optam por manter-se fragmentadas em seus quadros isolados.
Assim, longe do gosto/não gosto, a análise aqui disposta reconhece valores na produção. Entre os elementos não tratados, fica-se a percepção de que algo neles poderia ser ainda mais desenvolvido, assegurando–se o fato de que uma peça teatral sempre tem a crescer. E o crescimento é ainda mais bem vindo quando parte de uma produção já grande em termos de qualidade.
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Ficha Técnica:
Textos: Claudio Benevenga, Pablo Capalonga e Paulo Adriane
Direção: Claudio Benevenga
Elenco: Paulo Adriane, Pablo Capalonga, Claudio Benevenga
Ator standin: Henri Iunes
Iluminação: Anilton Souza
Trilha Sonora: Jorge Foques
Cenotécnico: Hélio Pequelin
Coreografia: Paulo Adriane
Cenário e Figurinos: Claudio Benevenga
Projeto Gráfico: Dian Paiani
Produção Executiva: Claudio Benevenga e Denizeli Cardoso
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