Lipstick Station
Democracia Cênica: um controle remoto e pouca empolgação
Lipstick Station, antes de qualquer coisa, é interessente porque acende uma fogueira: é teatro ou não é? Ou até que ponto é teatro e a partir de que ponto não é? É ou não é, no entanto, me parece ser uma discussão que a Santa Estação Cia de Teatro dá pouca importância. Cada ator (?) entra em cena, vindos de lugares diferentes, dizendo o número de sua carteira de identidade. E propõe: Cada um é um número?
Sete pessoas em cena. Sete números diferentes. Talvez esse seja o motivo que fez com que, das quarenta e cinco pessoas na platéia, no dia em que eu fui, umas quarenta se mostraram pouco empolgadas... Talvez, porque também não estou aqui para dizer o que é e o que não é. Em "Lisptick Station" falta alguém que o faça.
O que é que eu devo olhar? Porque se eu tiver a liberdade de escolher para onde olhar, nossa!, terei muitas opções!!
O palco é lindo. Cheio de móveis, quadros, cantos, espaços, detalhes, instrumentos, fios, microfones, cadeiras, cores, escuridões, luzes e focos. Os figurinos são produzidos, não produzidos, arranjados, conseguidos, coloridos, ponto ponto ponto. O repertório musical é cult, brega, moderno, retrô, virgula virgula virgula. E as pessoas em cena são cantores, atores, músicos, bailarinos, bons, ruins, ótimos, nem tanto... O espaço de tempo da peça passa rápido, devagar, quase parando, nossa-já-acabou?, vamos-comer-o-que-depois?...
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Em vários momentinhos, alguém foi lá e disse: AI-5! É isso e tá acabado. Um deles é o momento da foto (lembrei agora de "Pense em mim" também...) que ilustra esse texto. A luz diminui, ninguém fora da cena puxa foco, os músicos tocam, os que não tocam ficam quietos e a cena (cênico, encenador, cenógrafo, cenário, arte cênica!) acontece. Reconhece-se os personagens. Recebe-se o glorioso convite para "entrar na história". E as quarenta e cinco pessoas são uma só, um só número, uma só identidade: receptores da história contada, p-l-a-t-é-i-a!
Na grande maioria dos momentões, a apresentação é democrática, interativa, high definition,200 canais e um controle remoto que muda de canal a toda hora e não ri de nenhuma piada, nem chora com nenhum melodrama. Zap!
Zap! Rafael Pimenta se esforça em prender a nossa atenção, fazendo com que ela se volte para a cena. Se ele está nela, então, os olhos do ator brilham, o corpo se desenvolve e cresce, a intenção se define. Se ele não está sob o foco, toma a sua água, fica quieto e informa: "Não adianta olhar pra mim! Eu não tenho nada pra te dizer agora!"
Zap! Eduardo Mendonça, Marcos Bombardelli e Eduardo Steinmetz são o TV Senado. Tão ali. A gente paga por esse canal. Mas a gente nunca olha...
Zap! A produção dirigida por Jezebel de Carli tem muita coisa além de teatro. Uma tv não é só novela... Sobre o resto, é esperar que uma das quarenta e quatro daquele dia fale alguma coisa. Afinal, a internet é democrática!
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ELENCO:
Denis Gosch
Eduardo Mendonça
Eduardo Steinmetz
Marcos Bombardelli
Ricardo Barpp
Rafael Pimenta
Tatiana Vinhais
FICHA TÉCNICA:
Direção: Jezebel De Carli
Direção Musical : Eduardo Mendonça
Assistente de direção: Leo Maciel
Cenografia: Marcio Dias
Maquiagem: Nikki Goulart
2 Comentários:
Acabo de descobrir que os números ditos não os RGs dos atores, mas seus CPFs.
Corrigi o nome da música: "Entre tapas e beijos" foi um equívoco meu que, oportunamente, cede lugar para "Pense em mim". Peço desculpas ao grupo pelo engano.
Dei-me conta que era o CPF na hora do espetáculo por que o início de um era igual ao meu. Mas enfim, gostei bastante, por que esperava um show e vi uma coisa qualquer que misturava outras várias coisas quaisquer. Tem, realmente, altos e baixos, mas merece no mínimo uma nota 7,5 vai...
Abraço!
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