14 de jan. de 2009

Caminhos que cruzei, amigos que encontrei...


Pai de Divina Bondade, perdoai a Cia. Artiurbana


... por utilizarem o melodrama, tão rico e tão sólido, de forma tão pobre e superficial. A direção não percebeu que o gênero é excelente para o trato com o tema espiritualismo porque ressalta a moral, o ensinamento, a pregação de valores, a afirmação de uma teoria e, por isso, não permite que percamos tempo fazendo de conta que vemos fontes, copos de vinho, portas e armas. Se o vestido de noiva é visível, por que também a arma não é? Se o elenco não domina a técnica, por que um diretor insiste em criar convenções tão subjetivas?

... por permitir que os atores gritem tanto (sendo que o que mais grita é Luis Carlos Pretto, o próprio diretor, ator também do espetáculo), gastem tanto sua voz, e prejudiquem tanto os ouvidos da platéia a ponto de, sinceramente, dar vontade de levantar e pedir que diminuam o volume porque “a velhinha surda” da última fila é só uma historinha que a gente conta para o elenco projetar a voz. Ela, de fato, não existe. Ou, pelo menos, não sentaria na última fila...

... por permitir que uma concepção deixe que uma atriz perca o controle emocional em cena, numa ânsia de interpretar (?) bem, esquecendo que teatro é o trabalho do ator a não a vida dele. Memória afetiva (Stanislavski na veia!!) é recurso do ator para construir o personagem. Não é o personagem.

... por uma dramaturgia tão cheia de falhas: uma personagem, às vezes, é mãe, às vezes, é tia; o fim é preparado várias vezes, mas parece nunca chegar; um amontoado de cenas que tiram o foco da história, ainda que tratem do tema, e nos fazem ter dúvidas se o mais é importante é o teatro ou é a palestra espírita.

... por interpretações tão ruins, cheias de máscaras mal feitas, construções estereotipadas que nem no mais ingênuo teatro estudantil se paga para ver.

...por uma maquiagem digna de filmes trash e de dramatizações de colégio de freira, um figurino absurdamente pavoroso, sem referência, sem sentido, sem coerência e sem nem mesmo humor.

... por sair do melodrama (que já não está bem feito) e ir pra comédia (que também deixa a desejar) e, também tentando sem sucesso, se aventurar no terror (nonsense!).

... por uma trilha sonora executada em volume tão alto, cheia de clichês e ausência de criatividade.

... lotarem a Cia. De Arte com um público tão especial: pessoas que são só platéia, que não são de teatro, nem artistas em geral. Pessoas que vão atrás de um divertimento que lhes encha a alma e o que encontram é uma amostra de tudo aquilo que os grupos de teatro de Porto Alegre tentam construir enquanto qualidade, cuidado com a produção, criatividade, rigor.

...por venderem um espetáculo de 1h20 e nos obrigar a ficar sentado na platéia durante quase duas horas.

Mas te agradecemos, Pai que tudo sabe e tudo vê,

Pela interpretação de Gisele Faerman, possível de ser admirada mesmo nesse contexto tão decadente. Que ela, e por que não todos?, seja resgatada desse plano e ascenda a outros.

Amém.

2 Comentários:

Helena Mello disse...

Não vi a peça. Não sei o que acharia, mas, gosto do jeito que tu escreves, da forma criativa e contundente com que elaboras os teus textos. Que Deus te proteja de todos aqueles que não concordarem contigo!

Anônimo disse...

Ridículo esse comentário, logo se percebe sua pobreza de espírito, espero que a cia Artiurbana não leve em conta tal crítica. Assisti a peça, não uma vez, mas várias vezes, posso garantir que se trata de de um espetáculo doutrinário, emocionante.
RECOMENDO COM LOUVOR!!!!

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