24 de jan. de 2009

Homens de Perto



Me disseram para não ir ver os homens de perto.

Disseram que era uma bobajada depois da outra. Que não tinha conteúdo. Fui. Ao sair, liguei para um amigo gaúcho que mora no Rio há décadas. O irmão dele estava lá e disse que a peça era uma droga. Pedi que o amigo perguntasse para o irmão dele se ele tinha visto a peça. Resposta: “Não. Ele não foi ver, mas contaram pra ele que não acrescentava nada...”

Fato: “Homens de Perto” não acrescenta nada. É uma bobajada depois da outra e não tem conteúdo nenhum. E é uma droga.

As drogas fazem a pessoa esquecer dos problemas por um tempo. As drogas são um tipo de entretenimento. Não sou contra as drogas. Nestor Monastério também não.

Ter uma plantação de maconha é algo muito complicado. Produzir cocaína só não é mais difícil que distribuir. Fabricar LSD ou Êxtase deve dar um trabalho danado. Você pode fazer de qualquer jeito, mas se é para o cara se drogar de qualquer jeito, então, por que não pensar em coma alcoólico com uma boa e barata Caninha 7 Campos de Piracicaba?

Desde o primeiro segundo, antes mesmo de começar, o público que tem lotado a Amrigs nos últimos cinco anos (?) é avisado de que o que está por vir é uma bobajada, não tem conteúdo, não se destina a acrescentar nada e quer apenas te entreter. Zé Victor Castiel, Oscar Simch e Rogério Beretta se propõe a 3 e conseguem 4 ou 5. Tantas peças por aí se vendem prometendo chegar a 50 e não fazem 2... (Sim. Eu escrevi dois e não vinte.)

Quatro atores. Um deles morreu e os três que sobraram entram no palco pedindo desculpas dizendo que vão fazer a peça acontecer em homenagem ao colega morto. Avisam que, tomados pela emoção, não se responsabilizam pelas falhas, contando com a compreensão do público pelas tosquices que acontecerão.Tosquices?

Figurino pensado por Sérgio Lopes (ternos do Tevah). Tudo muito bem costurado, planejado, passado, organizado para que o sentido seja estabelecido. O cenário é composto por três cadeiras e um painel vermelho. Não são três cadeiras tiradas de última hora do camarim do teatro ou da cozinha de um dos atores. E a cor vermelha do fundo dialoga com o figurino dos três atores e da atriz contra-regra (Sofia Schul) que não é só mera “trocadora de cenários”. A trilha sonora de Simone Rasslan e de Néstor Monastério, as coreografias de Jussara Miranda e a iluminação de Maurício Moura informam pra gente o que vem a ser o que, nos Estados Unidos e na Europa, se chama showbusiness. A produção pode só se destinar a mero entretenimento, mas sabe que isso é coisa séria, é digno, é para ser valorizado e, sobretudo, bem feito. Afinal, ninguém tem dinheiro sobrando para rir de qualquer coisa. Vai-se no bar e pede uma 7 Campos. Ri-se até de verruga no pé com isso.

Três atores e um amontoado de histórias que te deixam a vontade para rir gostosamente. É teatro de auditório sem ficar te impondo respostas. Elas vêm ao natural, assim como as reações espontâneas e as nem tanto. Eles cantam, dançam, representam e contam piadas sem graça com tanta dignidade que a gente ri depois de ter encontrado graça em tudo, principalmente, no prazer de ter ido assistir a algo tão leve, tão simples e tão bem feito. Uma dramaturgia praticamente desconexa, muito brincalhona, “tosca e agropecuária”, como diz o diretor de arte Voltaire Danckwardt.

Dizer que “Homens de Perto” é uma bobajada, sem conteúdo e que não acrescenta nada não é falar mal. É fazer propaganda. Eu desejo vida longa para o que é bem feito. Estou muito longe de ser monge para queimar a comédia e ficar só com o que me faz pensar...


PS.: Achei a cena dos gaúchos muito longa. Mas, no fundo, acho que achei isso porque não ganhei bala no aniversário da Dá.


ELENCO:
Oscar Simch
Rogério Beretta
Zé Victor Castiel
e
Sofia Schul

FICHA TÉCNICA:
Autor: Artur José Pinto
Direção: Nestor Monastério
Figurino: Sérgio Lopes
Trilha Sonora: Simone Rasslan e Nestor Monastério
Arranjos vocais: Simone Rasslan
Coreografia: Jussara Miranda
Iluminação: Maurício Moura
Produção: MIB

4 Comentários:

Helena Mello disse...

E eu que admiro Zé Victor e Oscar Simch e esbarro muito com Rogério Beretta não fui até hoje ver Homens de Perto. Falha total minha. Alías, devia ter feito isso ontem. Sai para fazer um happy-hour (só que tomei um vinho branco ao invés da 7 campos) e quando vi estava falando da modelo sem pés e sem mãos que pegou uma infecção generalizada e de política internacional. Isso sim é que é perda de tempo. E garanto que acabei pagando bem mais na tentativa (totalmente frustrada) de esquecer as adversidades do mundo.

Anônimo disse...

Adorei teu comentário acerca da peça. De fato, é uma bobajada boa!!! Cheguei no teatro de péssimo humor, depois de ter brigado com meu marido e tinha certeza que nada salvaria a minha noite. Que nada, ri um monte e saí do teatro completamente transformada. Vale à pena.

Ana C. disse...

TO indo assistir hj a noite na unisinos, to morrendo de curiosidade :)

Morgana Kretzmann disse...

Estou indo gravar o Papo de Camarim com o Beretta agora à noite - vou ser OBRIGADA a citar uma frase tua sobre Os Homens de Perto... ;)
Assista!
Beijos

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