25 de out. de 2009

Como emagrecer fazendo sexo

foto: divulgação

Permitir

Acho que ninguém tem o direito de não se permitir. Você pode não querer fazer algo, não precisar viver that experiência ou até detestar pressão alheia sobre coisas que não fazem parte do seu universo. Mas achar que não tem direito a algo é looser. Abdicar de ter prazer, quando em termos saudáveis, é burrice. E ofensa ao @ocriador. Não vamos magoar nós mesmos, ok?

Dona Teresa abdicou várias vezes do chopp, da sobremesa e, pior!, da polentinha frita. Substituiu tudo isso por dietas, remédios, treinamentos, vômitos forçados. A magreza objetivo acabou nunca sendo alcançada. O limite caminha, anda, muda de lugar. Fica sempre mais distante. O prêmio? A opinião de uma amiga, um comentário de um rapagão, bibibi, enquanto outras amigas e outros rapagões semi-calados podem pensar bem o contrário dos falantes. Quando, no teatro porto alegrense, a história de Teresa começa a nos ser contada, já não estamos no início do fim dela, nem no fim dele dela. No meio, talvez. Ela está indo atrás de um médico que pode lhe explicar sua teoria sobre “Como emagrecer fazendo sexo”. E a peça, essa sim, começa aí.

Para a comédia dirigida por Airton de Oliveira, o texto de Cláudio Benevenga coloca três personagens num consultório médico a discutir sobre os benefícios contra-calóricos da prática sexual. Dr. Carlos (Pablo Capalonga), Dona Teresa (Luciana Marcon) e o assistente Rogério (Cláudio Benevenga) ocupam o tempo dramático com a construção de situações que consistem em provocações, avanços e recuos no assunto: sexo. Se quisermos buscar, nessa proposta, uma curva dramática, um aprofundamento de emoções e/ou teorias filosóficas a respeito da relação humana, vamos nos privar do riso fácil de que necessita a obra para ser. Quanto mais insistirmos, menos nos permitiremos divertir.

Uma peça que se chama “Como fazer tal coisa” não se propõe a ser um espetáculo de grande valor estético. Ao contrário do que possa parecer, isso não é preconceito. É leitura mesmo. O cenário proposto informa sobre um tempo e um lugar específico nessa passagem de milênio. Os personagens e tudo o que se refere a eles dizem sobre uma classe social, atendem a uma demanda de público pagante. O discurso estabelecido se afasta de vários itens e se aproxima de outros, relacionando-se com algo que, em alguns anos, se tornará mofado, em décadas será ridículo. “Como emagrecer falando sexo” é nosso, é do agora, é dessa época. E funciona, de um modo geral, muito bem, chegando onde queria chegar. Por que diabos alguém poderia se privar do agora, mesmo que fácil?

Pablo Capalonga, como o médico gostosão, está “duro” em cena e isso não é nenhum comentário fálico. A masculinidade de Dr. Carlos, seu personagem, não parece ser natural, mas ensaiada. Com o peito sempre aberto, os ombros rijos e quase nenhum movimento facial, o personagem parece representar um outro personagem para Dona Teresa e, consequentemente para nós, representados nela.Cláudio Benevenga, que ganhou Açorianos de Melhor Ator Coadjuvante 2005 pela construção de Rogério, está ótimo em cena, embora seu personagem apresente-se, em alguns momentos, de forma sexualmente ambígua, próximo até do animalesco. Estão, apesar de ser Teresa a protagonista, em Benevenga os melhores momentos do espetáculo. Luciana Marcon, encerrando a ficha técnica, nos ganha pelo carisma e pela linda voz, mas nos perde pela cristalização de sua personagem: reações anteriores às ações, marcações caprichosas ao invés de caprichadas, excesso de obviedades. Airton de Oliveira amarra o texto com um cenário bem funcional e uma luz suficiente ao teatro comercial que propõe. A superfície é tão valiosa como o fundo do mar. Em termos de luz, é até melhor.

Qualquer “Como” só é “Como” sendo também “Agora”. E o agora já vai passar. Sem querer levantar a bandeira do “viver a vida intensamente, cada momento, ou cinquenta e cinco minutos, como se fosse(m) o(s) único(s), me pergunto sobre que tal nos permitir permitir?

Fikadika!

*

Ficha Técnica:

Texto: Claudio Benevenga
Direção: Airton de Oliveira

Elenco:
Luciana Marcon (Teresa);
Pablo Capalonga (Dr. Carlos);
Claudio Benevenga ( Rogério)

Figurinos: Zélia Mariah
Cenário: Airton de Oliveira e Benevenga
Iluminação: Anilton Souza
Trilha Sonora: Gabriel Souza
Produção Executiva: Marcela Meirelles
Realização: Telúrica Produções

2 Comentários:

Fabio Rogerio Basso disse...

Parabens pelo blog!

Extremamente interessante!!
...é capricorniano tem dessas, voltado a arte de alguma forma... criativo na hora de se expressar!
Na falta de papel damos um jeito... nem se for pra escrever com caneta vermelha no antebraço!

Mais uma vez parabéns! :)

Fabio Rogerio Basso disse...

Pois é... não sou bom em escrever como você, mas gosto de criar...
Não é por nada que escolhi essa profissão... misto de arquiteto com artista plastico!

Agradeço pela visita!
Abraço!

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