Bundaflor Bundamor
Simplicidade e eficiência
A forma como Bundaflor Bundamor se apresenta ao mundo já deixa claro que é um espetáculo dissertativo, ou seja, ele discorre sobre um tema sem que haja a valorização de uma fabula. O tema é bunda e o programa entregue diz que a ideia partiu do livro A breve história das nádegas, do francês Jean Luc Henning. A pesquisa coreográfica, assim, parte de um texto dissertativo para chegar a outro, incrementando o projeto com outras referências estético-conceituais.
A abertura se dá com os dois bailarinos, Eduardo Severino e Luciano Tavares, em sungas de banho, andando pelo espaço cênico completamente vazio. Então, suas nádegas aparecem, o espetáculo cênico surge, a pesquisa começa a ser divulgada. É visível que os movimentos foram criados no sentido de explorar essa região do corpo humano do ponto de vista de sua textura, mobilidade, capacidade expressiva. Explorando individualmente as potencialidades do corpo, cada bailarino investe em sua própria formação: um tem a pele bem clara e o outro é negro. A bunda, afinal, não é mesmo uma ilha separada do resto. E uma visão sobre ela sem relação com seu entorno é tão artificial quanto inútil. Nem de longe, o resultado cai na vulgaridade e, a cada nova investida, mais interessantes são os quadros propostos.
Quadros curtos se sobrepõem e dão lugar a uma participação especial de uma bailarina. No dia em que eu assisti, a bailarina Mônica Dantas, vestida em um maillot petit pois, traz a versão feminina dessa parte corporal humana e seus desafios. Entre os homens, a cena de Dantas pouco consegue em novidade. O que se vê é o que se vê e nada pode ser dito além disso. A presença de uma bailarina, assim, tem importância por ser um corpo feminino, esse diferente de um corpo masculino. Se, entre Severino e Tavares, a pele importa, a relação de Dantas com os dois homens dá valor à questão de gênero. Sem isso, de fato, o espetáculo ficaria carente.
O maior ganho da produção é atender exatamente ao que se propõe: um comentário e nada além. Ele não se estende nenhum um pouco a mais do que precisa e deveria se estender, cobrindo aquele espaço de tempo que lhe cabe dentro do interessante. A dupla de bailarinos exibe o resultado de sua pesquisa propondo um olhar diferente sobre algo que todos têm, mas que poucos conseguem se olhar.
A simplicidade dessa produção garante o lugar dela no cenário cênico da cidade desde sua estreia em 2008. Sua modéstia não faz dela menor, mas,ao contrário, convida a refletir sobre responsabilidade que se há de ter na ocupação de agendas. Bundaflor Bundamor não promete mais do que pode cumprir, e cumpre o que propôs: entreter, divertir, divulgar. E, com qualidade, atinge todos esses objetivos, presenteando o seu público, nós.
*
Ficha técnica:
Concepção coreográfica e intérpretes:Eduardo Severino e Luciano Tavares
Intérpretes convidadas: Mônica Dantas, Viviane Gawazee, Luciana Hoppe, Cibele Sastre e Luiza Moraes
Pesquisa musical: Luciano Tavares
Mixagem: Jorge Foques
Operação de Luz e Som: Renata de Lélis
Realização: Eduardo Severino Cia de Dança
A forma como Bundaflor Bundamor se apresenta ao mundo já deixa claro que é um espetáculo dissertativo, ou seja, ele discorre sobre um tema sem que haja a valorização de uma fabula. O tema é bunda e o programa entregue diz que a ideia partiu do livro A breve história das nádegas, do francês Jean Luc Henning. A pesquisa coreográfica, assim, parte de um texto dissertativo para chegar a outro, incrementando o projeto com outras referências estético-conceituais.
A abertura se dá com os dois bailarinos, Eduardo Severino e Luciano Tavares, em sungas de banho, andando pelo espaço cênico completamente vazio. Então, suas nádegas aparecem, o espetáculo cênico surge, a pesquisa começa a ser divulgada. É visível que os movimentos foram criados no sentido de explorar essa região do corpo humano do ponto de vista de sua textura, mobilidade, capacidade expressiva. Explorando individualmente as potencialidades do corpo, cada bailarino investe em sua própria formação: um tem a pele bem clara e o outro é negro. A bunda, afinal, não é mesmo uma ilha separada do resto. E uma visão sobre ela sem relação com seu entorno é tão artificial quanto inútil. Nem de longe, o resultado cai na vulgaridade e, a cada nova investida, mais interessantes são os quadros propostos.
Quadros curtos se sobrepõem e dão lugar a uma participação especial de uma bailarina. No dia em que eu assisti, a bailarina Mônica Dantas, vestida em um maillot petit pois, traz a versão feminina dessa parte corporal humana e seus desafios. Entre os homens, a cena de Dantas pouco consegue em novidade. O que se vê é o que se vê e nada pode ser dito além disso. A presença de uma bailarina, assim, tem importância por ser um corpo feminino, esse diferente de um corpo masculino. Se, entre Severino e Tavares, a pele importa, a relação de Dantas com os dois homens dá valor à questão de gênero. Sem isso, de fato, o espetáculo ficaria carente.
O maior ganho da produção é atender exatamente ao que se propõe: um comentário e nada além. Ele não se estende nenhum um pouco a mais do que precisa e deveria se estender, cobrindo aquele espaço de tempo que lhe cabe dentro do interessante. A dupla de bailarinos exibe o resultado de sua pesquisa propondo um olhar diferente sobre algo que todos têm, mas que poucos conseguem se olhar.
A simplicidade dessa produção garante o lugar dela no cenário cênico da cidade desde sua estreia em 2008. Sua modéstia não faz dela menor, mas,ao contrário, convida a refletir sobre responsabilidade que se há de ter na ocupação de agendas. Bundaflor Bundamor não promete mais do que pode cumprir, e cumpre o que propôs: entreter, divertir, divulgar. E, com qualidade, atinge todos esses objetivos, presenteando o seu público, nós.
*
Ficha técnica:
Concepção coreográfica e intérpretes:Eduardo Severino e Luciano Tavares
Intérpretes convidadas: Mônica Dantas, Viviane Gawazee, Luciana Hoppe, Cibele Sastre e Luiza Moraes
Pesquisa musical: Luciano Tavares
Mixagem: Jorge Foques
Operação de Luz e Som: Renata de Lélis
Realização: Eduardo Severino Cia de Dança
1 Comentário:
Em primeiro lugar, acho importante tua iniciativa e disponibilidade em escrever sobre a produção de artes cênicas em nossa cidade, aliás, muito importante.
Em segundo, muito pontual e claro o que escreveste sobre nosso trabalho, obrigado.
Abração
Edu Severino
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