13 de abr. de 2010

Sem açúcar

Frio. 

“Sem açúcar” investe na frieza como concepção estética, mas acaba deixando a recepção fria demais. A quarta parede se põe de forma tão dura diante do público que, ao invés de apenas separar, também afasta.

Dirigido por Desirée Pessoa, o novo espetáculo do Núcleo de Estudos e Experimentação da Linguagem Cênica, o NEELIC, mostra vários pontos positivos, mas todos eles se mostram sem vida. A título de imagem, lembro agora de frutas de decoração: lindas, coloridas mas não comestíveis. Os elementos plásticos da produção são riquíssimos: a caixa cênica totalmente branca, a geladeira, o aquário, o guarda-chuva vermelho. Os tempos e os movimentos deixam ver uma técnica usada com cuidado e responsabilidade pela diretora e sua assistente, Ravena Dutra. Nenhum ator vira o rosto de qualquer jeito, todos sabem exatamente para onde vão, quanto tempo demoram para ir, os gestos são calculados. Talvez, friamente calculados.

Juliana Wolkmer, entre o elenco, consegue ter instantes de maior naturalidade, esconder a técnica, furar a quarta parede para que nós a vejamos. Os demais estão duros, presos, gelados. O personagem de Desirée Pessoa, Edna, utiliza a frieza para se construir: uma socialite, uma mulher superior, alguém não dado a sentimentalismos. Diante de características que se cruzam entre os quatro atores, quatro construções de personagem, e toda uma idéia que perpassa as demais unidades narrativas, fica difícil analisar em separado o trabalho de Pessoa de forma totalmente positiva. A questão mais problemática, porém, está em Fabiana Montin. Seus movimentos se centralizam nos seus quadris. A atriz permanece o máximo de tempo possível com os pés bem afastados e presos ao chão, dando segurança para que ela possa girar seus braços e interpretar da cintura para cima. Mas seu excesso de segurança é coerente com o espetáculo inteiro e é aqui que se encontra o motivo pelo qual “Sem açúcar”, embora apresente várias possibilidades, seja uma produção que não concretiza o potencial que parece ter. Segurança em excesso é um mal.

O estranhamento que ultrapassa os limites também pode vir da dramaturgia. Unir Katherine Mansfield e Marguerite Yourcenar poderia render bons frutos. Jean Paul Sartre com Vera Karam igualmente. Mas os quatro autores com Woody Allen parece ser uma construção possível, mas que não acrescenta ao trabalho a não ser por aumentar ainda mais o distanciamento.

A cena final, por fim, anda no mesmo caminho do texto. Abre mais uma porta, apresenta mais um caminho, sem que os outros abertos e apresentados anteriormente tenham sido utilizados. O espetáculo não vai apesar de mostrar a intenção de ir.

Não há nada de errado com o açúcar. Também nada de errado com a falta de. Em ambos os casos, no entanto, é preciso ter a coragem de optar por um deles. E sorver vivamente!

*

Ficha Técnica:

Direção: Desirée Pessoa
Assistente de Direção: Ravena Dutra

Elenco:
Desirée Pessoa
Fabiana Montin
Juliana Wolkmer
Silvio Ramão

Produção: Neelic
Assistente de Produção: Kátia Berger
Cenário: Rafaela da Silva
Trilha Sonora: Ana Mércio
Iluminação: Silvio Ramão
Coreografias: Naiana Tedesco
Figurinos: Aline Rehm
Produção Gráfica: Mayara Marcanzoni

2 Comentários:

Anônimo disse...

olha, parece a teoria da compensação.já que não cruzo mais contigo pela venâncio, agora topei com teu site. interessante. abraços.

Jú Thomaz disse...

Gosto de fruta mordida!
;)

  ©Template Blogger Green by Dicas Blogger.

TOPO