4 de mar. de 2010

XI Porto Verão Alegre


Em Pé


Acabou-se o que era douce. O 11º Porto Verão Alegre já passou. O carnaval também. Falta só o BBB chegar ao último paredão para o ano, definitivamente, começar, passar pela Copa, adoecer nas eleições, e morrer no natal. Então, começará tudo novamente. E, pelo recomeço, me pego pensando no porquê é bom o Porto Verão.

Por que o Porto Verão Alegre é bom para Porto Alegre?

Tenho cá minhas dúvidas se a cidade realmente se esvazia consideravelmente como dizem. Chego a pensar que não é tanto como era no passado. O fato é que as ruas ficam muito mais vazias, mas isso pode ser porque ainda não existe ar condicionado central no planeta. No dia em que construírem uma imensa bolha ao redor da Terra e ligarem nela um Split, acho que as pessoas, no verão, vão ter uma vida mais normal. Por enquanto, me peguei trancado em casa o dia inteiro, ansioso pela noite que, no fim, não trazia nenhuma frescura a mais. Trazia, isso sim, mais uma sessão de teatro no Porto Verão Alegre. Esse ano foram 50 espetáculos. Olhando para a programação, já tenho registrado 39. E, olhando para as platéias, a cidade realmente não parece vazia. Quem dera se esse vazio se repetisse no inverno também...

Minha conclusão é de que o Porto Verão Alegre é um sucesso porque lembra do público e o agrada. É fácil ir ao teatro na capital gaúcha no verão.

1 – Bilheteria. Você liga e fica sabendo da programação, do valor, de onde compra o ingresso, de onde é o teatro, de quem faz a peça e sobre o que ela é. Pode comprar o ingresso antecipado. Pode obter o programa antecipado também.

2 – Site. A qualquer hora do dia ou da noite, o site informa ao público tudo o que ele precisa saber. A ficha técnica é parcial, sim, mas você pode entrar em contato, obter com facilidade o número de telefone da produção e saber mais a respeito. Quanto tempo dura? Posso levar minha sobrinha de nove anos?

3 – 21h. A grande maioria dos espetáculos começa às 21h. Não tem como se enganar: é um horário standart. As peças não começam no horário marcado, havendo até o absurdo de 20min de atraso. Mas, pelo menos, a produção lembra que, dentro da sala de espetáculo, há ar condicionado e que, na rua, não. Então, abrem a porta e a gente espera no fresquinho o programa começar...

4 – Há espetáculos para todos os gostos: comédias acessíveis, espetáculos mais densos, grupos estudantis (resultados de oficinas), montagens clássicas que você já viu, mas ainda não levou sua dinda do interior que veio te visitar e que vai gostar de rever a peça, porque, sim, ela já viu também! É graças ao Porto Verão que o público tem chance de ver alguns artistas que desaparecem no inverno ou mesmo aqueles que estão sempre aí, mas que, por algum motivo, não conseguiu ver ainda.

5 – Divulgação. Infelizmente não há nenhum site totalmente confiável em termos de programação cultural na cidade fora do Porto Verão. Recomenda-se sempre ligar para confirmar horários e datas. Onde conseguir o número? Nem idéia...

6 – Valores. Não são mais acessíveis. O Porto Verão não é a Liquida Porto Alegre nem a Feira do Livro. Mas, comprando antecipado, em alguns lugares, você consegue pagar o ingresso com cartão. Um luxo!

7 – Crítica. O Porto Verão Alegre investe na Crítica Teatral. Sabe que ela nunca será unânime. Entende que ela é apenas um ponto de vista sobre um trabalho apresentado num dia por um grupo de pessoas. E que vem de uma pessoa que também falha (AINDA BEM!). Mas que é importantíssima pela coragem de ousar fazer o impossível: preservar num texto o que é evanescente. Ninguém gosta de críticas negativas. Nem o crítico. Mas a arrogância maior é a de quem proporciona um espetáculo ruim para o público (e para a classe) e acha que todo mundo tem que “babar o seu ovo” só porque já fez outros trabalhos em tantas décadas ou meses de teatro. O número de pessoas que falam mal de bons trabalhos é reduzido, embora sempre existente. E isso também é maravilhoso! Além do mais, uma crítica negativa não impede que alguém vá ver o espetáculo. Em muitos casos, até ajuda!

Neste espaço, faço crítica teatral. Jamais terei a formação que se espera de um crítico teatral até porque a classe espera uma coisa quando se fala bem e outra quando se fala mal. Meu texto não é, nem foi até agora e duvido que, um dia seja como o da Bárbara Heliodora, do Prof. Antônio Hohfeldt e de tantos outros críticos a quem, eu sei bem!, não estou nem aos pés. Sei que há pessoas que chamam o texto de comentário, outros nem mesmo permitem que eu vá assistir a seus espetáculos (o que é risível...). Parece que há uma escala de valores estando o comentário abaixo da crítica. Então, me pergunto se o mesmo também não há no teatro. Por que eu dou um tom poético ao texto é menos crítica e mais comentário? Em Play-Becket, há pouco diálogo. Então é mais dança que teatro? Em O vendedor de palavras, há um personagem que se chama Milho e outro que se chama Espiga. Então, é mais espetáculo infantil que adulto? Essa discussão não parece ultrapassada? Então, que seja chamado como mais aprouver. Estou convencido de que as categorias só servem para entender melhor o conteúdo, não para usá-lo. E são analíticas: finda a análise, também elas deixam de ser importantes.

Por tudo isso, fico com Bárbara Heliodora, apenas mais um ser humano que ama o teatro a ponto de ir vê-lo sempre que pode, cometendo aqui e ali um exagero, mas que não bate no peito lembrando seus 50 anos como crítica para justificar suas falhas. Apenas falha tanto quanto acerta, ou seja, bastante! É ela quem teme o tempo em que os artistas cênicos, quem constroem parte do teatro, vivem e fazem viver sua arte mais pelas leis de incentivo, financiamento e manutenção do ego do que pelo público, idiossincraticamente, o grande fim do teatro e, ao mesmo tempo, sua outra parte.

O Porto Verão Alegre é um sucesso porque proporciona teatro para o público, vive dele e o agradece dando sempre o seu melhor. E eu sou, orgulhosamente, parte desse público.

Depois do natal, quando tudo recomeçar, haverá mais!
Aplausos! Em pé.

1 Comentário:

Helena Mello disse...

Fui no lançamento do primeiro Porto Verão Alegre. Foi um evento bem bacana, prestigiado pela classe artística que parecia muito animada com a idéia. Agora, devem estar ainda mais felizes vendo que o projeto deu certo. Mérito de deus organizadores que batalharam pela idéia e seguem fazendo com que tudo dê certo, respeitando o público, mantendo preços razoáveis, facilitando o acesso e repassando as informações necessárias. Acredito que tu também contribuas para firmar esta proposta, assistindo aos espetáculos e escrevendo tuas críticas. Por falar nisso, coloco aqui o link para um texto sobre o assunto que publiquei no meu blog: http://sobrecriticateatral.blogspot.com/2010/03/critica-teatral-jose-de-alencar-mae.html

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