5 de out. de 2008

O Gordo e o Magro vão para o céu


Lembra, logo existe


O texto é também nesse mesmo sentido. Indica algo que não é. Que pode ser tudo, mas que não é. A luz vem afinada de cima, mas, ao invés de iluminar, reflete. Bate e volta para o alto novamente. O acúmulo de expressões faciais e gestos empilhados corporalmente um sobre o outro não significam nada, não apresentam nada. O excesso chega exatamente no ponto de encontro da falta. Tudo isso porque “O Gordo e o Magro vão para o céu”, do já citado autor, apresenta o tema do nada.
Chega a vez do Magro levantar uma pedra que completará o muro. Ouvem-se batidas de palma. Incentivo? O ator Heinz, numa licença poética, olha para a platéia e faz bandeiraço pela nossa participação. Incentivamos o Magro. A seqüência termina, mas logo recomeça: ouvimos as palmas novamente. Sem precisar nós mesmos de estímulo, aplaudimos, incentivamos. Entendemos que o sinal sonoro clap-clap vindo da trilha, é a nossa sirene para estimular o personagem a fazer o seu trabalho, behavioristas que somos. Não questionamos o porquê, nem se vale a pena aplaudir. Ouvimos a trilha e executamos a ação. Os dois personagens chegam a um lugar sem saber onde e fazem o que está escrito no livro de tarefas sem saber porquê tão logo ouvem a sirene, o sinal, a trilha.
A magia da história vem pela ausência de. A dupla Heinz Limaverde e Carlos Ramiro Fensterseifer, dirigidos pela dupla Nelson Diniz e Liane Venturella, fogem da dupla “O Gordo e o Magro” do cinema e se aproximam das duplas de Becket (Esperando Godot e Fim de Partida). No entanto, visualmente discutindo, se aproximam da dupla cômica e se aproximam da dupla absurda. Não tem importância. Nada tem importância. Se destruirmos o muro, eles não se importarão. A peça ainda estará em cartaz. E o muro, talvez, nunca seja concluído.
Eles fazem o seu trabalho, colocam as pedras onde indica o livro de tarefas. E desaparecem. A produção desaparece tão eficiente é o suporte que faz aparecer o ator, a dupla, a energia que sai do dedo e aponta para lua (Yoshi Oida), fazendo com que apareçam o dedo e a lua, mas que se sinta apenas a dita energia. E o tempo acaba. Escurece novamente. A energia fica e recebe as lembranças do mundo que voltam quando vamos embora . Paul Auster, na boca do Magro, diz que, se temos lembranças, vivos estamos. E, se você não lembra como começou esse texto e acha que ele vai terminar agora, é bom duvidar se está realmente vivo.

*

ELENCO:
Carlos Ramiro Fensterseifer
Heinz Limaverde

FICHA TÉCNICA
Texto: Paul Auster
Direção: Nelson Diniz e Liane Venturella
Iluminação: Nara Maia
Produção: Marco Mafra
Trilha Sonora: Álvaro RosaCosta
Cenário, Figurino e Design Gráfico: Rodrigo Nahas

1 Comentário:

Anônimo disse...

Ela era demais!
Sem falar em "Frank" que eu amo de paixão. Entra na torcida hehehe.

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