Apareceu a Margarida
Esclarecimento:
1) Dona Margarida, na minha leitura, é a rubrica dos professores de sempre (não dos anos 60, não de agora, não de amanhã. De sempre.) Rubrica é o texto que informa pro ator como deve ser dita a fala, qual é a intenção. Eu, como professor, muitas vezes tive vontade de mandar alunos à merda, mas dizia: "Volte para o seu lugar!". Ir à merda era a rubrica que estava na minha fala, mas, como "ator", eu não podia dizer a rubrica. Eu dizia a fala. Dona Margarida, por isso, é tão interessante: ela torna a rubrica fala. E a fala rubrica. No texto abaixo, há duas vozes. Uma é fala e a outra é rubrica. Pra mim, como platéia, a melhor coisa da montagem foi isso. Renato Campão, melhor do que muitos outros que fizeram o papel, deixa isso claro com sua força. Rubrica, normalmente, é escrita em itálico. Assim, leiam, por favor, abaixo, as rubricas.
2) Quando um texto precisa ser explicado é porque ele é um texto mal feito. Não me dêem crédito, então, se acharem que não devem. Há outros textos logo abaixo desse último. Obrigado pela visita!
Sub-texto: se rubrica é o que se sente na hora do diálogo, por que não ler elas ao invés do texto oficial?
Não venham me falar de “Apareceu a Margarida”. Odiei o espetáculo. Muito mesmo. Não quero nem ouvir falar. Não vou escrever uma linha e nem publicar! Perda de tempo... Não quero saber nada sobre a peça. Se alguém souber de outras montagens dessa peça, por favor, me avisem! Cheguei em casa e corri pro Youtube pra ver tudo o que havia. Tem motagens de todos os tipos. Com homem, com mulher, com homens e com mulheres. Falam muito da versão da Marília Pêra que estreeou o texto. E de produções internacionais. Monólogo, quando não é chato, é ótimo! É um texto desconhecido de Roberto Athayde. Passei horas e horas lendo e lendo as mil coisas que se tem publicadas sobre ele. Trabalhos e mais trabalhos. A coisa da inversão, de tornar texto que é sub-texto, de tornar fala o que é pensamento é quase tornar prática a teoria da enunciação e teoria o que blablablabeamos vida a fora quando queremos dizer outras coisas... O texto é chato. É monótono. De dormir e roncar envoltos em encharpes e óculos escuros pra manter a pose de crítico... Dona Margarida não deixa a gente se quer se mexer na cadeira. E não é pela ameaça da palmatória!! É que não há tempo para pensar em nada. Seria pensar ou fruir, e ficamos com o fruir... Ela fisga nossa atenção, nosso olhar, nossa mobilidade.
O cenário é um horror! Mal usado, sabe? O ator usa todos os objetos de cena, desfila por cada cadeira, folheia livros, passa a mão em móveis, enfim, não faz nada de útil! Um absurdo constrangedor! O sentido se constrói em todos os espaços e se atualiza em todos os momentos da peça. Há utilidade em tudo e o sentido foge da mera prisão utilitária e vai para a crítica. Crítica do tempo, das relações, da época, dos comportamentos. A luz... Pufssss! Pífia! Ridícula. Inexistente. Inexpressiva. Atrapalhante. Rítmica e por rítmica quero dizer que acompanha cada momento de tensão ou de distensão do drama. Um emaranhado de refletores cada um com uma função estrategicamente pensada como se “Apareceu a Margarida” fosse um espetáculo de teatro. Ora essa! Façam-me o favor de não me falar dessa peça! (sem a rima ridícula que entrou aqui não sei como...) A luz não é uma iluminação. A luz é um recurso que olha para o ator, o teatro, e diz: "E aí? Vai encarar?!"
Continuando o check-list barbaraheliodoriano: figurino. Tem coisa mais dispensável do que aquilo? Pra quê vestir um ator daquele jeito, meldelz! Alinhado ao personagem, à época dele, ao estilo, agregando valor... Como se tivesse realmente valor? Nã-nã-nã-nã-não! E a trilha? Sem comentários de tão ruim! No ponto, como mais um elemento que pretendia fazer algo de bom... Exigente, específica, acrescentante. Isso tamanha a incompetência de uma produção que não pensa em nada, que deixa tantos furos, que destrói a história da arte teatral al al al al.
O pior de tudo é esse ator aí, desconhecido... Como é mesmo o nome do garoto? Ainda bem que tem programa, né... Um horror! Renato Del Campão: dispensa-se comentários. A cancha de palco de quem tem que prender a atenção, chamar a atenção, ser a atenção. A coisa de ritmo, de sustância, de energia, de emoção. O trabalho constrói o ator. E o ator se torna espetáculo. Guri bom até... Mas por que tão ruim, né? Complemente sem foco: o olhar dele, sério!, fica perdido. E ele olha o tempo inteiro pra gente, fixo, duro, pontual. Braços e mãos e pernas e pés desajeitados. Vê-se de longe que o pobre nunca ouviu falar em ensaio. Quase uma coreografia de tão certinho, de tão gráfico ou caligráfico. De novo e sempre: constrangedor. O corpo em si como um ovo mole sem forma: uma expressão corporal que não pára de expressar fazendo com que os 105minutos de peça sejam completos e cheios de significado sempre. Nada é gratuíto.
O diretor deveria se envergonhar dessa produção bem dirigida como poucas. Orgulhante!
Enfim, é isso. Corram! Fujam! Não vão ver. Não indiquem. Fica até dois de novembro ali na Álvaro Moreira. Sábados às 21h e Domingos às 20h. Afinal de contas, o que eu digo é o que eu digo e não o que eu penso ou o que eu sinto ou o que eu tenho vontade de dizer. Eu não sou Dona Margarida. Eu sou alguém decente, puta que pariu!
10 Comentários:
Fico Honrada com a "linkada".
muito bom cara, heliodorianapracaralho, deu uma puta vontade de assistir essa montagem, vi com uma atriz inicianteamadora, acho que o nome era Marilia Maçâ ou Pêra, qualquer coisa assim, dessas mulheres frutas de hoje em dia, rsrsrsrs, beijos.
[:)] Já havia lido antes... Agora acabei de ler novamente... Eu gostei da peça, acho que o Renato Del Campão acertou em escolher este texto. Respeito a história do Renato Campão... As "coreografias" fazem parte de uma história, de um aprendizado dele, de uma maneira própria de atuar. O texto está no nível de um dramaturgo iniciante - afinal, ele tinha apenas 21 anos -, mas tem coisas ótimas, sim... Pára, Barbara! * ="."= *
Mas Rodrigo, onde mais a gente poderia se encontrar se não numa sorveteria? Nós comemos sorvete, Rodrigo, nós atiramos sorvete nas pessoas. Minha mãe assistiu essa peça com o Campão e gostou, me recomendou. O louco é que vi com ela, há muito tempo no São Pedro, a montagem (ou uma das montagens) da Mrília Pera. Eu é claro que não lembro de nada. Até por aí!
Tu tá começando a me confundir. Diz que não vai falar nada e escreve tudo. Fala do iniciante Renato Campão quando o cara já tá aí no mercado teatreiro há séculos. Não sei quando tu estás sendo irônico. Acho que não te conheço o suficiente para perceber isso. Pelo menos, não no teu texto. Afinal, se não é para ir ver, por que tu dá todos os dados do espetáculo? Para quem recém começou a criticar tu já tá "batendo forte". He,he,he.
Bem que eu desconfiei que tu estavas dando uma de Dnª Margarida... Ou não? Ou sim? Ou não?...
Sugiro ao Rodrigo e aos interessados que leiam a crítica de A. Hohlfeldt a este espetáculo no JC.
http://jcrs.uol.com.br/colunistas.aspx?pCodigoColunista=214
abçs
Taís Ferreira
Bem, sou estudante de teatro, nunca dirigi um espetáculo a não ser, os de escolas. Mas uma colega me convidou pra ajudá-la na direção desta peça "Apareceu a Mrgarida". Vendo, buscando um estudo pra que eu possa mergulhar mais a fundo. Pergunto se é possível dizer um ponto crucial que deve ser trabalhado nesta peça. Qual a produção interessante, onde focá-la, usar recursos? quais?
Obrigada pela atenção.
Sou Lani Brito, de Cruzeiro do Sul- AC. Estudo Licenciatura em Teatro, pela UAB/Unb.
Assisti ontem 22/01 no Teatro do SESC, no Porto Verão Alegre. Saí decepcionado, um texto fraco, um humor forçado, baixo nível, nada crítico e inteligente. Peça arrastada, cansativa, repetitiva. Uma porcaria. Tão ruim que tive que algumas pessoas da plateia levantaram e foram emboram antes do final do espetáculo. Se alguém me perguntar qual a história da peça eu não sei responder, simplesmente pq não tem história. Eu teria vergonha de participar deste trabalho.
Um espetáculo que foi encenado em diversos países (aproximadamente 250 montagens em todo mundo), que só na língua alemã, foram 44 produções! Roberto Athayde tinha 23 anos quando escreveu a obra! Era um jovem! e PARA ENTENDER A HISTÓRIA DA PEÇA É NECESSÁRIO QUE SE ENTENDA PRIMEIRO O PERÍODO HISTÓRICO QUE SE PASSA!
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