6 de fev. de 2011

A encalhada


Foto: divulgação

Encalhada

Lisiane Berti é Maria do Amparo, uma mulher de 33 anos que está há dois anos sem namorar com ninguém. Ela é professora de Educação Física, mora sozinha e gosta muito de um dos personagens (Darci) do filme Orgulho e Preconceito. O que o público ouve e vê são seus desabafos na inglória vida de uma encalhada.

(Algo bastante semelhante a isso, o público de Porto Alegre vê em Dona Gorda, texto assinado pela mesma Lisiane Berti e interpretado por Lúcia Bendati.)

Ocorre que o que sustenta a narrativa é fraco. Vejamos algumas questões:

1) O espetáculo começa com Amparo entrando no espaço cênico vestida de noiva. Se a história começa pelo fim, isto não está claro. Vemos que ela entra já tirando a roupa de noiva enquanto fala ao telefone com sua colega professora de escola. De repente, o vestido de noiva se torna um horroroso conjunto de saia e blusa que faz a atriz parecer mais uma mãe de santo do que uma professora. Então, conhecemos Darci, uma fotografia presa na parede com quem Amparo conversa. Poderíamos pensar que o vestido de noiva é uma referência a algo que aconteceu no passado da personagem: teria sido ela abandonada no altar há dois anos? Isso também não está claro...

2) A cena da aula de Educação Física é boa, porque é uma oportunidade para conhecemos melhor a personagem. No entanto, a ação fica ilustrativa e o ritmo do espetáculo cai já logo nesse início de narrativa. O fato de conhecermos melhor Amparo não nos garante a resposta de uma questão fundamental: por que estamos ali? Que história é essa que nos será contada? O que nos motiva? O tempo corre e tudo se parece muito sensível: dois anos sem namorado ainda não nos parece ser a eternidade que teoricamente moveria a personagem para a loucura iminente.

3) Teclar com alguém em cena é sempre um problema para o dramaturgo. Aqui não é diferente. Amparo combina de, finamente conhecer o Escravo47, nickname de seu amigo virtual, muito rápido. Passa muito pouco tempo entre a conversa via MSN, o encontro e a volta para casa. Esse é um exemplo de que, quando as ações acontecem nesse espetáculo, elas são rápidas demais. O resultado é que a peça vai se tornando mais reflexiva que dramática, o que é um problema em se tratando de uma comédia. As dicas do tipo "auto ajuda", quando são mais sutis, garantem um resultado melhor. A sutileza acontece quando a história contada disfarça o tema. Aqui, até então, a história não é explorada suficientemente.

4) A mesma rapidez acontece na cena do supermercado quando Amparo conhece o Cowboy. O aparecimento desse novo personagem é um nítido e pobre exemplo deus ex-machina, uma solução dramatúrgica que cai do céu sem precedentes. Após isso, vem o fim, esse realizado de forma brusca, estranha e inverossímil.

Contada de forma nervosa, a história, além de deixar de explorar outras possibilidades, é mal contada. Vale dizer, no entanto, que é bem interpretada.

Lisiane Berti tem grande carisma e, por isso, conquista o público com muita facilidade. Em movimentos rápidos e muita expressão, a atriz confere riqueza à construção de sua personagem, aprofundamento de níveis e alguma verdade entre o que é dito a partir desse texto já considerado pobre. A movimentação é simples e clara, os objetos cênicos são reduzidos ao essencial (o que também é pobre) e os ambientes são bem definidos.

A encalhada é uma comédia simples, sem grandes pretensões e que pode, um dia, se tornar um sucesso. Para tanto, precisará vencer os desafios que ela própria criou para si. O noivado com o público, de forma tímida, acontece desde já.

*

Ficha Técnica:
Texto e Atuação: Lisiane Berti
Direção: Julio Zaicoski
Cenário e Figurino: Dani Amaral
Programação Visual: Charle Oliveira
Trilha Sonora: Gustavo Freitas

1 Comentário:

Anônimo disse...

fraca. final ridiculo. A atriz é boazinha. A trilha também. O resto é amador.

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