A roupa nova do Rei
Foto: Jorge Scherer
Simples e ótimo
A montagem de A roupa nova do rei produzida pelo Grupo Farsa é daquelas peças infantis de que a gente vai se lembrar no futuro com saudades. E, talvez, quando lembrarmos dela, pensaremos que consiste na idealização do passado a grande quantidade de bons valores que a essa peça atribuímos. Não é. Os méritos do espetáculo são visíveis e consistem no resultado de uma avaliação criteriosa e concreta.
A excelência dos aspectos visuais não é novidade para quem está acostumado às direções (extremamente comportadas) de Gilberto Fonseca. Não há um só detalhe que esteja fora do lugar, que não esteja bem acabado, que não expresse formalmente o grande valor que o grupo dá ao público que lhe assiste. Cenário, figurino, adereços, maquiagem e trilha sonora estão perfeitamente articulados com a proposta da encenação, trazendo a ela os benefícios que lhes são seus: as cores fortes dos figurinos de uma história para crianças ambientada cenicamente num palácio, a máscara branca que encerra os personagens num campo imaginativo passível de várias contribuições a partir do repertório de cada um, os objetos de cena e o cenário bastante simples e práticos, que não poluem e estimulam o preenchimento da assistência, a trilha sonora que, além de dar o tom, contribui para a criação do ritmo e o fortalecimento das intenções, essas totalmente convergentes e dispostas dramaticamente.
As interpretações, tanto de modo geral como em casos específicos, atingem patamares que elevam o teatro para crianças que é feito na capital gaúcha. Não há destaques, porque todos estão muito bem. As nuances de voz de Marcos Chaves, que interpreta o Rei, se destacam se compararmos não o ator com os seus colegas de cena, mas esse elemento de sua performance com outros, como, por exemplo, a forma como o personagem dá a ver sua movimentação, suas intenções, seu crescimento. No mesmo sentido, poderíamos destacar a força do Ministro (Plínio Marcos) e ardilosidade do Conselheiro (Vinícius Meneguzzi), se compararmos a rápida identificação que esses dois personagens estabelecem com o público. Não se pode esquecer dos dois Artesãos (protagonistas e não coadjuvantes, como equivocadamente os categorizou o júri do Prêmio Tibicuera 2010), a esperteza de um (Lúcia Bendati) e inocência de outro (Ariane Guerra), dois replicantes que, em quase nada se afastam das duplas conhecidas como o João Grilo e o Chicó, o Pink e o Cérebro, o Gordo e o Magro, e tantas outras. É nitido que cada figura foi construída depois de uma intensa investigação sobre a possível riqueza de detalhes que o texto adaptado por Roberto Oliveira, do clássico publicado em 1837 pelo dinamarquês Hans Christian Andersen, oferece enquanto literatura. Incluindo ainda as figuras que aparecem rapidamente como candidatos ao cargo de costureiro real, não há, em nenhuma construção, a expressão de um só elemento cuja forma seja discordante com o todo. A roupa nova do Rei é um espetáculo excelentemente dramático e sua montagem deixa claro que quem é responsável por ela sabe exatamente o que está fazendo.
O resultado é o agradável entretenimento que faz rir crianças e adultos, nossa cidade e, espero, também outras. Faz repensar sobre o valor que damos à nossa própria inteligência e à força que a opinião alheia exerce sobre nós. Com os merecidos parabéns, o Grupo Farsa presenteia nossa cidade com um presente aparentemente simples, mas, em essência, resultado de vários desafios plenamente vencidos. Vale a pena ser visto e aplaudido e, não menos, recomendado.
*
Ficha técnica:
Direção: Gilberto Fonseca e João Pedro Madureira
Texto: Roberto Oliveira (a partir do conto de Hans Christian Andersen)
Elenco: Marcos Chaves, Ariane Guerra, Lúcia Bendati, Plínio Marcos Rodrigues e Vinícius Meneguzzi.
Figurino: Daniel Lion
Trilha sonora: Marcos Chaves
Cenário: Gilberto Fonseca e Grupo Farsa
Iluminação: Gilberto Fonseca
Maquiagem: Elison Couto
Produção: André Oliveira e Grupo Farsa
Simples e ótimo
A montagem de A roupa nova do rei produzida pelo Grupo Farsa é daquelas peças infantis de que a gente vai se lembrar no futuro com saudades. E, talvez, quando lembrarmos dela, pensaremos que consiste na idealização do passado a grande quantidade de bons valores que a essa peça atribuímos. Não é. Os méritos do espetáculo são visíveis e consistem no resultado de uma avaliação criteriosa e concreta.
A excelência dos aspectos visuais não é novidade para quem está acostumado às direções (extremamente comportadas) de Gilberto Fonseca. Não há um só detalhe que esteja fora do lugar, que não esteja bem acabado, que não expresse formalmente o grande valor que o grupo dá ao público que lhe assiste. Cenário, figurino, adereços, maquiagem e trilha sonora estão perfeitamente articulados com a proposta da encenação, trazendo a ela os benefícios que lhes são seus: as cores fortes dos figurinos de uma história para crianças ambientada cenicamente num palácio, a máscara branca que encerra os personagens num campo imaginativo passível de várias contribuições a partir do repertório de cada um, os objetos de cena e o cenário bastante simples e práticos, que não poluem e estimulam o preenchimento da assistência, a trilha sonora que, além de dar o tom, contribui para a criação do ritmo e o fortalecimento das intenções, essas totalmente convergentes e dispostas dramaticamente.
As interpretações, tanto de modo geral como em casos específicos, atingem patamares que elevam o teatro para crianças que é feito na capital gaúcha. Não há destaques, porque todos estão muito bem. As nuances de voz de Marcos Chaves, que interpreta o Rei, se destacam se compararmos não o ator com os seus colegas de cena, mas esse elemento de sua performance com outros, como, por exemplo, a forma como o personagem dá a ver sua movimentação, suas intenções, seu crescimento. No mesmo sentido, poderíamos destacar a força do Ministro (Plínio Marcos) e ardilosidade do Conselheiro (Vinícius Meneguzzi), se compararmos a rápida identificação que esses dois personagens estabelecem com o público. Não se pode esquecer dos dois Artesãos (protagonistas e não coadjuvantes, como equivocadamente os categorizou o júri do Prêmio Tibicuera 2010), a esperteza de um (Lúcia Bendati) e inocência de outro (Ariane Guerra), dois replicantes que, em quase nada se afastam das duplas conhecidas como o João Grilo e o Chicó, o Pink e o Cérebro, o Gordo e o Magro, e tantas outras. É nitido que cada figura foi construída depois de uma intensa investigação sobre a possível riqueza de detalhes que o texto adaptado por Roberto Oliveira, do clássico publicado em 1837 pelo dinamarquês Hans Christian Andersen, oferece enquanto literatura. Incluindo ainda as figuras que aparecem rapidamente como candidatos ao cargo de costureiro real, não há, em nenhuma construção, a expressão de um só elemento cuja forma seja discordante com o todo. A roupa nova do Rei é um espetáculo excelentemente dramático e sua montagem deixa claro que quem é responsável por ela sabe exatamente o que está fazendo.
O resultado é o agradável entretenimento que faz rir crianças e adultos, nossa cidade e, espero, também outras. Faz repensar sobre o valor que damos à nossa própria inteligência e à força que a opinião alheia exerce sobre nós. Com os merecidos parabéns, o Grupo Farsa presenteia nossa cidade com um presente aparentemente simples, mas, em essência, resultado de vários desafios plenamente vencidos. Vale a pena ser visto e aplaudido e, não menos, recomendado.
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Ficha técnica:
Direção: Gilberto Fonseca e João Pedro Madureira
Texto: Roberto Oliveira (a partir do conto de Hans Christian Andersen)
Elenco: Marcos Chaves, Ariane Guerra, Lúcia Bendati, Plínio Marcos Rodrigues e Vinícius Meneguzzi.
Figurino: Daniel Lion
Trilha sonora: Marcos Chaves
Cenário: Gilberto Fonseca e Grupo Farsa
Iluminação: Gilberto Fonseca
Maquiagem: Elison Couto
Produção: André Oliveira e Grupo Farsa
2 Comentários:
Era um espetáculo para criança? Nem notei. :)
Hehehe.
Para crianças de todas as idades, Helena.
E obrigado pelas palavras, Rodrigo.
Abraço.
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