8 de set. de 2010

Prazer


Não acontece

Prazer” consiste na mal fadada primeira direção de Karen Radde. Em cena, vemos um Homem (Miguel Sisto) e uma Mulher (Juliana Thomaz) discorrer sobre o Amor, algo como se fosse um terceiro personagem passível de entrar a qualquer momento que ambos personagens conhecem, mas de jeitos diferentes. Cada um descreve esse “ser” para o outro, cobrando certezas, chamando a atenção sem a lapidação necessária ao teatro quando constrói-se a partir de um texto não-dramático. Teatro é sempre algo que não é outra coisa que não teatro. Assim, ao usá-lo, o encenador deve saber (bem) no que consiste esse teatro, que não é um terceiro (ou quarto personagem) mas o corpo (forma e conteúdo) de todos os personagens em cena e fora dela. Num clima que parece Eu sei que vou te amar,em que Jabor coloca Fernanda Torres e Thales Pan Chacon, sem, de perto, conseguir no teatro o que o cineasta conseguiu no cinema, Radde dá a ver uma história em que um pintor mostra-se apaixonado por alguém cujo nome nem mesmo sabe. No cenário, estão molduras e quadros, além de uma cama. Ela veste um vestido de veludo. Ele calças rasgadas. Ela é a mulher fatal e ele é um passional artista bem como tantos, além de Cristian, o protagonista do Moulin Rouge. Há cigarros, há bebidas, há músicas apaixonáveis, há um microfone e poesia. O arsenal de Radde é um requentado e embolorado prato de sopa rala nada convidativo a quem o aconchegante Teatro do Centro Cultural Edson Garcia e a dupla de atores são estranhos, o que não é o meu caso pessoal, mas é sempre em quem penso.

O espectador pensa no amor e tem a oportunidade de avaliar seus relacionamentos a partir da proposta do texto. Amor é um tema sempre válido de ser tratado e que inevitavelmente se sobrepõe à sua forma, independente qual for ela. O português corretíssimo e monocorde de Sisto, o peso de Thomaz que, em vestidos apertados e sapatos altíssimos, pouco consegue se movimentar no barulhento palco, não atrapalham de todo as reflexões de quem lhes assiste e vê a si. Juliana Thomaz, principalmente nos momentos sobre a cama, quando está mais próxima de Miguel Sisto, apresenta possibilidades de jogo que não encontram resposta no colega de palco. São sempre duas pessoas em cena e, em nenhum momento, uma cena.

Talvez os dois momentos em que “Prazer” se comunique com o espectador, uma vez que o espetáculo se fecha em si ao apenas apresentar “temas para reflexão” sem prender a atenção devido a tantos problemas, são os discretos momentos de dança. É quando nos arrumamos na cadeira e é possível pensar: “Algo novo virá!” O momento é curto e medroso e se acaba tão logo começa. O marasmo volta, os velhos significados retornam mais uma vez tratados como já outrora tantas e pobremente o foram ao longo do tempo. O prazer não acontece. E, assim, também não o “Prazer”.

*

Ficha técnica:

Direção: Karen Radde
Texto: Julio Wargas Ribeiro
Elenco:
Juliana Thomaz
Miguel Sisto

Composição musical: Alvaro RosaCosta
Figurino: Renato Santa Catharina
Cenografia: Cláudio Benevenga
Iluminação: José Vicente Araújo Goulart
Operação de Som: Fabio Cunha
Divulgação e Produção: Juliana Thomaz

2 Comentários:

Anônimo disse...

E o que a peça tem de bom? Entendi que não gostaste da estrutura. Mas e o texto?

Anônimo disse...

TENS RAZÃO!

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