11 de jul. de 2010

Fenícias

Foto: divulgação

Um pouco de Eurípedes



“Fenícias” foi escrito por Eurípedes por volta de 411 a.C. e aprofunda o drama da família do amaldiçoado Édipo, Rei de Tebas, protagonista do texto de Sófocles. Mas isso quanto ao texto. O espetáculo em cartaz na capital gaúcha é a leitura cênica do Grupo Jogo, numa montagem dirigida por Alexandre Dill, do clássico grego. Aqui trataremos sobre a segunda, embora seja difícil esquecer da primeira.

A produção tem pouco menos de uma hora de duração e isso já deixa ver que a relação da cena com o texto original não é próxima uma vez que seria impossível colocar em tão pouco tempo tantos longos diálogos. Assim, pode se perceber que o Grupo Jogo aposta mais na narrativa do que no texto propriamente dito. Ao espectador, é contada a história dos irmãos Polinices e Etéocles, filhos de Édipo, que disputam o poder de Tebas. Sobre o primeiro, cai o peso de ter invadido a própria pátria em que entrara com soldados preparados para destruí-la. Sobre o segundo, o Rei, cai o peso da traição ao próprio irmão, a quem deveria entregar o trono findo um ano de seu reinado, conforme fora combinado na sequência da destituição de Édipo, seu pai e irmão. Os dois jovens são filhos de Jocasta e é nela que, em Eurípedes e em Dill, a narrativa ganha centro. Lá como aqui, “Fenícias” é um espetáculo que trata das paixões, do humano, do que é mortal.

O cenário da produção é austero: nós em laços vermelhos caem do teto. Os mesmos laços cheios de nós unem a sala de espera à platéia, como também Jocasta a seus filhos. Os laços unem os humanos, distanciam eles dos deuses. Quebram-se os laços, deixa-se a humanidade sem ascender à divindade. É o lugar do limbo. A plástica da produção se complementa com máscaras sobre a cabeça dos atores: uma nova face se dá a ver, ou se esconde, dependendo de como o ator se movimenta no palco. O efeito pode ser lido de vários sentidos e engrandece o coro de fenícias, mulheres que dão nome ao espetáculo. A dança e a música completam a paleta de boas opções estéticas que preenchem a contagem da história, trazendo à cena um cheiro de sagrado, de divino, de Olimpo, muito próprio ao tema que oferece um encontro entre aquilo que é destino e aquilo que é conseqüência de atos humanos.

Os valores terminam por aqui. “Fenícias” não tem uma grande história para contar se não for contada bem. É um exemplo bastante singular de tema em que, se você não explorar a forma de dizer a narrativa, não auxilia a história. Numa metáfora bem rasteira, poderia dizer que se o filho não caprichar na justificativa, não ganha o dinheiro do pai para passar o final de semana na praia com os amigos. É preciso citar objetivos acadêmicos, boas notas, trabalho, ou, pelo menos, elencar a beleza da previsão do tempo, a proximidade com os companheiros, a necessidade por viver esse momento entre os seus pares. O Grupo Jogo não ganharia o dinheiro do pai porque não tem a paciência para contar bem sua história. O texto de Eurípedes é belo demais para ser resumido (mais do que cortado) e um clássico grego oferece muito pouco a Laban, a Artaud e a Barba (dança contemporânea, teatro da morte e antropologia teatral respectivamente), autores citados no programa da peça, porque seus temas são outros que não os desafios da contemporaneidade (Beckett une as tragédias de antanho com os desafios do homem do século XX, mas, para isso, reconstrói o universo trágico ao invés de se esmerar numa releitura.). Assim, a importância dos três autores na montagem de Eurípedes ganha ares de afresco porque parecem terem sido usados mais de forma interesseira do que de forma interessada.

Talvez a questão mais problemática da produção, equilibrando esse ponto negativo aos positivos citados no início desse texto, sejam as vozes dos atores ao dizer um texto tão belo e forte: por vezes, parecem gritar. Com isso, a direção dá força ao que já é forte por si só, tornando ainda mais frágil a história arraigada do homem que matou o pai e casou-se com a própria mãe.

“Fenícias” é um espetáculo para ser visto por quem se aventura a conhecer os clássicos gregos. O valor de Dill, ao contar rapidamente a história, não deve ser desperdiçado. No entanto, a produção cênica não satisfaz o texto escrito, tampouco criando um diálogo profícuo com ele. Resta sair do teatro e correr à biblioteca infelizmente.

*

Ficha Técnica:
Direção: Alexandre Dill
Orientação teórica: Paulina T. Nólibus

Elenco: Alexandre Dill, Caroline Lazzarotto, Gustavo Susin, Igor Pretto, Valquíria Cardoso e Vicente Vargas.

Cenário: Alexandre Dill e Bruno Salvaterra
Figurino: Alexandre Dill, Alex Limberger e Valquíria Cardoso
Iluminação: Igor Pretto
Maquiagem: Alexandre Dill
Criação Visual: Alexandre Dill, Bruno Salvaterra e Gustavo Susin
Equipe Técnica: Karine Lemos, Thainá Gallo e Gustavo Susin
Produção Executiva: Gustavo Susin e Karine Lemos
Produção: Grupo Jogo

1 Comentário:

Anônimo disse...

"Luciano Alabarse, de cujo trabalho já falei terrivelmente mal (ver crítica de “Platão”) e nem por isso, talvez por já ter completado 12 anos (sic)"

Rodrigo, me surpreende que tu ceda o teu tempo para escrever um texto de, no mínimo, 10 linhas, para dizer o absurdo que é o fato de o Renato Campão ter usado o nome da Jezebel de Carli e do Zé adão barbosa num deboche em uma peça, dizendo que eles são artistas e que não se deve ofende-los pelas pessoas. Ah. Aí tu pareces ser um amor. Mas olha o teu comentário na crítica de Bodas de sangue. Quer dizer que então, todo mundo que ficou chateado com o que tu disse (não, o que tu disse não. a forma que tu escreveste) como Renato del Campão, Bob Bahlis, João de ricardo e seus respectivos atores são pessoas com mentalidade de 12 anos?

Agora eu me pergunto. Será que realmente tu tem o direito de ficar "abismado" com o que o renato del campão fez, sendo que tu faz praticamente a mesma coisa? Ah, não. Não faz. Faz de forma velada. O que é pior.

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