27 de nov. de 2008

A vida sexual dos macacos




Quem disse que para ser bom de cama é preciso ser alguém tipo Gianechinni?


Se desde Adão e Eva os homens fazem sexo, por que revistas pornôs ficam tão feias quando envelhecem? Sim, porque qualquer um que pegue uma revista de 10 anos atrás, com certeza, vai achar ela uó do zê. Como as gírias, as revistas pornôs envelhecem. Mas o sexo não!
Quando se trata de fotografia, o objeto fotografado passa a ser apenas um elemento mínimo (de novo Christian Metz presente aqui no blog!). O fotógrafo Mauro Holanda que o diga, ao fotografar partes de animais mortos pronto para serem consumidos por não-vegetarianos (ainda). O porquinho é só um elemento, mas há outros: a luz, o enquadramento, a fitinha que o envolve, a palheta de cores... O teatro, quando coloca sua mão sobre o sexo, torna ele apenas um elemento. Mas há outros: o ator, a direção de arte, a produção, o espaço...
Com texto e direção de Felipe Vieira de Galisteo, Daniel Colin entra em cartaz com “A vida sexual dos macacos”. O tema, nada mais é do que fazer com que a gente entre na cozinha do restaurante, o que eu acho muito desagradável. Mas, como eu disse, o tema pode ser olhado apenas como um elemento mínimo. Há outros, felizmente!
Daniel Colin, antes de ser comediante, é ator. Já o vi em Medusa de Rayban, em Médico à força e agora nessa. A gente sente que ele tem técnica. Seus olhares são repertorizados, seus movimentos ensaiados, seus objetivos bastante definidos. A voz é projetada na medida adequada, a energia solta em doses homeopáticas segundo a proposta do personagem. Ele não é Gianecchini, mas faz sexo muito bem. ( NÃO! Eu nunca fiz sexo com Gianecchini. Ele é muito gordo pra mim...) É carismático, porque sabe prender a atenção de uma platéia. E tem ritmo: sente quando a bola (?) está caindo. Nisso consiste seu maior talento: ele sabe dialogar com o público independente do texto propor a quebra da quarta parede ou não.
Houvesse quarta parede, seríamos voyeristas no monólogo de Galisteo. Como não há, a relação do personagem com o público nos leva a pensar sobre a utilização do código teatral no espetáculo.
Há quem pense que um filme de duas horas em que um filho e sua mãe conversam dentro de uma casa com câmera parada é menos cinema do que Indiana Jones, qualquer que seja o subtítulo. Não seria incomum ouvir que uma peça em que o ator expressa que está perdendo foco para algo que concorre com sua performance ou que faz perguntas para o público sobre sua intimidade é menos teatro que “Balei na Curva”, em que você nem mesmo é consultado, ou “A Comédia dos Erros”, em que os atores sabem que você está ali e, vez em quando, piscam para você. Mas seria um equívoco. Teatro não é teatro pela forma como o ator (ou seu personagem) se relaciona com o público, mas por todo um conjunto de articulação de códigos que, utilizando-se da linguagem teatral, se materializa em vários elementos, sendo imprescindível, a presença do ator. “A vida sexual dos macacos” pode até parecer uma palestra, em alguns momentos, mas é teatro sem qualquer dúvida.
Resta pensar sobre a forma como o monólogo se apresenta ao público, dada a certeza de que é de teatro que estamos falando. Começa como uma palestra, uma aula, faltando, como o próprio anfitrião percebe, um projetor de power point. Pequenas histórias vão sendo contadas como exemplos das teses que estão sendo lançadas. Inicia-se um jogo de vai e vem. Vamos pra narração, voltamos pra dissertação e assim por diante. De repente, vemos que a peça está dividido em capítulos, uma aula em períodos: “Felipe em... sua primeira aventura sexual com o sexo oposto”, por exemplo. Mas a aula continua como carro chefe. Aí, perto do final, o esquema parece ser abandonado. Alguém bate o sinal e o recreio começa, embora a professora continue sentada na sua cadeira a nos espionar: a quarta parede continua não existindo, o ator continua falando com a gente, mas não espera mais nossas respostas. Uma longa e interessante história começa a ser contada. “Felipe vai a Londres...” É uma história cheia de aventuras, energias e desafios. A luz diminui na platéia e o sol brilha no pátio do colégio. Um vendedor vende doces lá e é claro que todos iremos até ele! E aí o recreio termina. E voltar pra palestra é tão chato como voltar pra sala de aula. A narração acabou. Felizmente, a aula é curta e saímos de novo, mas agora não é mais recreio. É hora de ir pra casa!
Na saída, o vendedor de doces abana pra gente e diz que nos espera até o próximo recreio, o que só acontecerá amanhã: um corpo, um resquício de narração está deitado. Fica o sentimento de que nem falamos bem de sexo, nem fizemos algo bom. Nem fomos à cozinha, nem jantamos. Demos apenas um oi pro dono do restaurante, esse, sim, muito solícito em nos atender. Um lugar com uma decoração simples e caseira, uma luz suficente e uma disposição bem convencional, com tudo para nos deixar a vontade. Mas que não nos diz a que veio no bairro, nem o que viemos fazer ali.
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ELENCO:
Daniel Coline participação especial de Rossendo Rodrigues
FICHA TÉCNICA
Texto: Daniel Colin e Felipe Vieira de Galisteo
Direção: Felipe Vieira de Galisteo
Iluminação e Instalação Cênica: Felipe Vieira de Galisteo
Figurinos: Daniel Colin e Felipe Vieira de Galisteo
Trilha Sonora Original: Leônidas Rübenich
Produção: Palco Aberto Produtora
Realização: Teatro Sarcáustico

7 Comentários:

Helena Mello disse...

Acho que minha opinião sobre o teu texto é um tanto narcisista. Já que o que eu gosto nele, é o que dizem que eu faço bem. Ou seja, eu não apenas te leio. Eu te escuto dizendo as palavras que ali estão. E é muito bom ver que tu falas de teatro com tanta propriedade, mas, como eu acho que tu não vais te ofender com a minha opinião, talvez, seja interessante tu trabalhares mais na questão da síntese, pois, mesmo que o espaço virtual permita, dependendo do tamanho do texto, os leitores não terão paciência de ir até o final. Ou seja, faça o que não fiz aqui no meu comentário!

Colin disse...

Muito obrigado pelo espaço dedicado no teu blog, Rodrigo.
Mas preciso te dizer que não sei se me ficaram muito claras as tuas intenções com esta crítica. Eu também não sei dizer a que ela veio.
Grande abraço,
Daniel Colin

Anônimo disse...

Bom ou ruim?
Fica a dúvida...

Rodrigo Monteiro disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

Guillermo Alfonso Cavalcante Escajedo disse...

amei a critica, pretendo asistir ainda, mas adorei a forma como escreveu, o jeito com que falou tudo sem dizer nada, explicou a essência da peça sem dizer o que acontece e cerceou uma quase narração do espetáculo sem que perdessemos a vontade de assisti-lo ou mesmo soubessemos exatamente o que iriamos assistir.



ps* em relação ao comentario da helena, quem sou ou pra discordar, mas acho que se ele sintetiza-se a critica ela perderia a graça, ficaria assim como as sinopses de filme, que na maioria contam o filme quase todo de maneira direta e nada poética.

Anônimo disse...

Assisti na Usina do Gasômetro e simplismente adorei.

Justine disse...

aCHO QUE ENTENDIR BEM, O SEU TEXTO ACABEI DE CONHECER MAS JÁ ESTOU AMANDO, EU ENTENDIR QUE A PEÇA PROMETIA MTO MAIS, MAS MOSTROU DE MENOS
OBRIGADA PELA SUA OPINIÃO E VOU LHE SEMPRE

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