Bach para crianças
Foto: Divulgação
Duas faces do sucesso
A classe teatral se une em dois aspectos: no seu amor ao teatro e na compreensão de que não há teatro sem público, seja esse último de que tamanho for. A Coordenação de Artes Cênicas de Porto Alegre, em mais de um de seus gestos simples, mas extremamente importantes, reuniu, na semana que passou, os artistas cênicos da capital para discutir questões referentes que, de alguma forma, se relacionam com o Sucesso. Assim, em duas noites, diversos pontos de vista foram trazidos à baila, todos eles pertinentes ao fazer artístico, seja do ponto de vista da produção dos espetáculos, da qualidade estética ou da implementação de uma possível política cultural.
Para mim que, sempre com muito prazer, assisto aos fazeres desse grupo encontro no espetáculo “Bach para crianças” campo rico para uma humilde contribuição. Estando na origem da palavra teatro, a ideia de “lugar de onde se vê”, o Sucesso, por ser um conceito extremamente subjetivo, concorda com o teatro na medida em que parte da pergunta: “De onde quem vê o quê?”. O público vê os atores. Os atores vêem a si mesmos e também o público. Encontro aqui mote para iniciar minha parcial contribuição.
1) Quando os atores se vêem e vêem o público.
O Grupo Cuidado Que Mancha, quando se vê e vê seu público, encontra no espetáculo “Bach para crianças” uma produção extremamente bem cuidada em todos os seu aspectos. Constrói um texto que parte da brincadeira possível entre a expressão gaúcha Bah! e do nome do compositor Bach para conquistar as crianças e os adultos que lhe assistem. Esse texto evolui sempre alternando entre a biografia do músico e algumas informações relevantes acerca dos instrumentos musicais, das notas, dos estilos, enfim de várias informações que enriquecem o trabalho e também quem lhe assiste. Cada frase acontece em tantos níveis quanto é possível a compreensão, possibilitando aos espectadores fruir a produção sempre de forma a contemplar as diversas bagagens culturais. Os três músicos (Sergio Olivé, André Paz e Marjana Rutkovski) interagem com o público, com o Maestro (Róger Wiest), com seus instrumentos e entre si de forma a nos convidar para participarmos juntos com eles da história que se conta. Ao longo de quarenta minutos, trechos de quatorze composições de Bach são executadas e o resultado não poderia ser outro que não pedidos de bis e aplausos sem fim. A dureza de uma música barroca, a partir de ouvidos talvez mais acostumados ao que se ouve na TV e na internet, é encarada pelo Grupo como um mote para colorir. As crianças brincam com os sons, os adultos se envolvem, o espetáculo acontece. Com um cenário e figurinos simples, mas visivelmente planejados, toda a atenção é dada à música de Bach. Róger Wiest, o maestro, é quem guia o olhar do público por todo esse universo que sabe em nenhum lugar insignificante e, por isso, tão bem sucedido. O Sucesso aqui quer dizer olhar para si e para o público com atenção, oferecendo não o melhor que se pode, mas tudo de que é preciso para acontecer no máximo das suas potencialidades.
2) Quando o público vê os atores.
Quando o público vê o espetáculo “Bach para crianças”, ele encontra tudo o que precisa para se orgulhar da cidade onde mora. O espetáculo começa na hora marcada, acontece num lugar confortável (com estacionamento, cafés, banheiros e lugares para se esperar ou ficar mais um pouco após o final da peça) e fornece um programa com todas as informações que possam ser interessantes. Existe uma equipe de recepção bem preparada e há a divulgação de números de telefone, site e email de contato, caso seja preciso alguma consulta prévia ou posterior. Apesar da sala de espetáculo não ter, em sua construção, todos os aspectos ideais para um palco à moda italiana, há a conquista de uma simpatia que possibilita ao público ajustar-se à realidade, oferecendo, por exemplo, os lugares da frente para as crianças, as cadeiras para os mais velhos e assim por diante. Ou seja, não há barreiras entre o público e “Bach para crianças”, mas, ao contrário, há o convite para que cada um ajude gentilmente a divulgar a produção e volte nessa ou em outras do mesmo grupo. Sucesso aqui quer dizer abrir as cortinas da produção para o público em todos os aspectos e não só enrolar o pano de boca e deixar o palco ser visto.
Nesse sentido, “Bach para crianças” é um bem para Porto Alegre que é digno dos aplausos que recebe, porque também aplaude a cidade, a sua classe e o seu público.
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Ficha técnica:
Roteiro: Raquel Grabauska e Róger Wiest
Maestro e Voz: Róger Wiest
Teclado: Sergio Olivé
Violão: André Paz
Violoncelo: Marjana Rutkovski
Repertório: Cláudio Veiga
Cenário e Figurino: Mariana Melchiori
Direção: Raquel Grabauska
Produção: Raquel Grabauka e Alexandre Prabalde
1 Comentário:
Caro Rodrigo, acompanho sempre o seu blog e gostaria de convidá-lo a assistir o espetáculo "Wilma e Elza" dentro da programação do 1º Cinpoa, dias 25,26 e 27 de março as 21 no Teatro Carlos Carvalho. Mais informaçoes em www.wilmaeelza.blogspot.com
Abraço!
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