15 de set. de 2008

Os Saltimbancos


Crianças de 40 minutos


Há lugares onde animais não podem entrar. Em outros, o acesso de adultos não é permitido. No primeiro, os bichos têm que adquirir funções de humanos, essas externas a eles. Na segunda situação, nós, adultos, temos uma ótima desculpa para tirarmos de dentro de nós mesmos uma criança que, entre várias idades, às vezes, fica meio perdida na quantidade de roupas que usamos. Shorts, conga e camiseta listrada. Bonequinho do Comandos em Ação e, na cabeça, transação ultra secreta sobre uma rolimã que eu estou muito afim, mas que deusolivre minha mãe saber: fui eu ver “Os Saltimbancos”!
Um toque de campainha. Gritos. Palmas. Excitação. Outro toque seguido de um segundo. Wow! Um medo misturado com alegria. Uma narração e... Outro toque acompanhado de outro e mais outro terceiro. Meldeuz! A peça vai começar! Susto e louca vontade de que tudo aconteça logo! E, então, começa.
A euforia das crianças que esperam a história chegar me fez pensar sobre o medo dos toques de campainha, que são três, sempre num clima de pavor do novo e de prazer da aventura, tudo isso misturado como num milkshake doce e gelado. No fundo, eu também estava louco para ver, mais que ouvir, as músicas de Chico Buarque.
A Companhia Teatro Novo já tinha quase dez anos quando Chico Buarque (e, se Álvaro Rosacosta não se engana, Sérgio de Carvalho) produziu e adaptou as músicas de Luiz Enriques Bacalov e as letras de Sérgio Bardotti Bardotti para a história inspirada no conto “Os Músicos de Brehmem”, dos Irmãos Grimm. E já tinha trinta anos quando montou o espetáculo pela primeira vez. No aniversário de quarenta anos, temos o espetáculo de novo em cartaz, mostrando que são quatro, e não três, os toques que dão início ao espetáculo. Burro, Cachorro, Galinha e Gata são as campainhas dessa história que já nasce com a gente.
Afeição. Doçura. As interpretações são simples. Álvaro RosaCosta, Leonel Radde, Suzana Schoellkopf e Lucia Bendati incorporam gestos já cristalizados na convenção dos animais: a galinha que bota o rosto para frente, a gata que é leve, o cachorro com a parte superior das mãos viradas para cima, o burro pesado, lento e duro. Não precisa mais que isso para que os identifiquemos como bichos e os deixemos entrar. Os barões e bailarinos, por sua vez, cobram de nós infantilidade suficiente para termos medo nas cenas de batalha e alegria nas danças que executam. Se passamos no teste, podemos nos divertir. Em, sim!, passamos pela prova e curtimos a montagem dirigida por Ronald Radde.
Mas tudo dura muito pouco... Quarenta minutos se passam e somos de novo adultos chatos e moribundos a nos perguntar o porquê de uma iluminação que deixa tantas vezes a história no escuro e a razão, ou falta dela, de um figurino que deixa tanto a desejar. Tecidos que não refletem a luz e têm tamanho apropriado ao personagem e aos atores melhorariam muito! Sem falar na beleza plástica da peça (cenário, luz e maquiagem), com cores e brilhos que estão tão aquém do musical de Chico e das interpretações dos seis heróis (faltou citar Gustavo Curti e Aline Jones) - atores que nos divertem com o sua agilidade em fazer tanto em tão pouco.
Se as notas são sete, todas elas devem entrar na pauta. Para isso, precisa-se que elas deixem de ser meras bolas e passem a ser tons! Se Ronald Radde, de história teatral indiscutível, é a clave e os atores dão o ritmo, onde está melodia que encheria de graça e de alma não só as crianças de sempre, como também as crianças de quarenta minutos?
Se me tornei criança para entrar no Teatro do DC e me divertir a beça, esquecendo até mesmo do rolimã, vai o recado de que não quero sair de lá tão cedo.
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ELENCO:

Álvaro RosaCosta
Susana Shoellkopf
Lúcia Bendati
Leonel Radde
FICHA TÉCNICA
Direção: Ronald Radde
Direção de Produção: Ellen D'ávila
Coreografias: Jussara Miranda
Figurinos: Titi Lopes
Cenografia: Rodrigo Lopes
Bonecos: Paulo Balardin
Iluminação: João Acir

2 Comentários:

Anônimo disse...

Rodrigo, que bom que tua criança pôde curtir e quis mais! Só duas correções, a "baroa" que assististes chama-se Aline Jones. Não consta no programa pois ela entrou depois. E meu nome artístico, apesar do meu tamanho, é Lúcia e não Lucinha, hehe... e Bendati, com um "t" só!
beijos querido, e boa sorte!
Lúcia Bendati

Alvaro RosaCosta disse...

Blz, Rodrigo!!??
Só para corrigir a ficha técnica!
As músicas, tão conhecidas de nossa infância, não são do Chico Buarque.
Em 1977 O Chico e, se não me engano, Sérgio de Carvalho, fizeram a produção e adaptação da obra de Sérgio Bardotti(letra) e Luiz Enriques BAcalov (música).
Toda a orquestração veio da Itália, por isso a gravadora topou lançar o disco.Aqui foram substituidas as vozes originais pelas da Nara Leão, Miucha, magrão e Milton.A tradução e adaptação, sim, cabem ao Chico.
Um erro histórico que merece reparo!
Abs, Álvaro.

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