Comédia dos Erros - Cia Stravaganza
foto: divulgação
Comédia dos nossos Erros
Então, Lauro Ramalho, ou Laurita Leão, ou seja lá que mulher, homem, travesti ou personagem que for faz um círculo pela cena olhando muitos de nós nos olhos. Senta-se em sua cadeira, a luz escurece sobre nós e aumenta sobre ele. É ele quem dá a ordem: somos o que somos, vivemos onde vivemos, moramos onde moramos e assistimos ao que assistimos. Será?
Eu fui para ver uma comédia. Eu fui para um teatro. Eu fui para ver Shakespeare. Não lembro de Wim Wenders, autor do texto de abertura, fazer comédia no cinema e, muito menos, no teatro. O Studio Stravanganza é um galpão onde as cadeiras, embora branquinhas, são do tipo “praia”. E Shakespeare? Shakespeare não estava lá.
A história começa com um caminho sendo traçado no chão. Um caminho construído com textos, ou restos deles, que foram usados pelos atores na composição do espetáculo. Uma rua. Uma viela. Um caminho que se desfaz na tempestade do mar. Os atores entram e pegam novamente os textos do chão e batem as folhas já gastas umas contra as outras. O texto se perde na tempestade que gera o conflito que gera a ação que, nessa peça, gera o espetáculo. Dois pares de bebês gêmeos, um par de patrões e um par de escravos, se perdem de seus pais que também, por sua vez, são separados para sempre. Crescidos são bem conhecidos nas cidades inimigas onde moram: Éfeso e Siracusa. O Antífolo de Siracura, para conhecer o mundo, resolve partir até chegar clandestinamente na cidade onde, sem nem saber que ele existe, tem um irmão. O pai, sem saber também para onde o segundo filho foi, resolve trilhar o mesmo caminho e chega ao mesmo lugar. É em Éfeso que o nó talvez se desfaça.
O gêmeo não sabe que é gêmeo. O filho não sabe onde estão seus pais. Os pais não sabem onde estão seus filhos. A esposa espera pelo marido que não chega. A cunhada não sabe o que é o casamento. O escravo não sabe o que é a liberdade, mas nós sabemos que estamos vendo, já conformados por não estarmos vendo uma comédia, num teatro, escrita por Shakespeare.
Eis que vem o riso solto de quem caminha na rua e vê ou ouve algo que simplesmente lhe desperta a vontade de rir. Eis que entramos na história sem moldura de palco italiano, o conforto de cadeira de veludo também italiano e nos divertimos com um grupo de atores que, embora gaúchos e não italianos, estejam tão bem em suas performances. Eis que nos damos conta de que a pessoa de Shakespeare a quem, elitistas e intelectualóides que somos, nos gabávamos querer encontrar, morreu há séculos, mas o seu texto está vivo em rima e em verso, em ritmo e em imagem, em trama, em sentimento e em pensamento. E aí vem o resto.
A gente pode ter começado com a dúvida “eu sou quem eu sou?”, mas saímos com alguma certeza: não há o que destacar de “A Comédia dos Erros”, produção que faz parte dos 20 anos da Companhia Stravanza. Se for falar do figurino, há que se falar dos objetos e da maquiagem. Se da luz, teremos que falar do cenário, parte do qual somos, figurantes de um mercado em que nós mesmos podemos comprar. Se da trilha, seja a música de Monica Tomasi, ou da sonoplastia incidental, incluindo as vozes dos atores sem coxia que participam integralmente da história o tempo todo, teremos que falar das vozes dos atores. Se dos atores, somos obrigados a falar da direção de Adriane Mottola. Então, essa crítica se tornaria outro texto, cheio de tramas e honras, de detalhes e chatices. Por hora, convém apreciar os movimentos de Gustavo Curti e Rodrigo Mello, o deboxe de Lauro Ramalho, ele mesmo um personagem, os olhos de Carlos Alexandre, Sofia Salvatori e Janaina Pelizzon e todas as cores com que Anita Coronel, Kike Barbosa e Adelino Costa ajudam a pintar essa Comédia dos Erros, que, só é boa por não ter pensado em acertar nada além do alvo.
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Eu fui para ver uma comédia. Eu fui para um teatro. Eu fui para ver Shakespeare. Não lembro de Wim Wenders, autor do texto de abertura, fazer comédia no cinema e, muito menos, no teatro. O Studio Stravanganza é um galpão onde as cadeiras, embora branquinhas, são do tipo “praia”. E Shakespeare? Shakespeare não estava lá.
A história começa com um caminho sendo traçado no chão. Um caminho construído com textos, ou restos deles, que foram usados pelos atores na composição do espetáculo. Uma rua. Uma viela. Um caminho que se desfaz na tempestade do mar. Os atores entram e pegam novamente os textos do chão e batem as folhas já gastas umas contra as outras. O texto se perde na tempestade que gera o conflito que gera a ação que, nessa peça, gera o espetáculo. Dois pares de bebês gêmeos, um par de patrões e um par de escravos, se perdem de seus pais que também, por sua vez, são separados para sempre. Crescidos são bem conhecidos nas cidades inimigas onde moram: Éfeso e Siracusa. O Antífolo de Siracura, para conhecer o mundo, resolve partir até chegar clandestinamente na cidade onde, sem nem saber que ele existe, tem um irmão. O pai, sem saber também para onde o segundo filho foi, resolve trilhar o mesmo caminho e chega ao mesmo lugar. É em Éfeso que o nó talvez se desfaça.
O gêmeo não sabe que é gêmeo. O filho não sabe onde estão seus pais. Os pais não sabem onde estão seus filhos. A esposa espera pelo marido que não chega. A cunhada não sabe o que é o casamento. O escravo não sabe o que é a liberdade, mas nós sabemos que estamos vendo, já conformados por não estarmos vendo uma comédia, num teatro, escrita por Shakespeare.
Eis que vem o riso solto de quem caminha na rua e vê ou ouve algo que simplesmente lhe desperta a vontade de rir. Eis que entramos na história sem moldura de palco italiano, o conforto de cadeira de veludo também italiano e nos divertimos com um grupo de atores que, embora gaúchos e não italianos, estejam tão bem em suas performances. Eis que nos damos conta de que a pessoa de Shakespeare a quem, elitistas e intelectualóides que somos, nos gabávamos querer encontrar, morreu há séculos, mas o seu texto está vivo em rima e em verso, em ritmo e em imagem, em trama, em sentimento e em pensamento. E aí vem o resto.
A gente pode ter começado com a dúvida “eu sou quem eu sou?”, mas saímos com alguma certeza: não há o que destacar de “A Comédia dos Erros”, produção que faz parte dos 20 anos da Companhia Stravanza. Se for falar do figurino, há que se falar dos objetos e da maquiagem. Se da luz, teremos que falar do cenário, parte do qual somos, figurantes de um mercado em que nós mesmos podemos comprar. Se da trilha, seja a música de Monica Tomasi, ou da sonoplastia incidental, incluindo as vozes dos atores sem coxia que participam integralmente da história o tempo todo, teremos que falar das vozes dos atores. Se dos atores, somos obrigados a falar da direção de Adriane Mottola. Então, essa crítica se tornaria outro texto, cheio de tramas e honras, de detalhes e chatices. Por hora, convém apreciar os movimentos de Gustavo Curti e Rodrigo Mello, o deboxe de Lauro Ramalho, ele mesmo um personagem, os olhos de Carlos Alexandre, Sofia Salvatori e Janaina Pelizzon e todas as cores com que Anita Coronel, Kike Barbosa e Adelino Costa ajudam a pintar essa Comédia dos Erros, que, só é boa por não ter pensado em acertar nada além do alvo.
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Ficha Técnica:
Direção: Adriane Mottola
Tradução: Bárbara Heliodora
Elenco: Sofia Salvatori, Gustavo Curti, Carlos Alexandre, Lauro Ramalho, Fernando Kike Barbosa, Adelino Costa, Janaina Pelizzon e Anita Coronel
Iluminação: Fernando Ochôa.
Trilha sonora original: Mônica Tomasi.
Preparação corporal: Jezebel de Carli.
Preparação vocal: Gisela Habeyche.
Figurinos: Coca Serpa.
Cenário: Élcio Rossini.
Programação visual: Rodrigo Mello
4 Comentários:
Rodrigo,
Parabéns pela iniciativa ousada. Vá me frente!
Ellen
Parabéns e obrigada Ro!!!
Precisamos muito de gente que fale de nós!!!
Fico muito feliz em saber que tu tá escrevendo sobre nossos trabalhos...
Continua por muito e muito tá!!???
Bjo da amiga Fê
Olha, Rodrigo...
Acabei de ver a peça e adoreeei. Amei!
Conseguiste traduzir tudo que eu vi hoje à noite no teu texto. "Comédia dos Erros" me fez rir e refletir como nunca antes...
abraço!
Eu e minha esposa Carla ficamos encantados com a performance dos atores da comédia dos erros, em Passo Fundo - RS, aplausos e mais aplausos. Este grupo esta de parabéns, prazer aos meu olhos e ouvidos. Flavio Santos.
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